sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Bando de tal

Unhas sujas
Mochilas rasgadas 
Cabelo mal cortado, vida sem esperança de nada 
Esse é o poema dos esquecidos 
Dos largados e dos fracassados 
Dos mal amados, dos que amaram mal 
Dos que desejaram o mal 
Dos que nunca souberam lidar com o formal 
É esse o poema.

Poema desse bando de gente, poema desse bando de tal
Nunca serão nada 
Nessa terra de engravatados 
Nunca serão nada na cabeça desses bem educados 
Esse é o lamento desse bando de tal 
Que vivem em suas favelas 
Seus buracos com quintal

Como sofre esse bando de tal...
Nasceram programados para não quererem nada 
E para nunca sentirem-se como nada além de pobres largados 
E o pior é que muita gente talentosa vive no meio desse bando de tal 
Gente que infelizmente nunca conseguiu ter uma visão maior do que a de seu quintal.

Se alguém pudesse ao menos abrir o portão 
Se alguém mostrasse ao menos que existe mais do que isso 
Se alguém os visse como mais do que apenas um bando de tal...
Não os leve à mal 
Os leve apenas além da fronteira de seu quintal...

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Raios e pensamentos

Esta será uma longa noite, assim como todas ultimamente...
Graças à Deus chove lá fora 
Se Ele existe mesmo, provou hoje a sua existência 
Tantos dias no deserto, na rachadura 
Hoje estamos frescos, hidratados, um pouco menos amargurados  
Podemos sorrir de novo, sentir como se estivéssemos renovados.

Aqui dentro será uma noite de longos pensamentos... 
E eu não sou capaz de escrever nada além de poesias 
Porque é isso que eu sou 
Talvez eu só precise admitir
Que eu não sou nenhuma cronista 
E que é a poesia que me traz alguma alegria 
Reconhecer isso pode ser uma Puta agonia...

Noite chuvosa... 
Hoje não há estrelas lá fora 
Mas há uma constelação inteira nos meus pensamentos. 
Eu me pergunto se ele pensa o mesmo
Sobre os nossos momentos...
Só o que eu consigo enxergar entre nós 
É esse vento de fronteira 
Quem está dentro, quem está fora, tanto faz 
Essa falta de comunicação tem incomodado cada vez mais...
Lá fora está chovendo 
Mas todos os raios da tempestade estão aqui dentro...

E assim eu sigo noite adentro...
Aqui dentro...
Raios e pensamentos...







segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Circo

   



Eu já estive na corda bamba antes... 
Seguir ou permanecer 
Ouvir ou falar 
Chamar ou calar 
Fingir ou enlouquecer 
Matar ou morrer 

Dessa vez, porém,
Tudo é diferente.
Tudo muda de figura quando você não pode contar com nada além 
Da própria mente.
Eu deveria confiar nessa intuição?
Deveria pular sem olhar pra trás? 
Pois todos me dizem que eu deveria ficar e insistir numa coisa 
Que torna-se impossível cada vez mais.

O que eu deveria escolher?
Tentar me equilibrar 
Ou simplesmente pular?
Talvez o abismo seja a resposta pra tudo isso
Uma vez desaparecida 
Posso tentar recomeçar em paz 
A minha vida.




terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Esta não sou eu atuando

Cada risada 
Cada lágrima
Cada poema
Cada silêncio e cada palavra 
Vêm do mais profundo buraco da minha alma


Eu não estou atuando 
Esta sou eu
Andando pela casa de madrugada 
Depois de 3 banhos 
Ainda calor 
Disse "Me deixa!" 
Me agarrou 
O que posso fazer se esta não sou eu atuando?


E na madrugada me faz companhia a falta de um vento 
A ansiedade pelo inverno 
Muita agonia


Andando descalça por uma casa calada
Silêncio
Silêncio
Silêncio
Parecem milhões de pessoas gritando no meu ouvido 
Me sinto surda 
Morte por falta de uso 
Meus pés estão começando a ficar sujos 
Acho que vou tomar outro banho


Esta não sou eu atuando 
Esta sou eu deixando sair todas as coisas 
Do mais profundo buraco da minha alma 
Andando descalça pela casa de madrugada 
Lembrando de quando pedi pra ser deixada e fui agarrada.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Poeiras




Talvez a felicidade seja um queijo quente no fim da tarde 
Um banho de mangueira quando está calor de verdade.
E talvez, esta seja a maior das verdades:
Nunca olhamos pra nada realmente.
Não enxergamos beleza em pequenos pontos de luz, não cuidamos uns dos outros como deveríamos, nos achamos muito grandes e superiores, e temos certeza sempre de que não existe nada maior do que nossas dores. 
Somos poeira num planeta que também é uma poeira, e estamos perdidos entre várias outras poeiras, nesse universo sem fim.
E há quem não acredite no milagre dos encontros, no milagre das conexões raras que conseguimos estabelecer com outras poeiras igualmente perdidas por aí.
Há quem acredite que tudo isso é besteira.

O ser humano é a mais insignificante entre todas as espécies existentes 
Destruímos tudo o que nos foi dado de graça 
E vivemos na tentativa implacável de comprar o que nos faz mal.

Somos poeira num planeta que também é uma poeira, e estamos perdidos entre várias outras poeiras nesse universo sem fim
Acreditamos que somos maiores, mas caminhos para o inevitável esquecimento 
Até chegarmos na inevitável tragédia em que matamos uns aos outros 
Porque somos insignificantes poeiras e não fazemos a mínima questão de tentar ser nada mais do que isso.

sábado, 3 de janeiro de 2015

A cada dia que passa


A cada dia que passa 
Percebo que não retornarei para nenhum dos lugares que deixei 
A cada dia que passa, percebo que a maioria das pessoas não muda 
Uma ou outra disfarça, mas não todas 
A cada dia que passa sinto cada vez mais distante 
Tantas coisas que já foram essenciais pra mim
E que a única maneira de nunca perder nada 
É fazendo de mim minha própria casa.

A cada dia que passa vejo
Que amizade de verdade não te atrasa 
A cada dia que passa, percebo 
Que já não sou mais a mesma 
E que não é fácil construir um caráter forte 
E a cada dia que passa tenho mais certeza 
De que não é difícil destruírem uma fortaleza.

A cada dia que passa agradeço 
Pelos poucos amigos que a vida em seus raros momentos de humanidade me deu 
Agradeço pela família que eles se tornaram pra mim
Agradeço por ter mais do que mereço.

E se a cada dia que passa, a morte se torna mais próxima 
A vida também caminha para a inevitável glória 
E antes de entrarmos no inevitável esquecimento 
(o mundo nunca nos percebeu aqui)
Chegaremos ao topo e nos jogaremos de lá...
Eu escolhi percorrer o meu caminho do meu jeito, mesmo com algum sofrimento
Ninguém possui a minha vida além de mim.

A cada dia que passa, aceito o inevitável desaparecimento 
De tudo que pra mim hoje é uma certeza
A cada dia que passa não sou mais a mesma 
A cada dia que passa...
E mesmo que muitos deles não passem com leveza
Muitas vezes passarão mais rápido do que eu gostaria, com certeza...