quarta-feira, 27 de junho de 2012

Pensamentos de uma coruja

 

Acho que eu nunca vou me acostumar com a minha vida estranha. Talvez ela seja sempre estranha, talvez melhore eventualmente, mas sempre vai ter um pouco de esquisitice ao redor dela. E dentro também.
Eu sou uma coruja. Eu não consigo dormir cedo e sempre fico até certa hora da madrugada com os olhos abertos e a mente cheia. É quase como se eu funcionasse melhor no escuro. Eu sou uma coruja. Vejo coisas que ninguém mais vê e às vezes as pessoas veem coisas que eu não vejo ou coisas que eu não quero ver. Mas eu sei que não adianta fingir que não se vê os problemas, porque eles veem você sempre. E estão sempre à sua espera, não importa quanto tempo de espera seja. Em alguma hora, você vai acabar voltando pra eles, até finalmente resolvê-los.
Eu estou chocada. Chocada com muitas coisas, com muita gente, com o mundo e até um pouco chocada comigo também. Tem momentos que eu me pego pensando "WHAT THE HELL?" E penso assim mesmo, em letras maiúsculas, gritos na minha cabeça que me atormentam e me deixam surda. E o problema é que ninguém ignora gritos, todos procuram saber de onde vem, mesmo que seja uma procura rápida e temporária. E ultimamente eu tenho ouvido muitos gritos, de todos os tipos, de todas as pessoas e até mesmo gritos do passado. Num primeiro momento, eu quis ir lá, mexer naquela antiguidade, senti uma necessidade de fazer isso. Mas, quando estava sozinha no silêncio da madrugada e consegui pensar melhor, percebi que não quero desenterrar um pó. Sim, um pó, porque já se decompôs há muito tempo, não faz sentido mexer num pó. E além do mais, eu tenho alergia à poeira.
Acabei por perceber que às vezes temos que tentar ignorar certas coisas, por mais difíceis que sejam. Temos que ouvir o grito, ficar a par da situação, registrar a informação e depois enterrá-la e não fazer absolutamente nada. Absolutamente nada. Eu sou a favor a ajudar as pessoas, sou uma pessoa que adora fazer isso, mas quando o problema é obscuro demais, prefiro ignorar o grito, porque não quero me enfiar numa encrenca que não é minha. Quer dizer, antes de tentar resolver os problemas dos outros, tenho que tentar resolver os meus, não é mesmo? Portanto, a partir de hoje, estou completamente surda. Só vou tirar os tampões dos meus ouvidos quando tiver resolvido tudo o que é meu. Até lá, a coruja aqui não ouve nenhum grito, por mais alto que seja.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Salão



Elas falam sobre tudo, sobre todos, sobre tudo e todos. Elas gostam de gargalhar o mais alto que puderem e fazem tudo apenas com as duas mãos. Não é meio nojento uma delas colocar as mãos nas minhas sobrancelhas, quando a cinco minutos atrás estava com as mãos nos pés de alguém? Bom, eu não estou em posição de escolher, porque não sei fazer sobrancelhas. Mas eu posso dizer que sei o quanto isso dói.
Toda vez que eu venho num lugar como esse, acabo ficando familiarizada com todas as novelas e às vezes até passo a conhecer um novo artista. Também fico sabendo um pouquinho mais sobre as vidas delas, porque se existem mulheres sem vergonha de falar qualquer coisa pessoal na frente de todo mundo, em alto e bom som, são elas. Às vezes as revelações vêm acompanhadas de alguns erros de português também, mas ninguém é perfeito não é? E quem sou eu para julgar as pessoas? Todos nós precisamos desabafar ou simplesmente contar algo, à nossa própria maneira.
Toda vez que eu venho aqui, consigo me distanciar dos meus problemas e rir com os problemas delas, que na maioria das vezes não são exatamente problemas. Porque seriam? Elas são mulheres de meia idade trabalhando pra sustentarem-se, vivendo muito bem, ao ponto de serem gordinhas e de terem celulares legais, se virando muito bem sem homens, obrigada.
Algumas delas não são daqui, vieram de muito longe esperando resolver seus problemas, mas adivinhem: elas realmente resolveram os que tinham, mas arranjaram outros. A vida não pode ser perfeita, não é mesmo? E acho que é aí que está a graça. Sempre são confiadas a nós novas situações desafiadoras e acho que poderíamos até considerar isso como uma espécie de honra. Ou simplesmente tentar resolver os enigmas do destino, ou algo do tipo.
Eu sinto cheiro de acetona, tinta de cabelo, água oxigenada, esmalte e produtos capilares. Mas quem liga? Esse é o preço que se paga pela beleza e às vezes é mais caro do que gostaríamos. Porém, qual é a mulher que vai se largar acabada num canto? Só uma mulher que perdeu a paixão pela vida e por ela mesma. Se não cuidarmos de nós, ninguém vai, precisamos sempre nos amar. E, o problema não é ser grisalha, o problema é ter uma vida grisalha. Não deixe isso acontecer com você. E toda vez que sentir aquela vontade de se largar num canto, venha pra cá, porque essas mulheres que estão aqui sempre podem alegrar o seu dia, de alguma forma, você vai acabar sorrindo. Mesmo que seja um sorrisinho, bem pequenininho.

