quarta-feira, 30 de maio de 2012

Meu cigarro

Quando eu olho pra você, não vejo nada
Quando você me olha, sabe que eu sou louca
Preciso de adrenalina 24 horas por dia, sou uma viciada.

Quando eu paro pra pensar em você, sei que você é um total vazio
Só sabe me julgar e falar
Porque você não levanta a bunda da cadeira e vai fazer o que sempre diz que vai?
Porque eu estou esperando há muito tempo esse dia chegar.
Será que você consegue ficar sem tentar me controlar?
Será que você consegue olhar pro seu cigarro em vez de olhar pro meu?
Porque a minha fumaça, passeia pelo ar
Mas a sua só sabe andar em círculos.

Você sempre tenta, mas não vai conseguir me controlar.
Eu não vou dar ouvidos pros seus julgamentos ridículos.
Eu vou fazer o que eu quero fazer, porque essa é a minha vez
Eu vou andar em vez de falar, porque eu ganhei esse direito,
Não tenho mais 17.
Não preciso que você me deseje sorte.
Se você tentar me impedir, vai ter um contato desagradável com a morte.

Pare de olhar pro meu cigarro, aceite que não é mais você quem paga.
Não quero mais ouvir você falar,
vou jogar meu cigarro em você, espero que você finalmente possa queimar
e apenas pó virar.

A minha vida é minha, aceite de uma vez.
Me deixe em paz, não me obrigue a me tornar uma assassina.
Pare de olhar pro meu cigarro!
Só por hoje, seja um pouco menos ordinário!
Eu estou no controle agora e ninguém vai me impedir de realizar os meus sonhos
Vou explodir você se eu precisar, otário!
Não fique no meu caminho, não queira sentir o sabor do meu ódio.
Saia da minha frente, posso fazer você virar pó num instante.
Você não controla mais a minha mente.
Portanto, sinta o cheiro do meu cigarro pela última vez
e vá para onde te aguentem.


Vaidade


Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!
Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!
Sonho que sou Alguém cá neste mundo ...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!
E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho ... E não sou nada! ...


 Florbela Espanca

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Tudo o que nós temos que dizer

Diga que eu não sou fácil
Diga o quanto você se esforça pra me agradar
Diga que eu adoro dificultar
Diga que você não sabe mais o que fazer pra me fazer acreditar.
E depois de dizer isso tudo, diga de novo.
Para que eu possa gravar.

Eu vou te dizer que eu não sei mais em quem confiar
E vou te dizer o quanto eu gosto de tudo o que você faz pra me agradar
Vou dizer que eu não costumava ser tão difícil assim
E vou dizer que eu tenho medo de acreditar, porque estou farta de me magoar.
E depois que eu tiver dito isso tudo, não precisarei dizer novamente.
Porque no fundo, você já saberia de cada uma dessas coisas, lá no fundo da sua mente.

Nós poderemos dizer que queremos tentar
Nós vamos dizer que daremos uma chance pra isso.
Você vai dizer que só quer me fazer feliz
E eu vou dizer que você já faz.
Depois disso, não falaremos mais
Vamos nos beijar e deixar isso finalmente começar
Vamos colocar em prática todos os nossos planos
E talvez, no meio disso tudo, poderemos dizer "eu te amo".

