quinta-feira, 26 de junho de 2014

No meio do nada



Eu não sou nada 
Nasci numa das maiores periferias do mundo 
Na favela mais nojenta que é o meu país
Que pensa que belezas naturais mascaram a lama que está na raiz
Eu não sou nada 

Nasci brasileira, com o passaporte visado 
Com grandes esperanças e muitos sonhos roubados 
Não sou nada 
Não me encaixo aqui, mas também não sou ninguém fora daqui 
Sobrenomes europeus não significam nada 
Quando na sua certidão está escrito 
"Rio de Janeiro" 

Quem é você? O que veio fazer aqui? 
Pois eu, eu te digo 
Não sei o que estou fazendo aqui, sei apenas que nasci no meio do nada
No meio do nada, vergonha no mapa, piada interna e externa 
Não sou nada 

Na nossa lama, a gente se encontra 
Na ilusão de que tudo está bem, lutamos por um pouco mais de grana
Batons vermelhos não podem disfarçar a pobreza 
De ter nascido num país sem identidade 
Somos todos vira-latas
Apaixonados e alienados. 

Somos brasileiros suados no eterno calor, em busca de algum amor. 
Eu não sou nada.
Mas você também não é nada
E juntos vivemos como podemos 
Vivendo pela ilusão de que tudo será melhor um dia. 
É como viver dormindo 
Um dia dou o fora daqui...

sábado, 21 de junho de 2014

Mulher (in?) dependente



Meu Facebook tem me deprimido. Todas as pessoas fazendo viagens pela Europa, e eu aqui, vivendo pra muita esperança, trabalhando pra pouca grana. Eu ainda não sei exatamente pra onde estou indo, só sei que estou indo. Já me disseram que o importante é ir e o resto você descobre no caminho, mas e se eu me ferrar inteira por ter muitas ideias e poucas certezas?
Outro dia meu pai disse que eu deveria ser o filho mais velho dele (eu sou a mais velha, mas a filha), e isso foi a maneira que ele encontrou de dizer que eu tenho uma certa bravura masculina, e eu entendo que foi um tipo de elogio, mas isso me levou a pensar... Porque uma mulher não pode ser corajosa sem que isso seja classificado como uma qualidade masculina? E porque sentir medo é classificado como um sentimento feminino? À essa altura, a questão não era mais o que o meu pai havia me dito, e sim a nossa sociedade. Onde eu me encaixo? Será que eu me encaixo? 
Eu fui criada pra sair da casa da minha mãe apenas quando fosse casar. Se eu tivesse ficado, como seria a minha vida? Eu nem sei se quero me casar, eu nem sei o que vou fazer da minha vida. Eu quero sim um cara legal, que me apoie e que me ame, que viva comigo e não que queira que eu viva pra ele. Mas às vezes me pergunto se isso realmente existe. 
Não tenho vergonha de dizer que não sou a maior cozinheira, não tenho vergonha de dizer que coloco todas as roupas juntas pra lavar, coloridas, pretas e brancas (e nunca mancharam até hoje), não tenho vergonha de dizer que procuro comprar roupas que não precisem passar, não tenho vergonha de dizer que o meu quarto fica uma bagunça às vezes. 
Eu tenho outras prioridades, nasci numa geração em que a mulher pode ser mais do que uma esposa exemplar, procriando como um coelho. Mas quando sou assediada por homens casados e quando escuto coisas que querem dizer que a coragem é uma qualidade masculina, me pergunto se isso tudo é realmente verdade, me pergunto se não resume-se a apenas uma ilusão, me pergunto como posso me encaixar na verdadeira realidade de uma sociedade que alimenta ideias, mas não aceita ações. Mulher independente... Existe alguma realidade nisso? Será que alguém realmente quer isso? E se existe, é possível ser independente sem ser solitária?

Parasitas e hospedeiros

Parasita 
Fica ali, cercando 
Esperando abrir uma ferida pra entrar 
Parasita 
Não desiste, não sai de perto, não abre mão 
O parasita continua sempre ali
E o hospedeiro tenta se livrar, em vão. 
Parasita
Persiste e espera 
Uma hora, consegue sua ferida
Parasita, não passa de um parasita.

