segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Sussurro

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Nasci no mar, onde tem sol (quase) todo dia...
A terra das montanhas tropicais, da desigualdade e da natureza urbanamente agressiva.
Cresci sob o vento abafado, ao redor de sussurros, exatamente como faço agora
Cresci ao redor de palavras ditas por olhos assustados...
Sou filha da ansiedade.

Me disseram que no dia em que nasci, tentei levantar a cabeça
que fiquei toda vermelha, parecia que ia explodir.
E agora ando de cabeça baixa, tentando evitar tropeços em calçadas irregulares
Me conectando bem as sensações que podem significar uma faca nas costas.
Já levei algumas. 
Sobrevivi, é verdade.
Porque isso é o que faço.

Vivo sozinha, tentando arrumar minha própria bagunça,
tentando tirar os pés das mãos.
E você perdeu tudo
sempre.
Não se ofenda. 
Minha vida é feita de constatações e sentimentos que mudam toda hora.

E é fato que você estava lá
Mas depois não estava mais, e nunca mais esteve de novo. 
É fato que o tempo foi roubado, mas você nunca tentou recuperar.
E você não me conhece.
Não sabe que sou solitária porque tive que me adaptar,
não sabe que penso todo dia sobre todas as coisas que você pensa que eu não penso mais.
Mas eu penso. 
Muito.
Pois o mar deveria estar de ressaca no dia em que nasci. 

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Despertar

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Que entre o sol por essas janelas,
Pois já não controlo nada.
Nunca controlei, na verdade. 
Mas houve um tempo da minha vida em que pensei 
que só não estaria mais em minhas mãos,
Quando me juntasse aos vermes.
Mas agora eu sei.
Não há nada entre o desejo e o controle
se não o acaso.
Meus efeitos já não fazem mais efeito
E eu cansei de brigar.

(Quando escrevo, escrevo meu coração do lado de fora 
E não tenho pretensão de ser arte
E se acabar sendo, bem... Acaso.
Sentimentos não foram feitos para serem analisados 
É um momento que pode não durar nada
E às vezes perdura a eternidade.)

Minhas fugas foram causadas 
Mas se cheguei em tantos lugares, é porque fui implantada 
por desejos.
Sinto todo o peso que a vida que eu tive poderia me fazer sentir.
Mas ainda entro por portas entreabertas,
subo na cama e parasito
O corpo alheio.
Ainda pulo janelas e desapareço
Eu ainda sou descontrolada 
pois preciso de mais.

Eu quero ser virada do avesso
E quero carne.
Quero entrar pela porta entreaberta
E desaparecer pela janela depois.
Mas eu não controlo quando, nem onde 
Pois sou fruto do acaso
E inevitavelmente acordo de manhã 
Na cama que parasitei quando ninguém estava olhando.
E eu sinto o sol entrando por essas janelas...




terça-feira, 18 de outubro de 2016

10° dia

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Hoje, acordei mais cedo do que meu cérebro é capaz de suportar. 
Não dormi no ônibus, pois não conseguia relaxar sem meu colar no pescoço... Após anos usando algo 24/7, isso simplesmente torna-se parte do seu corpo. Andei procurando lugares, procurando respostas. Senti minha pele exposta, queimando sob o sol... Não tenho melanina, mas tenho sardas que carregam história. 
Nesses dias tenho andado assim, automaticamente sem propósito. Parece que estou a ponto de desligar, num minuto posso nem estar mais aqui. 
Dizem que a solidão faz isso com as pessoas. 
Eu sempre respondo que estou acostumada a ser sozinha, mas em tempos como esses, começo a me perguntar se isso é realmente verdade ou se digo tentando convencer a mim mesma. 
Não que eu não goste do meu tempo, pois eu preciso desse tempo. Mas isso não quer dizer que não preciso conversar olhando nos olhos. 
E enquanto meu suor pingava, enquanto os pássaros voavam acima de mim, carros passavam, e as pessoas corriam sem olhar nos olhos, percebi que estou vazia, completamente oca.
Mas não é o vazio que me preocupa, mas sim o que irá preenchê-lo futuramente. 
Às vezes eu acho que perdi minha identidade. Escondi, ou perdi de propósito... Joguei pela janela e não olhei pra trás. Outras vezes penso que talvez essa seja a minha real identidade e não o que costumo mostrar por aí. 
Mas a verdade é que estou cansada. 
Cansada de ter que ser sempre responsável, contando as moedas, deixando de viver. 
Depois que rompi o contrato, fui até um salão fazer minhas unhas. Passei o dia todo engolindo o choro e continuo fazendo isso, pois eu sei que se começar, será muito difícil de parar. E não quero responder perguntas. Pensei que me sentiria melhor se dedicasse um tempo a mim. Mas saí do salão me sentindo da mesma forma, só que dessa vez, com unhas vermelhas bem feitas. 
E essa coisa não passa. Simplesmente voltou e não quer mais ir embora. Esses são tempos sombrios, onde me sinto uma bosta. Esses tempos acontecem de vez em quando, e não é nada bonito... Só o que me resta é tomar muitos banhos gelados, respirar fundo, chorar, dormir, e esperar passar... 
Eu sei que eventualmente não estará mais aqui. 

