quarta-feira, 29 de julho de 2015

Nuvem

Não é fácil escrever uma poesia do zero 
Essa manhã acordei querendo escrever alguma coisa 
Mas como sempre, meus pensamentos desesperados fazem com que as palavras fiquem embaçadas 
E eu não consigo me expressar. 
E é difícil, é difícil escrever uma poesia do zero 
Quando não está inspirado
Classificar um poema, me sentir plena 
Eu gosto pensar que tudo sempre pode ser melhor 
Mas às vezes me deixo levar pelo coração 
Que adora viver na minha boca. 

Acusações que vem e vão, durante toda a minha vida 
Ninguém sabe que prefiro ser um furacão que vive toda a vida que há pra viver 
Do que ser uma covarde bem agarrada à segurança 
Gosto de manter minha coragem bem viva
Gosto de acordar e sentir a esperança do dia 
Mesmo que minha própria cabeça seja minha maior tortura 
É bom me sentir viva.

Você não sabe, mas a maior parte dos seres humanos não são tão interessantes quanto pensam ser 
Nem eu, nem você 
(apenas viva)
Só o que podemos fazer é viver a vida que nos foi dada 
(apenas viva)
Não espere ser um grande sucesso 
(apenas viva) 
Espere apenas fazer valer seu sangue 
(apenas viva) 
Seja louco e atire-se 
(apenas viva)
Antes que se torne tão responsável e não consiga mais sentir 
A adrenalina dos ventos de mudança 
(apenas viva)
É isso que acalma a minha mente.

Eu apenas vivo. 


segunda-feira, 27 de julho de 2015

Avesso


Olho em volta procurando por um pouco de luz nas ruas 
Estou dentro de um ônibus apagado 
Na calada da noite
E me sinto como se estivesse andando por cacos de vidro 
Com pés descalços 
E sonhos esmagados.

Tudo o que foi dito e o que não foi dito 
Está voltando pra mim agora 
E eu sabia que iria voltar 
Sempre volta alguma hora.
E aqui estou eu, num ônibus apagado 
Indo ao encontro de tudo que um dia 
Espalhei por aí 
Como se não fosse nada 
Como se fosse natural ao ponto de meus olhos não conseguirem perceber.
Eu soltei e deixei a pista pra me encontrar
Então como poderia reclamar?

Não há mais nada agora 
Nem as estrelas, nem a lua, não há o conforto da noite ou a esperança dos dias 
Não há nem luz dos postes
Há apenas o que eu soltei por aí
E posso sentir, a cada mudança no vento pela janela desse ônibus 
Que me aproximo cada vez mais ao encontro daquilo que dei a vida um dia.

O mar está de ressaca 
Meus pés estão presos na areia 
O ônibus avança com tudo pra dentro dessas ondas revoltas
Não há nada que eu possa fazer. 
Estou fora e estou dentro 
E está vindo 
Tudo aquilo está voltando 
Arrastando meus pensamentos pra loucura
De conseguir encontrar qualquer luz por aqui...

terça-feira, 21 de julho de 2015

Binóculo



Eu às vezes tenho esses pensamentos que me vem repentinamente quando a vida acontece entre o esperado e o inesperado, e ninguém está prestando atenção. Eu os chamo de pensamentos aleatórios sobre o cotidiano. Aquelas coisas normais de todo dia que ninguém valoriza muito, aqueles pequenos momentos perdidos dentro dos grandes acontecimentos, que revelam muito sobre as pessoas à nossa volta e sobre como certas coisas são parte de um círculo vicioso. Manias, expressões, hábitos passados de geração em geração que ninguém nota, ou simplesmente não sabe explicar porque esses hábitos existem. Eu presto atenção nessas coisas, e assim, acabo conhecendo mais e mais minha família, nas coisas mais inconscientemente enraizadas, acabo conhecendo mais a mim e chego cada dia mais perto de saber sobre tudo o que sou capaz ou não de fazer e de sentir. 
Essas coisas aleatórias e imperceptíveis pros outros acabam tornando-se pra mim, pequenas certezas que viram pensamentos obsessivos e perseguidores em momentos de tédio; no meu banho, tarde da noite, quando estou na minha cama tentando dormir.
E a minha vida, nos momentos em que ninguém está olhando, nos momentos em que estou sozinha, nos momentos em que sou obrigada a me relacionar apenas comigo mesma e me encontro no meio de um auto julgamento por tantas coisas que eu fiz, ou nos momentos em que nada de interessante está acontecendo, minha vida acaba tornando-se uma prisão de pensamentos perseguidores e masoquistas. E é por isso que me sinto tão bem no desconhecido e mudanças me fazem tão bem: A adrenalina de não saber, me salva dos pensamentos causados pelas lacunas do cotidiano. 

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Chinelo

E agora eu uso o seu chinelo pra lavar o banheiro 
Pra tirar os restos do seu corpo do box 
Pra tirar sua pasta de dente grudada na pia 
Pra dar descarga em você 
Pra te limpar do espelho
Agora eu uso o seu chinelo.


Uso seu chinelo pois foi só o que você deixou pra trás 
E mesmo cabendo dois pés meus, estou usando 
Vou limpar a casa toda com ele 
Assar a sua torta favorita 
Comprar seu sorvete preferido 
E servir com aquela garrafa de vinho vagabundo de sempre 
Estou comprando o momento em que eu costumava gostar da gente.


Tem uma foto nossa em cima da mesa 
E uma garrafa vazia 
Tem chinelos nos meus pés 
Tem muitas coisas, menos eu.
Aqui tem muito mais de você do que de mim 
Aqui tem essas malditas lembranças que eu sei que jamais me deixarão em paz.


Você fez de propósito... 
Deixou seus chinelos pra trás pois sabe que eu sempre escrevo sobre tristeza 
Você queria isso, queria de alguma forma, estar escrito pela última vez

Como uma espécie de encarnação da minha mente 
Você queria deixar de ser abstrato para ser registrado 
Você queria que eu usasse seu chinelo
E você queria que eu escrevesse sobre isso...