quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Ausência



Pessoas que não são amadas ou não sentem-se amadas, adoecem. Engordam demais, emagrecem demais, choram demais ou riem demais por desespero. 
Não conseguem mais achar beleza num pôr-do-sol, não conseguem ouvir uma música e relaxar, não conseguem ver um filme e deixar de lamentar que sua vida não possa ser como a da história. 
Pessoas sem amor ressecam por fora e inundam-se por dentro com todas as lágrimas que não conseguem eliminar. 
Vivem num estado de peso nas costas, de melancolia, de desespero, choque ou apenas sentem aquele famoso vazio por dentro. 
Se jogam nas baladas e "relacionam-se" com 30 pessoas diferentes em uma noite, numa tentativa inconsciente de preencher o vazio interno, numa tentativa inconsciente de isolar o fato doloroso dentro da mente. Porém, instinto não é o mesmo que sentimento, e o instinto sozinho nunca sacia ninguém completamente.
Pessoas sem amor ficam perdidas. Olham para todos os lados, mas não compreendem nenhum, e não decidem-se por qual deles seguir. Ficam tontas, confusas e perturbadas com tanta informação que veem por aí e isso só as irrita mais, só provoca nelas mais vontade de voltar pra casa e se fechar em um mundo qualquer. 
Definitivamente a falta de amor tira a esperança das pessoas, e torna a vida sem sentido e sem emoção. O amor pode ser uma bênção quando caminha de mãos dadas com você, mas também pode ser uma maldição quando resolve te dar as costas. Ele é o seu auge ou a sua ruína.
É pior pra quem já o sentiu e não consegue mais alcançá-lo, porque essa pessoa sabe o quanto é bom, o quanto é uma sensação inexplicável, de outro mundo, sem limites... Existe droga mais perigosa? 
Já para uma pessoa que nunca o sentiu, é uma ignorância disfarçada de bênção, ou apenas falta de vivência mesmo. Mas afinal de contas, quem nunca sentiu amor na vida? De qualquer tipo, sendo amor, já vale. 
Eu queria saber como alguém pôde ser capaz de inventar o amor e a solidão no mesmo planeta... O que parece meio irônico, já que vivemos num mundo onde existem entre 7 a 8 bilhões de pessoas. Infelizmente, esse é um daqueles casos onde tudo é possível...

Revolução



Às vezes a vida nos leva por caminhos inesperados... O que era rotina ontem pode não ser mais amanhã; pessoas que significavam algo ontem podem significar algo completamente diferente amanhã. Mas o mais importante é que as mudanças sempre chegam em alguma hora, não importa quanto tempo demorem, elas sempre chegam. E cabe a cada um de nós nos adaptar à elas ou moldá-las de acordo com as nossas necessidades.
Hoje eu sou sozinha, mas a verdade é que eu sempre fui sozinha. Antes não dava pra perceber por causa da minha vida na época, mas agora eu vejo e entendo que a maioria das pessoas nascem sozinhas (menos os gêmeos, é claro) e morrem sozinhas também. Não é drama, nem exagero; apenas um fato. Eu nunca parei pra pensar nisso, porque sempre achei triste demais e trágico, mas agora que eu estou de fato sentindo essa "solidão" eu percebo e começo a aceitar. E se é impossível ser feliz sozinho, eu vou ter que dar meu jeito pelo menos por agora, porque não combina comigo parar de sorrir. Cada um conhece a verdade que lhe pertence, cada um conhece a verdade que inventa, ou constrói, palavras que no fundo querem  dizer uma mesma coisa. É preciso ser criativo e paciente para criar essas verdades ou ao menos moldá-las a partir de uma essência já existente. Tem gente que tem sorte e consegue construir uma verdade do zero, outras têm que moldar as suas já impostas de acordo com suas necessidades e esse é o mais difícil. Eu ainda estou em dúvida sobre qual verdade eu pertenço. Acho que é um pouco das duas.
Eu estou aqui, quebrando barreiras, esticando limites, aumentando meu vocabulário e revolucionando meus conceitos que eu pensei serem completamente pacíficos e que já tinham sido definidos há muito tempo. Não, hoje o que eu sinto é uma guerra civil aqui dentro, uma reforma agrária ou uma revolução industrial. No fim das contas a espécie de revolução não importa realmente, só o que importa é que todas elas têm o mesmo objetivo aqui dentro de mim: proporcionar-me felicidade. E pra falar a verdade, eu sou a mais empolgada de toda essa guerra.


domingo, 23 de setembro de 2012

Ler deveria ser proibido (texto original)


A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido.
Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Dom Quixote e Madame Bovary.
O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.
Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram.
Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.
Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?
Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.
Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens.

Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.
Não, não dêem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.
Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.
O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas lêem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. E esse o tapete mágico, o pó de pirlim-pim-pim, a máquina do tempo.
Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?
É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metros, ou no silêncio da alcova. Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um.
Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.
Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.
Além disso, a leitura promove a comunicação de dores e alegrias, tantos outros sentimentos. A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.
Ler pode tornar o homem perigosamente humano.


- Guiomar de Grammont

sábado, 22 de setembro de 2012

Recheio


Os anos são muito grandes, com muitos números, fatos e rotina, muita rotina. Tanta rotina que às vezes eu penso que virei um robô ou que estou presa num CD arranhado. Eu odeio rotina, mas é assim que pessoas não milionárias vivem, infelizmente. O importante é nunca perder a chance de fazer o diferencial quando possível, porque é isso que nos torna espontâneos. Pode ser todo dia, ou de tempos em tempos; pode ser uma coisa grande bem pequenininha, o que importa é fazer em algum momento.
Nesses 365 dias nos quais vivemos, verdade seja dita: Não acontece quase nada. Temos um grande acontecimento em janeiro, depois outro em maio, quem sabe... Talvez tenhamos outro em setembro e quem sabe você tenha um Ano Novo incrível... Mas a verdade é que "Ano Novo incrível" é mais uma coisa de cinema do que de realidade.
Na maior parte dos dias não acontece nada, mas um dia, acontece. E é sempre esse dia que ofusca todos os outros. Um dia é capaz de mudar a rotina, é capaz de mudar as pessoas, é capaz de mudar uma vida. Dias como esses são feitos para serem fotografados, porque marcam grandes inícios ou grandes finais, mas os dias comuns são feitos para serem anotados, já que são neles em que construímos as coisas duradouras. Eu odeio rotina, mas a verdade é que os dias comuns são as construções, o desenvolvimento, a trajetória, o desenrolar da história, caminhando para outro grande dia, que é o desfecho. Por isso eu estou meio que me convencendo de que seríamos grandes vazios sem esses dias comuns. Assim como certos biscoitos não são nada sem seus recheios.

Mundo de papelão



Há um tempo atrás, eu tinha o mesmo sonho, onde todas as coisas ruins eram compensadas por algumas pessoas. O sonho era tão real, que parecia que eu vivia mesmo nele. E quando eu acordava de manhã, tinha a impressão de que acordava do sonho também, mas hoje eu sei que eu só acordava dele quando estava dormindo. Depois de algum tempo de desconfiança, só consegui acordar definitivamente hoje.
Podemos criar mundos de ilusões inúmeras, com todo o tipo de pessoas, coisas, objetos, cenários... Porém, a realidade existe e ela sempre chega em algum momento. Eu vivia um sonho onde eu conseguia fingir que nada estava acontecendo, que nada de ruim me incomodava e que a sujeira que eu presenciava não existia. Esse sonho apareceu pra mim e eu acabei elaborando-o mais, para o meu próprio prazer. E eu lembro de ser feliz nele, lembro que eu achava mesmo que aquelas pessoas existiam e que seus sentimentos existiam... Pensava até que o que eu sentia era real e que seria para sempre. Meu mundo de papelão me consolava por tudo aquilo que eu já tinha visto e não queria mais ver. Aquele sonho era tudo o que eu tinha, até que eu vi a primeira rachadura aparecer e então nada mais foi do mesmo jeito.
Amigos e parentes se tornaram pó num passe de mágica. Tudo o que eu achava que conhecia não passava de uma fuga da minha mente, uma loucura de anos... E agora, eu me vejo aqui, e nem tenho mais certeza se eu sou real ou se eu também fazia parte do sonho. Talvez ele não tenha sido criado por mim, e sim por algo ou alguém que é de um patamar que eu desconheço. Não importa o criador, o que importa é que agora que eu acordei eu quero recuperar a realidade que eu isolei no fundo da minha mente. Não importa o que eu tenha que ver, não importa o que eu tenha que aguentar, não importa o tamanho da decepção que eu sentirei quando descobrir a verdade. Eu quero a verdade, é só o que eu quero.
Eu vou viver uma realidade dessa vez, porque a o inventado se vai e eu não quero mais ter nada tirado de mim. Mais um soco no estômago, vai ficar complicado pra mim. Eu vou fazer o que eu tiver que fazer, vou fazer por mim, porque daquilo tudo eu sou a única que sobrou, eu sou a única pessoa que realmente existiu. Não quero mais nada daquilo. Não quero mais nenhuma ligação com aquelas mentiras, falsidades e fantasias, agora eu só quero algo concreto, não importa o quanto esse concreto me esmague e me faça sofrer. Por que nada me fez sofrer mais quando eu descobri que aquele mundo no qual eu vivia, nunca existiu. Eu nunca vivi de verdade, mas agora eu vou. Meu mundo de papelão já está rasgado e jogado no lixo.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Nossa linha