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Dias não tão idiotas assim


Acho que foi no ano passado que eu escrevi um texto sobre dias. Sabe, "Dia Nacional de sei lá do quê", "Dia do Café"... Esses dias assim, meio idiotas. No texto eu dizia que todo dia é dia de tudo. Todo dia é Dia do Beijo, todo dia é Dia do Amigo, todo dia é Dia das Mães... Eu ainda penso mais ou menos dessa forma, mas agora já estou um pouco mais conformada com o fato do mundo inventar dias idiotas pra ganhar e gastar dinheiro com vendas de presentes. O mundo é assim mesmo, precisa girar.
Mas hoje me peguei pensando, que deixar de comemorar um desses dias especiais (como o Dia das Mães, o Dia dos Pais, o Dia da Mulher, o Dia do Amigo...) seria o mesmo que deixar de comemorar um aniversário. Sem graça e inadmissível. Não estou falando de festa de gala, só estou falando de um reconhecimento suficiente pra guardar na memória. Comer uma pizza, almoçar com a família, sair pra qualquer lugar que se goste... Já são formas de aproveitar essas datas especiais. No caso do Dia das Mães e no Dia dos Pais, por exemplo, aí sim eu concordo em dar presente, mas em outros dias, como por exemplo, o Dia Casual (sim, existe isso! É um dia inventado pros engravatados irem mais informais pro trabalho... Olha que coisa estranha... Geralmente, o Casual Day é numa sexta-feira), são dias para serem comemorados internamente. Só pra você sorrir em reconhecimento por um dia como esse. E só.
Dei-me conta de que, já que existem tantos dias inúteis como esses, porque ninguém inventou o Dia da Mudança? Eu sei que todo dia é dia de fazer uma mudança e talvez seja por esse motivo que não existe uma data certa pra se comemorar, mas porque não um dia pra homenagear um gesto tão corajoso e evolutivo como uma mudança? Deveria sim existir o Dia da Mudança.
Mas, pensando melhor, acho que seria meio complicado pra mim comemorar um dia como esse em apenas uma data. Porque eu sou a verdadeira viciada em mudanças. Eu odeio rotina. Se as coisas ficam paralisadas por muito tempo, eu começo a ficar meio deprimida... Eu sou uma pessoa de movimento (apesar de eu ser um pouco preguiçosa... Mas nesse caso, me refiro a outro tipo de movimento), de ações e de giros de 360°. Eu adoro isso. Adoro os riscos, porque os riscos me acrescentam emoções e tantos sentimentos e experiências novas. É algo maravilhoso. Existem coisas que são permanentes e tem que ser mesmo, pelo bem de todos, mas existem outras que pedem para serem metamorfoseadas, e são justamente essas as coisas que estão sempre girando em minhas mãos. E quando eu não sei um jeito de girá-las, vou procurar. Faço uma bagunça, fuço tudo, mas depois arrumo tudo de um jeito novo que faz tudo valer à pena.
Se existisse um Dia da Mudança, eu iria gostar. É o tipo de dia que não é tão idiota assim.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Vivendo o presente, prevendo o futuro



Estou andando pelas calçadas dessas ruas de lugar nenhum. Ninguém me reconhece, ninguém sabe quem eu sou, ninguém me vê. Eu estou camuflada. Andando pela multidão com minhas gastas sapatilhas pretas, com os fones nos ouvidos, ouvindo músicas que me fazem pensar, viajar ou querer dançar. Viva o anonimato! Viva a liberdade de ir e vir sem ter que dar satisfação ou explicações! Se eu soubesse que esta vida seria tão simples assim, teria nascido antes.

Eu gosto de andar e permanecer desconhecida. Por enquanto. Eu gosto de poder me esconder em plena luz do dia. Eu gosto de fotografar as imagens especiais que aparecem na minha frente, sem ter que ter motivos pra fazer isso. Nenhum motivo maior do que a minha vontade. Existe um motivo mais forte do que esse? Somos racionais, mas esquecemos de que somos animais também e que em muitas vezes o instinto nos controla. Eu tenho orgulho de dizer que sou racional, mas que escolhi ser indomada por livre e espontânea vontade. E por respeito a alguns instintos que eu tenho aqui dentro.
Mesmo amando toda essa sensação de ser anônima, sou obrigada a admitir que não quero ser anônima durante todo o tempo. Só tem um momento em que eu quero ser tão visível e clara como luzes de neon, e este momento, será quando você passar por mim na calçada em algum dia, em algum país qualquer, em uma rua qualquer. Eu quero que você me veja e que acabe com a minha espera, porque eu estou esperando por você há muito tempo. Vou sempre esperar. Porque algo dentro de mim diz que se está demorando tanto, é porque com toda certeza desse mundo, vai ser um encontro extraordinário e mais do que especial. E momentos grandiosos precisam de tempo para serem preparados. São muitos detalhes pra cuidar. Mas não importa quanto tempo leve toda essa preparação, porque sempre chega o dia da inauguração.
Tenho certeza que no dia em que você me ver, por um acaso não tão ocasional assim, eu vou estar com os fones nos ouvidos ouvindo “The dog days are over”. E será nessa hora em que nos olharemos bem fundo nos olhos e então nada mais será igual. 