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Super Lua

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Hoje, eu apaguei todas as luzes da casa 
E sentei nos fundos.
Esperei que a luz da Lua penetrasse por meu óculos, e chegasse nos meus olhos míopes 
Esperei que pudesse reconhecer em minha alma, que sou grata 
Por estar viva, testemunhando seu brilho.

Posso sentir sua energia 
Influenciando as marés à minha volta,
Produzindo melancolia. 
Produzindo também, vida.
Pois estou aqui, essa noite, nos fundos da minha casa 
Sendo apenas admiradora.

Esse suor é só daqui 
Esse mormaço, esse calor exagerado 
É do Rio, sei que nunca sentirei isso em outro lugar.
É dessa Ilha em que nasci, 
É dessa Ilha... Voltei tantos anos depois.
É aqui, embaixo do mundo, que sinto o suor escorrer lentamente sob minha pele 
Bem quando acabei de sair do banho. 
É só aqui que aguento os mosquitos no escuro 
Apenas para sentir o brilho da Lua.

E estou cansada.
Me sinto sem energia para pensar no próximo passo 
Parece que já vivi mais de mil vidas nessa vida 
Parece que já vi mais de um século por esses olhos 
Parece que já senti um milhão de sensações por essa pele... 
Abraços, gritos, sorrisos, pernas entrelaçadas, tantas lágrimas, carinho, sonhos, êxtase, chão, palavras.
Saudade.

Tanta saudade que nem cabe em mim.
E essa mesma Lua, testemunhou isso tudo.
Posso sentir, sentada aqui, nos fundos da minha casa, com as luzes apagadas. 
Posso sentir pelo suor que escorre por minha pele. 
Posso sentir tudo.  

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Ruminante

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É aquela época do ano de novo, onde os dias são insuportavelmente quentes, e as noites me lembram minha infância. 
É aquela época do ano, onde lavo meu cabelo num banho gelado, e nem chego perto do secador depois.
Aquela época do ano, onde eu me pergunto "Qual o próximo passo?", enquanto observo a lâmpada da minha cozinha, cheia de insetos de Verão.
Aquela época da minha vida onde me sinto levemente perdida, onde me sinto levemente desesperada, e levemente empolgada pela adrenalina. 
É essa época, de novo.
É nessa época que sinto uma necessidade ainda maior de estar sozinha, de ruminar as coisas, de planejar planos que deixarei de lado depois. 
Mas é nessa época também que nascem os planos que dão certo.
No meu mapa astral, já é outro ano.
Pra mim, cada mês é como se fosse um ano inteiro.
É nessa época que me concentro mais na minha caneca de café, no meu copo de açaí, no teto do meu quarto, nos meus cadernos rabiscados. 
E essa época acontece na minha vida, ocasionalmente, toda vez que eu penso que tenho o controle da situação. 
É nessa época em que me lembro que sou apenas humana. 
E é nessa época em que me lembro de fechar os olhos, só um pouco mais. 
E deixar a cortina aberta, pro vento entrar. 

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Quando chove

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Quando chove, 
A vida se disfarça em gotas 
Que às vezes caem delicadas 
Outras vezes dão medo.

Quando chove, 
Não há dinheiro no mundo que compre a paz 
De estar no quente da minha cama, escutando a vida caindo lá fora.

Quando chove, 
Eu agradeço.
Quando chove, 
Eu penso sobre como tenho sorte 
E como aprendi sobre a vida 
Através da chuva que não podemos controlar.

É a vida, 
Quando chove, 
Quando amanhece, 
Quando brilha, 
Quando escurece, 
Quando chuvisca, 
Quando um dilúvio acontece.

É a vida, 
No tempo anunciando mudanças, 
No tempo das rotinas bem vindas.
Não podemos controlar nada,
Muito menos, 
Quando chove.