Nós sempre soubemos que
andar por essa linha é perigoso.
Nós sempre soubemos que
essa linha sempre esteve à ponto de romper
Se não fosse por um, seria pelo outro.

Eu te amo e te desprezo,
Eu te odeio e te venero,
Eu te culpo e te perdoo,
Mas eu não quero mais sentir nada por você.
Eu não quero mais saber de nada
que você queira me fazer entender.
Entenda que eu não sou você e que eu não preciso mais me equilibrar nessa linha.
Eu estou saindo fora, como sempre estive: sozinha.

Eu só adiei por todo esse tempo
porque eu sabia que dessa vez, quando arrebentasse a linha
seria definitivo, não haveria remendo.
A mágoa é grande e eu não quero deixá-la ir com o tempo.

Eu quero sempre me lembrar desse momento
esse momento em que eu precisei e você não estava.
Esse momento em que você mostrou aquilo que eu passei a vida inteira negando.
O momento em que eu percebi o buraco em mim
e a distância entre nós.
Por mais que eu negasse, no fundo eu sabia
que acabaria assim.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Cabeça

Uma hora da manhã no mundo real
mas na minha cabeça é apenas uma hora como outra qualquer pra pensar.
Que dia é hoje?
Não importa realmente.
O que importa é que é um dia
e dias são feitos para viver 
e não para serem numerados.

Porque será que quando eu quero tanto os acontecimentos 
eles demoram tanto pra acontecer?
E quando finalmente acontecem,
eu tenho apenas a empolgação do momento e depois volto para o mesmo marasmo de sempre?
Eu já disse isso antes, mas vou dizer de novo
pois parece cada vez mais real pra mim:
Eu só sei viver no passado e no futuro.
Dificilmente consigo fazer do meu presente algo emocionante.
Ou apenas movimentado.
Queria que fosse diferente, mas é assim.

Todos são atores, interpretando os papéis que lhes convém.
Poucas pessoas mostram a realidade delas mesmas.
Às vezes porque a realidade é chocante demais
em outras, por não quererem enfrentar o julgamento alheio.
Eu tento me importar o mínimo possível
mas às vezes eu também piro.
Talvez não aja cura pra mim.
Ou talvez eu já tenha nascido sem a doença.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Pensamentos no décimo andar


Eu estou no décimo andar
do caminho para os meus sonhos.
Eu nasci no 10
e agora é nele em que eu faço os meus planos.

O dia não acaba enquanto eu não durmo e tenho meus sonhos estranhos.
A noite não começa enquanto eu não abro a janela pra ela entrar.
O vento da noite sopra forte nas minhas lembranças idiotas e importantes.
Ele quer expulsá-las, quebrá-las, eliminá-las.
Mas os meus pensamentos são como um peso de papel que não as deixa sair do lugar.
Eu estou sempre indo pra lá e pra cá
mas elas nunca ousam me deixar.

Eu piso em tapetes
enquanto tomo sorvete e sinto sede de novidades.
Eu sou uma contradição
vivo no passado e no futuro
mas nunca no presente.
Talvez essa seja a minha maldição.

Não importa de que maneira eu fale
Ou em que língua eu grave
A minha vida sempre será uma grande viagem
Sem nunca chegar na última parada.
Eu serei sempre a amante da liberdade
E talvez um dia eu me case com as possibilidades.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Dupla ação