sábado, 19 de maio de 2012

He need to take a rest



Certas coisas eu sou obrigada a ignorar. Acredito em Deus e em algumas outras coisas, mas não sou nenhuma dependente dessa crença. Acho que Deus já tem coisas demais com as quais se preocupar. Pode me chamar de desrespeitosa e de muitos outros termos fanáticos, mas é essa a verdade. Deus não castiga ninguém, os "castigos" são consequências dos atos de cada um. Se as pessoas deixassem Deus em paz um pouco, começariam a perceber os erros dentro de suas vidas, e perceberiam também, que só você pode fazer as mudanças. Rezar é um adicional, mas rezar e ficar sentado esperando um milagre, não vai funcionar. Você vai esperar dormindo.

Acho que também é meio óbvio que Deus não tem nada a ver com religião. Deus é energia, está em tudo o que nós vemos e em tudo no que nós não vemos. Se foi ele que criou tudo, acho que deve ser assim mesmo. Religião é uma coisa inventada por humanos. Conjuntos diferentes de práticas, que muitas vezes tem o mesmo objetivo: desviar a atenção dos erros, em prol do conforto próprio. Não necessariamente por arrependimento, mas por medo e superstições.

E as pessoas tem o péssimo hábito de achar que religião trava uns e outros, acreditam que a religião coloca limites e impede que muitos façam coisas erradas. Mas as pessoas que são desse jeito deixam de fazer as coisas erradas por medo, e não por consciência, não por saberem o que é certo e o que é errado. Só deixam de fazer porque não querem ir pro inferno e coisas do tipo. Ou seja, muitos certinhos não são tão certinhos assim, são egoístas de mentes podres. Hipócritas que adoram justificar seus atos colocando Deus no meio. Mas que não perdem a oportunidade de desviarem do "certo" quando tem a oportunidade. "O quê você faz quando, ninguém te vê fazendo? O quê você queria fazer se ninguém pudesse te ver?"

Apesar de todas essas coisas ridículas que eu já sei sobre o mundo, de vez em quando acontecem coisas que me dão esperança. Esperança de que nem tudo está perdido. Como quando na vez em que eu me perdi na rua, e uma mulher viu pela minha cara que eu estava confusa e me ofereceu ajuda. Como quando na vez em que eu vi uma mulher ajudando um idoso a descer a escada do metrô. Como quando na vez em que um menino com paralisia cerebral deixou cair o boné na rua, e uma mulher correu pra devolvê-lo, para que a mãe do menino não tivesse que se abaixar ali e pegar. Como quando na vez em que eu quase fui atropelada pela milésima vez e um homem me puxou pela manga da blusa. Eu acredito que essas são horas em que Deus aparece voluntariamente, sem que ninguém tenha que chamar por Ele. Ele aparece porque simpatiza com você e quer te mostrar que nem tudo está perdido. Ainda há esperança. Ainda há. Só precisamos deixar Deus trabalhar em paz e fazer o nosso melhor.

Deem uma folga pra Deus. Ele já está sobrecarregado demais. E se você quer se conectar com Deus, pratique o amor. O amor de todas as formas possíveis, pois dessa forma, você estará realmente provando que é do "bem".

Mean - Taylor Swift


Mau


Você, com suas palavras afiadas
E espadas e armas que você usa contra mim
Você me tirou dos meus pés de novo
Me fez sentir como se eu não fosse nada
Você, com sua voz como unhas em um quadro negro
Me desafiando quando eu estou ferida.
Você que está pegando no pé do mais fraco

Você pode me derrotar
Com apenas um simples golpe
Mas você não sabe, o que você não sabe

Um dia eu vou viver em uma grande e velha cidade
E você será simplesmente mau
Um dia eu serei grande o suficiente para você não poder me atingir
E você será simplesmente mau
Por que você tem que ser tão mau?