Move on, baby


 
"Por que as coisas são do jeito que são e não como deveriam ser?"
Eu passei muito tempo tentando encontrar uma resposta, pra conseguir te responder
Mas eu não conseguir achar, só consegui olhar pra tudo à minha volta, e questionar...
Questões sobre mim, questões sobre você, questões sobre tudo...
Questões sobre tudo aquilo que ninguém consegue entender.

Porém, hoje eu descobri que mais importante do que entender, é tentar fazer.
Tornar os sonhos possíveis,
converter tudo aquilo que é do jeito que é para o jeito que deveria ser.
Eu não entendo muita coisa,
mas sei que se quiser entender algo em algum dia,
preciso lançar as perguntas e correr atrás das respostas.
E como vou fazer isso?
Com o movimento.
Vou começar a fazer as coisas ao invés de esperar que os outros as façam por mim.
Vou fazer as coisas, e no meio desses resultados, as respostas vêm junto, como prêmios
imediatos.

Aconselho-te a mover-se.
Mover-se para a vida, mover-se para você.
Porque tudo tem muitos lados, a interpretação depende de qual lado você vê.
Por isso, não posso te explicar o que você não pode entender
porque eu penso diferente de você
vejo um lado que você não vê.
Mas se você quiser mudar de ângulo e passar a olhar para o que eu estou olhando
Vamos lá baby, eu estou com você.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Chorar

 
Você acorda e sorri: um novo dia começou e você tem a sorte de estar nele. Então levanta da cama, toma um banho, toma café, vai trabalhar ou explorar o mundo. E se você tiver bom gosto, vai fazer isso tudo ouvindo música, pois não há nada melhor do que música pra te fazer começar a falar de manhã. Principalmente se você é uma pessoa como eu, que quando acorda, parece mais um zumbi do que um ser humano e simplesmente não fala com ninguém, nem consigo mesmo.
 Você conhece lugares, tem uma grande ideia e a coloca em prática; tira muitas fotos de coisas, lugares e pessoas interessantes; é promovido no emprego, compra algo que há muito tempo queria, combina de fazer algo com seus amigos, ri com eles e põe todo o papo em dia. Talvez você até exerça seu espírito de caridade e ajude alguém durante o seu dia. O que importa mesmo, é que você tem uma vida muito agitada, bem sucedida, divertida, interessante e útil, então não tem muito tempo pra ficar triste ou se importar com coisas desnecessárias. Viver intensamente já consome todo o seu tempo.
 Você passa um tempo com a sua família, escreve um livro, compõe uma música, viaja pra Amsterdã e cai numa rave com tudo. Sem pensar, só dançar e ficar longe do pessoal que gosta de cheirar, fumar e injetar. Mas, uma bebidinha não faz mal.
 Conhece grandes e maravilhosos museus, faz mais planos pro ano que vem, passa numa prova importante, vai num show de rock pra comemorar, faz uma noite de pizza com seus amigos, tira uma onda com os poucos inimigos e brinca, se diverte, sempre com muitos sorrisos e nunca deixando transparecer a única coisa que entristece você.
 Você é autossuficiente e faz questão de repetir isso pra si mesmo todo o tempo, durante todo o dia. Mas essa repetição toda não é eficaz.
 Não é eficaz, porque se fosse você não deitaria na sua cama à noite e choraria até dormir. Você chora, chora de saudade de algo que nem sabe do que se trata, chora pela impossibilidade de ter aquilo que é a coisa mais importante na vida de uma pessoa, chora porque se sente uma pessoa pela metade, chora porque talvez nem mesmo agitadas cidades sejam o suficiente pra não te fazer pensar nisso, chora porque já não aguenta mais levar uma vida agitada, chora porque simplesmente quer parar com isso. Chora, porque a única coisa da qual você precisa é a mesma que você não tem.
 Você chora, porque não aguenta mais ficar sozinho. Chora porque não tem ninguém do outro lado da cama pra te fazer dar um sorriso. Chora porque você não ganha beijo de boa noite e nem simplesmente um olhar de boa noite. Chora porque você só queria ter alguém pra dividir a sua tão fabulosa vida, chora porque por esse alguém, você até abriria mão da sua fabulosa vida. O problema, é que não tem ninguém pra fazer isso. E por esse motivo, você chora.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Sentir

