quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Manhã impaciente


Ouço passos no meio de uma manhã nublada. 
Ouço uma música e vejo o sol 
(pouco a pouco) 
Voltar a ser mais forte do que as nuvens.
O farol da baía não ilumina a minha casa: Estou no alto e ele é mais baixo.
Mas a essa hora da manhã não há farol
Há apenas um corriqueiro navio, um barco, pássaros voando e as horas passando.
Não se sabe ainda se será um dia de chuva ou sol 
E eu ainda não sei de quem são os passos que ouço na escada, cada vez mais próximos... 
O dia não está feio e nem bonito e é tão forte seu brilho 
Que ainda não é possível enxergar beleza ou perigo 
Claridade que cega.
Tão claro que não posso ver.
O quão irônico parece isso?

Alguém bate na porta 
Quem será a essa hora?
Ainda nem dei meu primeiro gole de café 
Ainda não sei que tipo de dia será esse 
Provável que não seja um muito simples, já que estão batendo à minha porta sem eu ter tomado nem mesmo um gole - Essa seria uma boa hora para voltar pra cama. 
Não posso voltar. 
Não estou com sono, mas também não estou acordada.
Estou no meio daquele momento entre levantar da cama e realmente despertar 
Esperando a água ferver. 
Não quero abrir a porta, ainda não estou pronta pra receber 
O que quer que seja que alguém veio dizer.
Já falei com a vida diversas vezes 
Já conversei com ela e pedi: Sem mais imprevistos.
Mas a vida sendo como é, só faz o que quer
Trouxe alguém à minha porta antes mesmo do meu primeiro gole de café 
A vida nunca espera ninguém estar pronto 
Apenas planta alguém bem na sua porta, mesmo que essa pessoa ainda não saiba se será um dia feio ou bonito.
A vida não espera nem mesmo o intervalo entre esse pensamento e aquele.

Minhas janelas estão abertas - tarde demais, já fui vista.
Descabelada, cara inchada, pijama surrado, olhos fechados. 
Vou ter que convidar pra entrar, vou ter que tolerar. 
Dividir meu café enquanto recebo as notícias que definirão 
Se será um dia feio ou bonito.  

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Péssima história de reflexo picotado

É engraçado quando olha-se no espelho
E é tudo o que não gostaria de ver 
Quando já não se reconhece mais e vê algo esperando ver outra coisa
Como ser um estranho numa pele estranha 
Como um pesadelo ou uma péssima história de reflexo picotado.

Será que alguém poderia encaixar-se numa outra pele?
Será que outra pele conseguiria abrigar outro alguém?
Bombear o sangue por veias tão entupidas de pensamentos 
Respirar com pulmões que vivem de suspiros causados pelas lembranças daqueles momentos? 
Será que outra pele aceitaria outro alguém?

É a pior história de reflexo picotado 
Acordar e não conseguir mais suportar viver o que chamam de "minha vida", "sua vida", "vida de alguém"
Vida de quem?
Essa é a pior história de reflexo picotado ou o pior pesadelo acordado 

Não reconhecer-se mais em cada pôr do sol ou em cada ventania 
Quando alguém já não sabe mais quem é 
Quando alguém perdeu-se num corpo que dizem ser seu 
Quando alguém perdeu-se na vida que dizem ser dela 
Será que uma outra pele conseguiria abrigar 
O ser que vive preso numa péssima história de reflexo picotado?