Você, com seus dois lados (duas caras),
E sua caminhada por mentiras e humilhação
Você apontou as minhas falhas novamente,
Como se eu já não as visse
Eu caminho com a minha cabeça baixa
Tentando me proteger porque nunca vou te impressionar
Eu só quero me sentir bem de novo

Eu aposto que você foi intimidado
Alguém te fez ser frio
Mas o ciclo termina agora
Você não pode me levar por esse caminho
Você não sabe, o que você não sabe

Um dia eu vou viver em uma grande e velha cidade
E você será simplesmente mau
Um dia eu serei grande o suficiente para você não poder me atingir
E você será simplesmente mau
Por que você tem que ser tão mau?

E eu consigo te ver daqui a alguns anos em um bar,
Falando sobre jogos de futebol
Com aquela mesma opinião, mas
Ninguém está ouvindo
Em decadência e xingando as mesmas velhas e amargas coisas
Bêbado e resmungando sobre como eu não consigo cantar

Mas tudo o que você é, é mau
Tudo o que você é, é mau
E um mentiroso, e patético, e sozinho na vida
E mau, e mau, e mau, e mau

Mas um dia, eu vou viver em uma grande e velha cidade
E você será simplesmente mau
Um dia eu serei grande o suficiente para você não poder me atingir
E você será simplesmente mau
Por que você tem que ser tão ?

Um dia eu vou viver em uma grande e velha cidade
E você será simplesmente mau
Um dia eu serei grande o suficiente para você não poder me atingir
E você será simplesmente mau
Por que você tem que ser tão mau?



Determinada


O quão magoada uma pessoa pode ficar? Por tantas coisas possíveis e diferentes, mas tão igualmente fortes... Tantas lágrimas para despejar, em diferentes proporções. Uma lágrima para aquele momento traumático, outra para aquele momento trágico, mais uma para aquele que poderia ser evitado, e outra para a falta de capacidade de fazer todos esses momentos desaparecerem da sua mente. Porque ela não pode fazer isso? Porque ela não consegue fazer isso? Talvez ela seja uma pessoa triste, de alma triste, que está sempre insatisfeita, pois está sempre tentando ser uma coisa que não é: alegre de um jeito que não existe. Quer dizer, ela é alegre, considera-se uma pessoa alegre, apesar de reclamar demais em algumas vezes. Quer dizer, ela sorri bastante. Mas talvez isso não queira dizer nada. Talvez seja apenas um disfarce. Uma fuga do que é inevitável e o que poderia ser tratado como um fantasma que assombra sua vida. E não adianta se esconder, porque como todo típico fantasma, ele atravessa as paredes e encontra-a de um jeito ou de outro. Não dá pra mantê-lo longe.

Mas sabe aquele tipo de pessoa que é agarrada às memórias por mais que não queira? Sabe aquele tipo de pessoa que às vezes se pega chorando por coisas que aconteceram há anos atrás? Pois é, esta é ela. Aquela pessoa que fala sobre si mesma na terceira pessoa por ser covarde demais pra expor-se em primeira. Aquela pessoa pateticamente comum. Aquela pessoa esquisitamente anormal.
Mas sabe, essa menina tem tantas lágrimas. Tantas lágrimas incontáveis, mas todas elas estão contidas dentro dela. Presas numa prisão na qual nem ela tem acesso. Se ela não sabe como referir-se a si mesma, como vai saber achar o caminho para a libertação?
Eu tenho uma ideia: gritando um FODA-SE bem gritado pra quem quiser e não quiser ouvir e mandando todos pro raio que os parta, inclusive as lágrimas. Para quê elas servem afinal? Só para atrasar o inevitável? Essa pessoa tem um caminho traçado, porque ela decidiu ter. E por mais que ela esteja magoada e cheia de lágrimas, não há nada forte o suficiente que a faça desistir de uma promessa feita em seus primórdios.
 Ela é forte de uma maneira que ninguém sabe explicar.


quarta-feira, 16 de maio de 2012

Nunca



Nunca fui como todos
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi a ser só...

