sábado, 22 de outubro de 2011

Revolucionários


Ontem, eu estava com espírito revolucionário. Pudera, ainda mais depois de ter tido uma aula sobre a ditadura militar, aquela que existiu aqui no período que foi de 1964-1985. Um período sangrento. E eu, particularmente não tenho uma professora de História comum: um assunto que era pra ser tão chato e tedioso se torna completamente envolvente, revoltante, e desperta a vontade de voltar no tempo, mesmo que fosse pra morrer durante a “Diretas Já”. Pelo menos comigo é assim. A minha professora desperta em mim muitas vezes a revolta sobre assuntos que eu nem sequer imaginava que um dia poderia dar importância. Às vezes ela me faz sentir vergonha até por não ter me interessado pelo assunto em questão antes... Ela consegue fazer isso: despertar o interesse, a revolta, a vergonha, a curiosidade, a empolgação, o debate, o orgulho (algumas vezes); tudo ao mesmo tempo, e isso tudo chamando a todos (todos são os alunos mesmo) de “seres híbridos”, “bárbaros selvagens”, “insetos”, “fracos”, e se estende por aí a coleção de “insultos” engraçados e que ninguém mais tem igual, de “Priscila, a rainha de um lugar chamado convencimento”, podendo este ser qualquer lugar, já que para este lugar existir só é preciso uma mente aberta, que tenha opinião, o mínimo de cultura e de intelecto, e claro, ouvidos atentos. Não posso falar pelos outros alunos, mas pra mim é dessa forma. Por mais que eu não mude as idéias que eu já tinha antes – pelo menos não completamente – eu consigo ao menos acrescentar novas, ou no mínimo considerar que existem outros lados, que os olhos humanos tão limitados não enxergam. Podem ter certeza que dessas e outras poucas aulas, são algumas das quais eu vou sentir muita falta.
Voltando ao assunto inicial, conversando com o meu avô nesse mesmo dia, ele me contou que uma vez foi protestar na rua junto com o povo, mas disse que foi a única vez pra nunca mais e em nenhuma outra encarnação... Isso é bem do meu avô, mas sendo revoltado do jeito que ele é, duvido muito que ele tenha se arrependido por completo. É, uma família de revoltados... Ele me disse que na época dez uma fogueira no fundo do quintal e queimou muita coisa que tinha em casa por causa da censura. Mas ninguém pôde tirar dele o que ele já sabia, porque já estava na mente dele. E graças a Deus a censura não consegue entrar na mente de ninguém. Então, por mais que meu avô tivesse queimado a fonte de conhecimento, no fundo ele não precisava mais dela, pois tudo o que ele precisava saber já estava com ele e para sempre estaria. Uma vez que um indivíduo tem concepções formadas sobre algo, é muito difícil de conseguir tirar isso dele, às vezes até mesmo impossível, dependendo da pessoa. (este foi outro assunto debatido essa semana, mas na aula de Filosofia. Porém, História e Filosofia ocorrem com a mesma professora, então não tem muita diferença em relação ao modo de ensino...)
Meu avô também me contou que foi amigo de um comandante da Aeronáutica, que foi demitido e preso, mas mesmo assim, nos interrogatórios, fazia toda questão de dizer a verdade, nada mais que a verdade. Não sei se ele tinha medo de morrer, mas me parece que não, pois tendo essa coragem toda de admitir coisas imperdoáveis para a censura, só mesmo sem nenhum medo da morte. A parte boa é que ele não morreu: depois que a ditadura acabou, foi solto. Teve sorte esse cara. Porém, muitas pessoas não tiveram.
As crueldades ao longo da história – não só do Brasil -, são inúmeras, mas o importante é que o povo tenha sempre a coragem de lutar contra a burguesia que está nos bastidores e que faz isso tudo acontecer, e contra os tiranos que de vez em quando nascem pra tentar tomar o mundo. Mas o mundo não é de ninguém, e não é controlado só por uma pessoa. O mundo é de todos nós, e nós somos controlados pela natureza, por nós mesmos e pelo o que mais permitimos que tenha a possibilidade de controle sobre nós.
Eu sou suspeita pra falar, porque sou apaixonada por História, e se tem uma coisa que eu detesto é gente querendo mandar em mim, querendo me travar e dizer como eu tenho que agir. E também não consigo ver uma coisa errada acontecendo bem na minha cara, comigo e com as pessoas à minha volta, e simplesmente fechar os olhos e fingir que não vi. Temos que lutar por nossos direitos!
Provavelmente se eu tivesse vivido na época de alguma ditadura teria morrido, e é por isso que eu digo que Deus sabe o que faz...
É, não tem jeito, vou ter mesmo que fazer faculdade de História em algum dia, devo isso a mim mesma...

2 comentários:

  1. Carooooool, ja pensou em escrever isso e dar pra tia Pri de presente? Acho que ela ia gostar muiito! Afinal, você é a vermelhinha dela! hahaha

    ResponderExcluir