 Você se permite sentir? Sentir inteiramente, se entregar à emoção do momento, sem preocupações? Não existe metade de um sentimento, ele simplesmente existe ou não. É maravilhoso quando se é capaz de apreciar algo por completo, sem amarras, sem poréns, sem regras estúpidas, sem a preocupação com o que os outros vão falar ou pensar. Foda-se o que os outros vão pensar e falar. Enquanto eles estão falando ou pensando, você está vivendo, aproveitando. Todos nós somos guiados por regras impostas por pessoas que nós nem sabemos quem são. Isso acontece todos os dias, e deixamos isso controlar nossas vidas de uma maneira desproporcional. Por quê? Será que alguém faz alguma coisa só por sua própria vontade, só por um sentimento que quer colocar em prática? Poucas. E o pior, é que pensamos que fazer algo simplesmente por nossa vontade é só. E não é, é tudo.
Se você ama alguém, apenas ame-o e faça isso à maneira de vocês. Se você realmente quer fazer algo, seja ela simples ou complicada, arrume meios de fazer sem ligar para o que os outros vão pensar. Junte dinheiro, mande todos pro inferno, faça uma grande mudança. Mas saiba que nada vai acontecer se você não fizer nada. E só vai acontecer por sua vontade. Se você tem um grande sonho, que desperta as suas virtudes e defeitos mais profundos, mas que mesmo assim você não consiga deixar de lado, faça o impossível pra conseguir, porque quando se tem um sonho forte assim, só se fica com a alma satisfeita quando se chega lá. Do contrário, você será sempre uma pessoa esburacada. E isso não é só.
Se você tem raiva, descarregue, xingue alguém, dê socos na parede, chore e esperneie, coloque pra fora esse tipo de sentimento, antes que ele coloque você pra fora. Se você está triste, chore, escreva um poema triste, desabafe com alguém ou com o seu bicho de pelúcia. Apenas faça. Chorar pra dentro é muito pior, dói a garganta e essa dor pode durar pra sempre. Mas se for pra descarregar sentimentos negativos, se tranque no quarto e faça isso do seu jeito, no seu tempo. A última coisa de que se precisa quando está triste ou com raiva é de pessoas julgando, e quando estamos assim é o que mais aparece.
Se você está feliz, sorria, faça coisas divertidas, diga coisas legais e engraçadas, brinque, dance, viaje, gargalhe, faça sexo, conte piadas, ajude alguém, abrace, beije e tire fotos patéticas. Festeje a sua felicidade e a sua capacidade de apreciá-la. Sinta. Sinta tudo e um pouco mais. Sinta liberdade, sinta revolta, sinta desejo de mudança, sinta-se abençoado, sinta calma e agitação, sinta excitação. Sinta tudo, não deixe ninguém te podar, porque você não é uma árvore para ser podada. Mas se for para podar-se, que seja você a única pessoa a fazer isso. 
Faça caretas em frente ao espelho, faça coisas que irão te fazer lembrar desses momentos para sempre, diga coisas idiotas, mude de opinião e de sentimentos. Somos todos camaleões e temos todo o direito de nos divertir, aprender e viver! Seja com 18 ou 60 anos.
E, se mesmo depois de ler tudo isso, você não estiver convencido, ouça "One Good Man" da Janis Joplin. Essa música é capaz de despertar uma pessoa. 
Talvez esta tenha sido uma mulher que pecou por excesso, mas pelo menos nunca teve que abrir mão do que queria por causa de coisas ou pessoas. O problema dela foi não saber onde termina "viver intensamente" e onde começa "autopreservação". Porque sim, há uma grande diferença. E é pra isso que o livre-arbítrio existe, para que de certa forma, possamos escolher o que queremos sentir, porque cada escolha resulta num sentimento. E eu escolho sentir e não só isso.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Juntos