Sabemos que o mundo é cruel
Mas deveríamos aceitar que as pessoas resumem-se a apenas 
Parasitas e hospedeiros?
Não existe mais amor 
E quando este consegue algum lugar em alguém, 
Torna-se doente, transforma a pessoa num parasita 
Deveríamos aceitar?
Não precisamos parasitar 
Precisamos apenas reconhecer o amor e aceitar 
Aceitá-lo em nossas vidas 
Aceitar esse bem 
Mas ao invés disso, dificultamos tudo 
Transformando todos em parasitas e hospedeiros...

Nunca pensei que me tornaria um parasita 
Nunca pensei que você seria o hospedeiro 
Nunca pensei que ficaria ao redor, esperando que ela abra uma ferida 
Grande o suficiente para que eu possa finalmente entrar.
Eu sou um parasita, e não posso mudar 
Você sabe que é o hospedeiro, você me atraiu primeiro, pelo cheiro e por tantas outras coisas... 
Não posso ir embora 
Continuo aqui, como um parasita, esperando a minha hora.

domingo, 15 de junho de 2014

Não podemos

Podemos?
Podemos sentar aqui e apenas observar a Lua em silêncio, esperando que tudo isso simplesmente desapareça?
Podemos?
Não, não podemos. 
Não podemos
Porque eu sou míope, mas é você que não enxerga o óbvio, você não consegue ver o que está diante do seu nariz. 
Não podemos, porque você está decidido a continuar agarrado na sua "segurança", nutrindo esperanças de que todas aquelas velhas coisas condenadas à repetição, mudarão.
Se tem uma coisa sobre a qual eu poderia falar com você seria a inexistência de segurança. Pois realmente, não existe. Nunca estamos seguros, nem totalmente certos, nem garantidos. Basta uma coisa, uma pequena coisa, e tudo simplesmente desaparece. 
É tudo uma aposta, um salto no escuro, uma crença no desconhecido, torcendo para que se torne um maravilhoso conhecido. 
Essa é uma coisa sobre a qual nós definitivamente poderíamos falar.

Mas você não tem isso, você não tem esse espírito, você não consegue acolher o amor que vem pra você.
E a Lua continua cheia e silenciosa lá fora.
A diferença entre nós é que eu sempre estarei no lado de fora e você no lado de dentro. 
Então, por uma questão de desencontro, por uma questão geográfica, por uma questão de posição... Não podemos. 
Se um dia nos encontramos, foi por um mero acidente, um erro de percurso de um destino tão desgraçado que é esse nosso. 
Mas nós dois sabemos, nós dois temos certeza de que um dia não é capaz de mudar toda a conspiração que esse maldito destino tem. 
Bom, não na maioria dos casos.
Talvez seja o destino, talvez seja apenas a sua escolha.
Mas o fato é que não podemos. 
Não podemos. 

sexta-feira, 13 de junho de 2014

É triste

É triste... A maneira como eu ainda penso em você ininterruptamente. 
É terrível, a quantidade de vezes que eu acordo no meio da noite, logo após ter sonhado com você.
É triste... A maneira como isso poderia ter sido completamente diferente do que se tornou... Eu sem conseguir largar de mão... Você me pedindo pra ficar... Eu me alimentando de migalhas eventuais... E nós dois indo a lugar nenhum.
É triste... É triste que não exista "nós dois". 
Não existe espaço pra que nós dois sejamos "nós dois" nesse mundo... 
Não existe espaço no seu mundo. E o meu mundo está lotado de todos os pensamentos que eu tenho sobre isso, o meu mundo está lotado de todos os desejos mais profundos para que isso se torne realidade, o meu mundo está lotado com as súplicas secretas e as esperanças infundadas... 
Portanto, não há espaço. 
Você está lotado e eu estou vazia ao ponto de nada poder preencher totalmente o espaço. 
É muito triste ter que me agarrar a cada pequena coisa que eu julgo como sinal, e na realidade não é nada...
É triste como na última pequena parte vazia da minha mente, voam pássaros indo para lugar nenhum, assim como eu e você. 
Nós nunca saímos daqui, nós nunca nos permitimos mais do que apenas alguns míseros momentos.
É triste... A maneira como eu esqueci completamente de mim... É trágico.