É impressionante a capacidade de duplo sentido e dupla ação que certas coisas têm. A mesma coisa que pode te dar tudo, pode te deixar no pó; a mesma coisa que pode te fazer feliz, pode te deixar devastado; a mesma coisa que pode te dar, pode te tirar... O prazer pode virar melancolia em 5 segundos, as lembranças felizes podem virar um fardo pesado, o arrependimento pode ser a única coisa que não permite que você se recupere de uma grande decepção. O amor pode ser a sua salvação ou a sua ruína, difícil é saber qual é o seu caso. As histórias de todas as pessoas são diferentes, mas se você prestar atenção percebe semelhanças absurdas, que à primeira vista você não tinha assimilado. Uma vida desgraçada por uma pessoa que ama de maneira desgraçada, a decepção ao se olhar no espelho e ver que você se tornou algo completamente diferente do que imaginava, uma péssima surpresa. A sensação de ter a sua vida jogada no lixo e não poder fazer nada pra impedir. Tanta dedicação, tanta paixão, tanta pureza, tanta loucura, tantas coisas... Eu conheço alguém que não reconhece mais a si mesma, que tem medo do que vê quando olha à sua volta ou olha para ela mesma. E principalmente, quando olha pro lado oposto do dela na cama. Como pode alguém amar tanto uma pessoa que não merecia ser amada por ninguém e que ninguém esperava que fosse amada e depois de amar e abrir mão de toda a vida que tinha, descobrir que o que aconteceu não foi uma troca como ela pensava no início e sim um roubo? Parece loucura demais? Acontece. A pior parte é quando você tenta se desvencilhar disso e não consegue, ou não sabe como, ou não tem como. O que você faz então? Chora pelo resto da vida? Ou arruma um jeito, qualquer jeito de mudar isso? A vida é muito grande, mas sem espaço pra muita coisa.
Essa pessoa que eu conheço e que está nessa situação pensa que não tem saída, mas tem. É uma saída difícil, mas ainda sim, é uma saída, uma saída que muita gente gostaria de ter. Mas essa pessoa não tem coragem de recorrer a essa saída, infelizmente. Ela não gosta da vida que tem, mas não abre mão de sair da sua zona de conforto e arriscar uma mudança. Graças à Deus eu não sou assim, mas infelizmente o meu poder de persuasão não é tão forte ao ponto de convencê-la de que está na hora de contar com a sorte e  arriscar. Por enquanto eu ainda não consegui convencê-la, mas espero que um dia ela faça isso porque se deu conta de que é a melhor coisa a se fazer e não porque eu a convenci. Assim como podemos demolir algo, podemos reconstruir do zero, sempre. Porque quase todas as coisas tem dupla ação.

sábado, 8 de setembro de 2012

Conto de fadas do século XXI





Era uma vez... numa terra muito distante...uma princesa linda, independente e cheia de auto-estima.

Ela se deparou com uma rã enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo era relaxante e ecológico...

Então, a rã pulou para o seu colo e disse: linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito.

Uma bruxa má lançou-me um encanto e transformei-me nesta rã asquerosa.

Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir lar feliz no teu lindo castelo.

A tua mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavar as minhas roupas, criar os nossos filhos e seríamos felizes para sempre...

Naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria, pensando consigo mesma:

- Eu, hein?... nem morta!


Luis Fernando Veríssimo

Aí tem

 
As coisas são como são. Se alguém diz que está calmo, é porque está calmo. Se alguém diz que te ama, é porque te ama. Se alguém diz que não vai poder sair à noite porque precisa estudar, está explicado. Mas a gente não escuta só as palavras: a gente ouve também os sinais.
Ele telefonou na hora que disse que ia ligar, mas estava frio como um iglu. Você falava, falava, e ele quieto, monossilábico. Até que você o coloca contra a parede: "O que é que está havendo?". "Nada, tô na minha, só isso." Só isso???? Aí tem.
Ele telefonou na hora que disse que ia ligar, mas estava exaltado demais. Não parava de tagarelar. Um entusiasmo fora do comum. Você pergunta à queima-roupa: "Que alegria é essa?" "Ué, tô feliz, só isso". Só isso????? Aí tem.
Os tais sinais. Ansiedade fora de hora, mudez estranha, olhar perdido, mudança no jeito de se vestir, olheiras e bocejos de quem dormiu pouco à noite: aí tem. Somos doutoras em traduzir gestos, silêncios e atitudes incomuns. Se ele está calado demais, é porque está pensando na melhor maneira de nos dar uma má notícia. Se está esfuziante demais, é porque andou rolando novidades que você não está sabendo. Se ele está carinhoso demais, é porque não quer Os tais sinais. Ansiedade fora de hora, mudez estranha, olhar perdido, mudança no jeito de se vestir, olheiras e bocejos de quem dormiu pouco à noite: aí tem. Somos doutoras em traduzir gestos, silêncios e atitudes incomuns. Se ele está calado demais, é porque está pensando na melhor maneira de nos dar uma má notícia. Se está esfuziante demais, é porque andou rolando novidades que você não está sabendo. Se ele está carinhoso demais, é porque não quer que você perceba que está com a cabeça em outra. Se manda flores, é porque está querendo que a gente facilite alguma coisa pra ele. Se vai viajar com os amigos, é porque não nos ama mais. Se parou de fumar, é uma promessa que ele não contou pra você. Enfim, o cara não pode respirar diferente que aí tem.
Às vezes não tem. O cara pode estar calado porque leu um troço que mexeu com ele, ou está falando muito porque o time dele venceu. Pode estar mais carinhoso porque conversou sobre isso na terapia e pode estar mais produzido porque teve um aumento de salário. Por que tudo o que eles fazem tem que ser um recado pra gente?
É uma generalização, mas as mulheres costumam ser mais inseguras que os homens no quesito relacionamento. Qualquer mudança de rota nos deixa em estado de alerta, qualquer outra mulher que cruze o caminho dele pode ser uma concorrente, qualquer rispidez não justificada pode ser um cartão amarelo. O que ele diz importa menos do que sua conduta. Pobres homens. Se não estão babando por nós, se tiram o dia para meditar ou para assistir um jogo de vôlei na tevê sem avisar com duas semanas de antecedência, danou-se: aí tem.