 
 Não posso explicar como sou capaz de ver o que vejo
É como uma música que não sai da minha cabeça, é como o brilho de uma estrela.
Por mais que eu queira sair, eu sempre volto.
Cada pedaço foi jogado para diferentes lados
Mas estão desenterrados, então fazem sentido pra mim mesmo separados.
Não é preciso quebrar a cabeça tentando juntar
Eles já estão conectados
Está fora do meu alcance não os enxergar.

Eu corri por tanto tempo
Tanto medo, tanto sofrimento
Mil quilômetros até o precipício
pra descobrir que na verdade, o que eu sempre temi não é um tormento.

E agora que eu estou de cara com o buraco
Prefiro me jogar a morrer sem tentar
Só posso me jogar e torcer pra conseguir voar.
Mas por favor, não me deixe aqui sozinha.
É tão tentador pra você me deixar, eu sei
Mas tudo seria tão mais fácil se você se jogasse comigo
Não vou te pedir isso, só espero que você faça.
Teve uma época em que eu fui quem você precisava
Agora eu te peço que você seja quem eu preciso,
por favor, fique comigo
Vamos voar até o infinito.

Nossas vidas estão unidas
Não são uma só, estão apenas entrelaçadas
Juntas dentro dessa mesma jornada
Juntas nesse amor de loucuras, uma febre sem remédio
Todo esse fogo que queima
Tanto mistério, juntos temos tanta força,
somos capazes de demolir prédios.

Vamos nos jogar nesse precipício
Vamos correr todos os riscos que ser feliz oferece
Vamos embora, vamos viver isso agora
Vamos voar, sem mais minutos ou horas
Vamos delirar, mesmo que seja breve
Vamos descobrir o que podemos fazer de nossas vidas
Felicidade sem cobranças
Apenas pular num mar de possibilidades e esperanças
Vamos viver isso agora.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Diário