É triste...  
É triste...
É triste...

É 

triste

...


domingo, 8 de junho de 2014

Alimento da criação



Em meio a todo esse caos de decepções, sabe de quem eu tenho sentido mais falta? De mim. Tenho sentido falta da garota independente e sarcástica, com risada de bruxa, aquela pessoa que adora ajudar outras pessoas, aquela garota que troca qualquer coisa pra escrever, ver um filme, ouvir música, ou ler. Aquela garota que adora ficar sem fazer nada com os amigos, aquela garota debochada e reclamona, cheia de caretas na ponta da língua. É de mim que eu tenho sentido mais falta, e sou eu que pareço estar ficando cada vez mais pra trás...
Sabe quando uma pessoa entra num estado de concha fechada e recusa-se a se apaixonar? Bem, eu tenho vivido assim por mais ou menos 5 anos... Não estava procurando, não estava querendo, não estava pedindo. Mas aí aconteceu: Depois de todo esse tempo, enfim apareceu alguém com força suficiente pra quebrar a minha concha. Quebrou e libertou o monstro que é a Carolina apaixonada. Essa pessoa desorientada que eu me torno, que para a vida, que fica boba e perdida. É quase uma segunda personalidade, o oposto da garota independente e sarcástica. 
Acredite em mim, eu não gosto de me sentir dessa forma, não mesmo. Talvez tenha sido por isso que eu me fechei por tanto tempo. Eu sei como eu fico maluca, e eu também sei do histórico de fracassos e como eu fico ainda pior quando finalmente dá errado. Porque sempre dá. Não estou culpando ninguém, não estou com raiva de ninguém, porque afinal, não podemos forçar afeto, não podemos exigir que as pessoas larguem tudo por nós. E eu não exigi isso, mas eu tentei, Deus sabe o quanto eu tentei, ser persuasiva pra despertar essa vontade nessa pessoa tão impossivelmente perfeita pra mim. Mas não deu. 
E agora... Sabe o que me resta? Juntar os cacos da maluquice, e transformar a melancolia em poesia... Afinal, é só pra isso que servem esses meus surtos de paixão: Cair numa profunda atmosfera de criação alimentada pela mais agonizante e pura melancolia. 

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Cara

Cara, você sabe que está acabando comigo?
Cada vez que você me olha é como se enxergasse até o meu umbigo 
Cara, para com isso
Você diz que quer ser meu amigo, mas não é só isso
Você está me matando por dentro, eu estou virando um buraco negro 
Um buraco que puxa a minha vida inteira pra dentro 
Cara, não faça isso 
Se você não pode me amar, apenas me deixe desapegar. 

O que você tem a me dizer agora?
Eu estou cansada dessa situação 
Nós nem estamos juntos, mas sempre discutimos a relação...
Cara, me deixa em paz 
Eu quero muito você, Deus sabe o quanto 
Mas não tá dando, você não me deixa chegar perto o suficiente 
Por favor, me liberte 
Eu sonho com você toda noite, não aguento mais essa escravidão
Eu não quero mais, eu não quero mais 
Eu não aguento mais passar por isso, não aguento mais ter que esconder meu amor 
Cara, por favor 
Para com isso.

Eu quero ir embora, eu quero fugir, às vezes parece que eu vou pirar 
Eu só quero sumir 
Cara, por favor 
Não me peça pra ter mais paciência, não peça pra eu me acalmar.
É muito frustrante ver você, estar ao seu lado 
E não poder fazer nada do que eu quero fazer 
Você não me deixa te amar 
Você me trava, não me deixa chegar perto 
Mas também não me liberta 
Por favor, não aguento mais essa situação 
Por favor, cara
Não faça isso, eu não quero mais.
Você não sabe que está acabando comigo?