Martha Medeiros

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Sutiã


Tirar o sutiã não é uma libertação? Sei que isso parece um pouco feminista demais, mas essa questão ficou entranhada na minha cabeça desde ontem, na hora em que eu fui dormir e tirei meu sutiã. E é mesmo verdade, é muito bom mesmo. Talvez os homens vivam andando sem cueca por esses mesmos motivos: a sensação de liberdade, o conforto, a sensação de estar à vontade. Tem coisa melhor do que isso? É como estar entre amigos: você se sente livre pra ser quem você é.
Claro que não vamos ficar andando por aí sem sutiã, até porque fica feio, mas esses momentos em que podemos fazer isso são ótimos. Somos mulheres, temos que nos cuidar e nos valorizar acima de tudo e procurar sempre buscar o equilíbrio entre o conforto e a responsabilidade, entre o direito e o dever, entre o sorriso e a lágrima. Mulheres têm tantas coisas para se preocupar não é mesmo? Maquiagem, cabelo, roupa, sapato, peso, depilação, pílula, absorvente, namorado, mãe, pai, marido, filhos, irmãos, amigos, trabalho, diversão... Tudo para estarmos aprováveis aos nossos olhos e também aos olhos dos outros. Esforçamo-nos para sermos cultas, inteligentes e bonitas e mesmo assim continua bem difícil de ser feliz pra muitas por aí.
 Há também aquele tipo de mulher que não se importa com mais nada, que simplesmente vulgarizou geral, que abre a boca pra libertar as abelhas que por tanto tempo estavam machucando-a internamente e que não quer saber a quem isso vai afetar e que consequências esse ato pode causar. Todas nós fazemos isso de vez em quando, já que somos humanas e temos também nossos momentos de pequenos surtos, mas ninguém tem que saber tudo o que se passa na sua cabeça, assim como ninguém tem que saber tudo o que acontece na sua vida porque isso só abre mais espaço para julgamentos e críticas e eu acredito que estamos todas cansadas disso.
Eu já fui assim: falava tudo o que vinha na minha cabeça, sem pensar no que isso podia causar, mas agora eu sempre filtro o que eu penso antes de falar, ou pelo menos resumo bem a história. Claro que nos meus momentos de estresse abelhas voam para todos os lados, mas até que esses momentos diminuíram bastante. Acho que eu finalmente estou saindo da fase dos hormônios loucos da adolescência e me tornando uma adulta mais controlada. Porém, nada disso impede que eu sorria quando tiro meu sutiã e sei que vai ser assim com 14 anos, 18, 30 ou 70. Todo mundo adora liberdade e não existe idade certa para adorá-la, assim como não existe idade certa para viver.

terça-feira, 4 de setembro de 2012




Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os pinos redondos nos buracos quadrados. Aqueles que vêem as coisas de forma diferente. Eles não curtem regras. E não respeitam o status quo. Você pode citá-los, discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Empurram a raça humana para a frente. E, enquanto alguns os vêem como loucos, nós os vemos como geniais. Porque as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam.

                                                    
                                                Jack Kerouac