 
Me peguei pensando hoje que eu não escrevo mais em um diário como antes... Quer dizer, como fiz a vida toda. Sempre gostei disso, mas um dia simplesmente passei a odiar o compromisso de ter que escrever algo todos os dias, mesmo que eu não tivesse nada pra falar... Porque eu achava estranho deixar uma distância enorme entre os dias quando não tinha nada pra escrever, então simplesmente parei de escrever diários... E ficaram apenas os poemas, crônicas, pensamentos, contos, e o que mais eu quisesse escrever. Mas hoje, me peguei pensando que eu não escrevo mais um diário como antes e talvez seja melhor voltar a fazer isso, antes que eu exploda, porque eu ando meio lotada demais de palavras. Sabe, na minha fase trash, essa era a única coisa que me fazia sentir melhor. Na minha fase “rebelde além da conta”, essa era a única coisa que me trazia a sensação de compreensão... É meio estranho, já que tecnicamente eu estou falando algo pra mim mesma... Mas, como eu ouvi uma vez, mesmo quando você escreve diários, no fundo tem a esperança de que um dia alguém leia e te ache interessante, ou no mínimo te ache louca demais e continue lendo por querer saber como acaba a história... hahahaha Um dia eu quero achar o diário de alguém. Mas não sei se teria coragem de ler... Quer dizer, se fosse algum diário perdido e antigo e já finalizado, talvez eu lesse sim... Eu não  me importaria se lessem um diário meu antigo, afinal, nada mais daquilo tem a ver comigo... Mas se lessem um diário atual (caso eu tivesse um), eu iria ficar com muita raiva.
Meu primeiro diário foi aos 7 anos de idade. Eu ganhei de uma tia. Era um diário pequenininho, do Snoopy, que se eu usasse hoje em dia, acabaria com ele em dois dias... hahahahaha Eu sou a maníaca das palavras. E sabe o que é estranho? Toda vez que eu começava um diário novo, começava sempre do mesmo jeito: "Meu nome é Carolina... Tenho tantos anos... Nasci em tal lugar... Meus pais são separados... Eu amo tal artista musical... Eu adoro me maquiar... Minhas melhores amigas são... Meu livro favorito é... Eu odeio tal pessoa... Meu endereço é tal... Meu telefone é outro... Meu signo é Touro..." E por aí vai. Sempre começava mais ou menos assim. Ou então, começava contando sobre os primórdios da minha existência: como meus pais foram malucos de terem se casado em dois meses de namoro e que talvez seja por causa disso que eles se separaram... Falava também muito dos meus irmãos, sempre fui muito apegada a eles... Falava sobre garotos que eu era apaixonada ou supostamente interessada, ou simplesmente falava mal dos ex mesmo... hahahahaha Isso é mais a minha cara. Meus amigos, meus dias na escola, quantos filhos eu iria ter... Depois que eu fui crescendo, os assuntos mudaram, mas no fundo eram passados nos mesmos locais. É engraçado como somos capazes de mudar tanto, hoje em dia eu nem sei mais se vou ter filhos, e na infância dizia que iria ter três. Também não sei mais se eu vou casar, e se casar, tenho quase total certeza de que não vou ficar casada com a mesma pessoa a vida toda... Como eu mudei.
Naquela época eu fazia isso, escrevia diários e isso me confortava, mas hoje em dia, não sei se seria o suficiente pra me confortar e nem se teria a ver comigo. Provavelmente não mais. Não me vejo mais fazendo isso. De vez em quando, quando vou na casa da minha mãe, ainda pego alguns e leio, e fico rindo da minha cara... Deus, como eu era retardada... Ainda sou um pouco, mas de uma maneira diferente...
Algumas características nunca morrem, e pra mim, são elas que formam a nossa essência. Eu já quis me desfazer de todos os meus papéis, um milhão de vezes, simplesmente me livrar de toda aquela tralha velha, mas simplesmente não consigo, sou apegada aquela tralha velha, não sei porque... Assim como eu posso dizer que eu nunca vou parar de escrever, seja como for.
Acho que no final, isso aqui acabou se tornando uma página de diário perdida...

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Promessas de um dia de chuva

 
Hoje, eu prometo que não vou mais fazer caras e bocas no espelho do elevador.
Hoje, eu prometo que não vou mais imaginar histórias para as músicas.
Hoje, eu prometo que vou me tornar uma pessoa normal e não ficar feliz quando estiver chovendo.
Hoje, eu prometo que eu vou parar de expressar minhas opiniões pra quem eu conheço e pra quem eu não conheço, porque a verdade é que ninguém está interessado, se estivessem, perguntariam. 
Hoje, eu prometo que vou passar a controlar meu estresse e toda vez que pensar em socar a cara de um, vou pensar em pôneis e arco-íris.
Hoje, eu prometo que finalmente vou começar a fazer o que me mandam fazer, ao invés de analisar as situações e fazer como eu acho melhor, porque eu sempre acabo sendo tachada de teimosa por causa disso.
Hoje, eu prometo que vou mandar o foda-se pro futuro e essa palhaçada toda de ter que dar um rumo na minha vida e blá blá blá.
Hoje, prometo que vou parar de me preocupar com as pessoas à minha volta, mais até do que elas se preocupam com elas mesmas.
Hoje, eu prometo que vou comer chocolate e não vou me culpar depois e nem contar as calorias.
Hoje, eu prometo que não vou me deixar controlar pela minha TPM, vou ser a minha única dona.
Hoje, eu prometo que não vou atender o telefone, vou simplesmente me isolar de todos os sermões e lições de moral e pessoas me procurando para desabafar. Eu não quero saber, hoje não.
Hoje, eu prometo que eu vou fazer merda nenhuma, mesmo que tenha uma prova na terça-feira. My lazy day.
Hoje, eu prometo que não vou baixar seriados da internet, não vou mais ser previsível dessa forma. E simplesmente não vou rir com "New Girl". No way.
Hoje, eu prometo que vou parar de dançar na frente dos espelhos quando ninguém estiver olhando.
Hoje, eu prometo que não vou procurar cravos e espinhas pra espremer.
Hoje, eu prometo que não vou falar sobre como eu adoro café, música, filmes e livros.
Hoje, eu prometo que já está bom de promessas.