Florbela Espanca




sábado, 12 de maio de 2012

A vida lá fora


O que será que tem lá fora? Deve ser algo muito assustador, porque todos falam lá de fora em tom de sofrimento e aviso. Eu ainda não posso ter medo, porque ainda não cheguei lá. Não quero mais ter medo de coisas que eu nem conheço. Quero ir lá fora e ver o que há. E se houver um monstro, lutarei contra ele; ou talvez faça a incrível descoberta de que o monstro não é tão horrível assim. Se houver uma passagem para um outro mundo, talvez eu entre; se ele for pior do que esse, posso tentar achar algo bom o suficiente que me faça querer ficar por lá. Se houver uma ameaça invisível ou ameaças que pareçam ser inofensivas, vou estar atenta. Vou estar com os olhos bem abertos. Já estou. Mas não vou deixar de viver o que há lá fora por medo. 
Eu preciso saber o que é. Quando eu descobrir, vou passar a enxergar tudo com outra perspectiva. Como um bebê que sai da escuridão, calor e umidade de um útero, para entrar na claridade, friagem e secura do mundo. No início, talvez, pareça um pouco assustador e eu acabe chorando, mas depois perceberei tudo o que eu estava perdendo e nunca mais vou querer voltar pra dentro do útero. Quando o ar lá de fora encher meus pulmões, nunca mais vou querer saber de outro ar.
Há uma vida inteira pra mim. Tantas coisas para ver, descobrir, aprender e me encantar... Ainda tenho mais uns mil anos pela frente. E tenho muita coisa pra fazer, não tenho tempo pra ter medo.
Já estou pronta para ir. Já estou pronta para viver na vida lá fora que as pessoas enchem a boca pra dizer que é diferente do que eu estou acostumada. Dizem isso há 18 anos. Pois é, eu tenho uma novidade: fodam-se os costumes. Quem faz os costumes somos nós. E eu fiz em mim o costume de sempre me acostumar com novas coisas em um segundo. Para cada lugar que eu olho, nunca tenho o mesmo olhar, nem mesmo quando olho para um mesmo lugar duas vezes.
Agora é oficial: ninguém pode me impedir de viver a vida lá fora.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Para se roubar um coração


Para se roubar um coração, é preciso que seja com muita habilidade, tem que ser vagarosamente, disfarçadamente, não se chega com ímpeto,
não se alcança o coração de alguém com pressa.
Tem que se aproximar com meias palavras, suavemente, apoderar-se dele aos poucos, com cuidado.
Não se pode deixar que percebam que ele será roubado, na verdade, teremos que furtá-lo, docemente.
Conquistar um coração de verdade dá trabalho,
requer paciência, é como se fosse tecer uma colcha de retalhos, aplicar uma renda em um vestido, tratar de um jardim, cuidar de uma criança.
É necessário que seja com destreza, com vontade, com encanto, carinho e sinceridade.
Para se conquistar um coração definitivamente
tem que ter garra e esperteza, mas não falo dessa esperteza que todos conhecem, falo da esperteza de sentimentos, daquela que existe guardada na alma em todos os momentos.
Quando se deseja realmente conquistar um coração, é preciso que antes já tenhamos conseguido conquistar o nosso, é preciso que ele já tenha sido explorado nos mínimos detalhes,
que já se tenha conseguido conhecer cada cantinho, entender cada espaço preenchido e aceitar cada espaço vago.
...e então, quando finalmente esse coração for conquistado, quando tivermos nos apoderado dele,
vai existir uma parte de alguém que seguirá conosco.
Uma metade de alguém que será guiada por nós
e o nosso coração passará a bater por conta desse outro coração.
Eles sofrerão altos e baixos sim, mas com certeza haverá instantes, milhares de instantes de alegria.
Baterá descompassado muitas vezes e sabe por que?
Faltará a metade dele que ainda não está junto de nós.
Até que um dia, cansado de estar dividido ao meio, esse coração chamará a sua outra parte e alguém por vontade própria, sem que precisemos roubá-la ou furtá-la nos entregará a metade que faltava.
... e é assim que se rouba um coração, fácil não?
Pois é, nós só precisaremos roubar uma metade,
a outra virá na nossa mão e ficará detectado um roubo então!
E é só por isso que encontramos tantas pessoas pela vida a fora que dizem que nunca mais conseguiram amar alguém... é simples...
é porque elas não possuem mais coração, eles foram roubados, arrancados do seu peito, e somente com um grande amor ela terá um novo coração, afinal de contas, corações são para serem divididos, e com certeza esse grande amor repartirá o dele com você.

Luis Fernando Veríssimo