Hoje, eu prometo isso tudo mesmo, mas assim que o relógio marcar meia-noite, essa folha será queimada.

domingo, 10 de junho de 2012

Achamos que sabemos




Outro dia assisti a um filme no DVD do qual nunca tinha ouvido falar – talvez porque nem chegou a passar nos cinemas. Chama-se Vida de Casado, um drama enxuto, com apenas 90 minutos de duração e jeito de clássico. Gostei bastante. Um homem casado há muitos anos se apaixona por uma bela garota e com ela quer viver, mas não sabe como terminar seu casamento sem que isso humilhe sua venerável esposa, então decide que é melhor matá-la para que ela não sofra: não é uma solução amorosa? Não tem o brilhantismo de um Woody Allen, mas o roteiro possui certo parentesco com Crimes e Pecados. Se fosse possível resumir o filme numa única frase, seria: “Ninguém sabe o que está se passando pela cabeça da pessoa que está dormindo ao nosso lado”.
Será que nós sabemos, de verdade, o que acontece à nossa volta? Achamos que sabemos.

Achamos que sabemos quais são as ambições de nossos filhos, o que eles planejam para suas vidas, esquecendo que a complexidade humana também é atributo dos que nasceram do nosso ventre, e que por mais íntimos e abertos que eles sejam conosco, jamais teremos noção exata de seus desejos mais secretos.

Achamos que sabemos o que o amor da nossa vida sente por nós, baseados em suas declarações afetuosas, seus olhares ternos, suas gentilezas intermináveis e sua permanência, mas isso diz tudo mesmo? Nem sempre temos conhecimento das carências mais profundas daquele que vive sob o nosso teto, e não porque ele esteja sonegando alguns de seus sentimentos, mas porque nem ele consegue explicar para si mesmo o que lhe dói e o que ainda lhe falta.
Achamos que sabemos quais são as melhores escolhas para nossa vida, e é verdade que alguma intuição temos mesmo, mas certeza, nenhuma. Achamos que sabemos como será envelhecer, como será ter consciência de que se está vivendo os últimos anos que nos restam, como será perder a rigidez e a saúde do corpo, achamos que sabemos como se deve enfrentar tudo isso, mas que susto levaremos quando chegar a hora.

Achamos que sabemos o que pensam as pessoas que conversam conosco e que até nos fazem confidências, aceitamos cada palavra dita e nos sentimos honrados pelas informações recebidas, sem levar em conta que muito do que está sendo dito pode ser da boca pra fora, uma encenação que pretende justamente mascarar a verdade, aquela verdade que só sobrevive no silêncio de cada um.
Achamos que sabemos decodificar sinais, perceber humores, adivinhar pensamentos, e às vezes acertamos, mas erramos tanto. Achamos que sabemos o que as pessoas pensam de nós. Achamos que sabemos amar, achamos que sabemos conviver e achamos que sabemos quem de fato somos, até que somos pegos de surpresa por nossas próprias reações.

Achar é o mais longe que podemos ir nesse universo repleto de segredos, sussurros, incompreensões, traumas, sombras, urgências, saudades, desordens emocionais, sentimentos velados, todas essas abstrações que não podemos tocar, pegar nem compreender com exatidão. Mas nos conforta achar que sabemos.
                                                                                                 Martha Medeiros

sábado, 9 de junho de 2012

Tempo

 De vez em quando, aquela menina que dançava no meio da rua aparece, só pra dar um "oi", só pra ver como é que estão as coisas. Mas depois, ela vai embora, volta pro lugar dela, sua cidade natal, que se chama Passado.
 De vez em quando as lembranças ficam um pouco insuportáveis demais, querendo tomar conta, querendo estabelecer mais do que contato, querendo estabelecer permanência. Mas elas estão no passado, não podem fazer parte do presente. E é por esse e outros motivos, que eu as mando para onde nunca deveriam ter saído, por mais tentador que seja deixá-las ficar. O lugar delas não é aqui, é naquele planeta bem grande chamado Passado.
 Não sei como esses elementos conseguem passe pra andar livremente por aqui, mas eles conseguem. Não deveria ser assim, é o tipo de coisa que desequilibra a natureza, é o tipo de coisa que causa catástrofes, é o tipo de coisa abominável. E é por isso que eu sempre mando esses elementos malditos pro lugar de onde nunca deveriam ter saído, o Passado. Não importa o quão difícil seja eu sempre consigo. E ainda bem que eu tenho alguns elementos que me ajudam a fazer isso, eu conto com eles nessas horas críticas, em que esses demônios vem querer perturbar por aqui. São os elementos do Presente que me ajudam sempre. É esse país maravilhoso em que eu vivo agora que me dá todo apoio possível pra expulsar os demônios. Eu amo meu país, meu doce Presente.
 O que foi, foi. Ficou lá, enterrado, não precisamos mexer.
 O que está sendo está aqui, agora, nem precisamos mexer, porque eles já se encarregam de mexer com a gente.
 O que será, será na hora certa, será daqui a um minuto, daqui à uma hora, daqui a um mês, daqui a dez anos. Não precisamos querer antecipar também, porque eles sempre sabem a hora certa de chegar.
 Eu nasci no Passado e vivi um pouco por lá; atualmente moro no Presente, mas estou caminhando para o Futuro, uma caminhada longa, uma caminhada inevitável, uma caminhada que traz esperanças, só pelo fato de você não ter escolha de ir ou não. Você sempre vai, não existe a possibilidade de não ir. E eu acredito que se somos obrigados a ir, não deve ser algo ruim. O elemento que manda nos outros três, sempre sabe o que faz, o problema é que os seres humanos são desconfiados demais, teimosos demais, por isso são obrigados nessa parte. E eu confio totalmente no chefe. Ele é meu chefe, seu chefe, chefe de todos. E todos sabem muito bem seu nome, é impossível de esquecer.
 E é pela minha vida pertencer totalmente ao Tempo que eu sou leal e confio totalmente nele. E eu sei que tudo vai dar certo.


sexta-feira, 8 de junho de 2012

O som daquela flauta

O som daquela flauta me dava esperança
 Esperança de que um dia as coisas finalmente pudessem se encaixar
 No fundo, eu só queria que todas as lágrimas pudessem secar
 Queria ser quem eu era por dentro, mesmo sem saber ao certo quem eu era
 Eu queria ser amada, não queria mais que houvesse sofrimento.


Aquela flauta era o meu alento
 Ela me trazia paz, me privava de alguns aborrecimentos
 Aquela flauta era a minha válvula de escape
 Escape de uma vida onde nada era o que parecia
 Uma vida feita de desgastes.


Mas, em um minuto, aquela flauta se foi
 Assim como a minha infância.
 Talvez ela nunca tenha estado realmente aqui
 Talvez eu a desejasse tanto, que ela quase parecia real.
 Talvez a flauta fosse algo que não me deixava perceber isso
 Ela me dava a bênção da ignorância.
 Porém, seu som se foi...
 Assim como a minha infância...


O tempo levou a minha flauta
 junto com as minhas risadas de criança.
 E desde o dia que ela se foi,
 nunca mais tive a mesma esperança...