segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Funeral


Alguma vez 
Um dia 
Sentiu-se sugado e drenado 
Por uma vida louca que talvez você nem devesse viver?

Alguma vez sentiu-se incapaz de ouvir o som do vento 
Nas folhas das árvores? 
Eu perdi a noção do tempo.
Quando vi, já não restava quase nada 
Da vida que eu conhecia antes.

E eu não estou pronta pra dizer adeus.
Talvez nunca esteja, afinal 
Talvez seja egoísta ao ponto 
De rir na cara da morte quando se trata de mim
Mas me encolher de medo quando se trata dos outros. 
Não quero perder nada 
Não quero perder ninguém 
Mas já está acontecendo 
Pouco a pouco minhas raízes mais antigas vão morrendo
E é só uma questão de tempo. 

E eu perdi tudo.
Quem eu era, quem eu tinha 
Perdi o que eu queria 
para o que se tornou.
E nada é perfeito, nunca foi 
E existem dias de risadas
Mas alguma vez, algum dia 
Sentiu-se sugado e drenado 
Por uma vida louca que talvez você nem devesse viver?

Eu perdi a noção do tempo, perdi tudo.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Vi seus olhos nos meus

Vi seus olhos nos meus
Devorando cada reflexo do que já não podia esconder da minha alma 
Eu vi você me carregar 
Vi o reflexo nos seus olhos 
Vi meus olhos e os seus presos numa mesma imagem 
E vi meu corpo derreter 
Com o seu...

Da maneira que conseguimos nos colorir 
Na maneira como fazíamos dos olhos um do outro, espelhos 
E todas as oscilações do que éramos 
Me surpreende que tenhamos conseguido nos encontrar em algum momento 
Pois querido, a cada segundo derretemos
O que será que me atrai então
Pro reflexo dos seus olhos?

Eu vi, vi seus olhos nos meus 
Expondo cada parte da minha alma 
Que por um momento você tomou como sua 
Derretemos, caímos, ascendemos
O que estávamos pensando afinal? 
Não estávamos
Estávamos apenas encarando 
Os reflexos um do outro 
Dentro do meu olho, dentro do teu olho 
Não éramos mais os mesmos 
Olhos de loucos...

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Céu laranja

Olho pro céu... 
O que vejo são possibilidades. 
Eu tenho uma grande janela 
E uma vista para duas enormes árvores 
tão antigas quanto o céu.

Nada é como eu imaginei 
Aquela visão de como seria minha vida aos 21 caiu por terra faz tempo. 
E mesmo para pessoas ansiosas como eu, essa é a graça da vida: 
Quando você pensa que sabe de tudo, as coisas acontecem da maneira que querem e te mostram 
Que você não é melhor do que nenhum outro ser humano.
Ninguém tem controle de nada
E é libertador tirar esse excesso de responsabilidade das costas. 

Mas eu sinto orgulho.
Sinto orgulho de mim e da pessoa que me tornei
Sinto orgulho do longo caminho que ainda tenho a percorrer.
Mas isso, esse momento aqui 
Café à tarde, sentindo a brisa que vem do mar
Ouvindo o som das folhas dessas árvores da minha vista...
Esse momento é a felicidade mais simples que algum dia terei 
E me sinto em paz.

Pouco a pouco minha casa começa a ter cada vez mais jeito de casa 
E eu finalmente começo a me sentir em uma.
A cada prateleira pendurada 
A cada móvel montado 
Consigo ver um pouco de mim em todas as coisas 
E é uma visão que nunca antes tive na vida.
É sublime. 

Descobri muitas coisas esse ano
Mas a mais importante de todas foi com certeza a garantia de mim mesma 
Não importa por quantas reviravoltas eu passe 
Sempre terei a mim.
E agora eu sei que qualquer lugar pode ser a minha casa 
Desde que eu coloque todo o meu coração nela
Essa é a felicidade incomparável que sempre habitará uma parte da minha mente.  

Aquela velha música


Eu estou dentro do ônibus, no primeiro assento
Janela escancarada, calor e meu cabelo voando por todas as direções.
Meus fones no último volume
Aquela música que adorávamos cantar
Onde você está?

Eu estou em casa, numa manhã de domingo
Acabei de acordar, e quando rolo na cama, um travesseiro vazio
A cama está vazia, a casa está vazia, a vida está vazia
Onde você está?

Eu estou dentro da minha caneca de café, meus pensamentos simplesmente estão imersos.
Aquela com a caveira da morte
Aquela mesma que usei pra tomar café tantas vezes com você.
E tudo isso é bastante irônico
Eu quis ir embora tantas vezes, e quando finalmente consegui...
Bem, sou incapaz de deixar de me perguntar
Onde você está?

Estou no meu banho gelado de verão, cabeça na água, prendendo a respiração
Quando solto, sinto seu cheiro na minha toalha
E isso é simplesmente resultado de um apego ridículo
E não sei como viver dessa maneira.
Onde você está?

Você foi embora para que eu pudesse dar continuidade à esse ridículo talento
Para escrever poesias tristes
O que sou eu além de uma sanguessuga?
Estou na vida, essa estrada estranha
Olhando o pôr do sol refletir no meu cabelo castanho
"As coisas vão melhorar" - era o que você sempre dizia
Mas você nunca disse que não estaria incluído nesse melhor
Você não podia ficar?
Eu poderia até tentar escrever
algo alegre
Onde você está?

Fevereiro de 2014

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

23:59



Tem sido um novembro chuvoso até agora 
Mais do que chuvas de um Verão antecipado
Eu diria que uma grande faxina.
E não é que eu não ame a chuva, pois eu amo
E às vezes precisamos mesmo lavar as coisas. 
Mas a verdade é que sua presença torna-me pensativa
E vê-la caindo pelo lado de dentro da janela fechada 
Causa-me uma terrível sensação de melancolia.

Talvez o fato de não poder abrir a janela para ouvir seu som com clareza, piore as coisas ainda mais. 
Quando estou sozinha em casa, às vezes, mesmo que por alguns momentos 
Preciso desesperadamente ligar uma música 
Pois o silêncio do ambiente dá margem exagerada para meus escandalosos pensamentos. 
Talvez eu só precise reaprender a conviver comigo mesma 
E com todas essas partes escandalosas de mim 
É preciso acostumar mais uma vez com a dor, pois ela é só minha 
E ninguém mais pode carregá-la.

Tem sido um novembro chuvoso até agora 
E entenda bem: Não é que eu nunca seja feliz ou alegre, pois eu sou. 
Tenho coisas realmente muito boas acontecendo na minha vida agora, e sou grata. 
Mas a verdade é que meus momentos de melancolia são tão pesados e sugam tanto de mim 
Que muitas vezes sou capaz apenas de escrever sobre eles e não posso evitar.
Essa é infelizmente uma parte grande da minha vida 
Uma perturbação antiga da minha alma 
Um grave defeito herdado e desenvolvido através do tempo.
O meu problema foi ter envelhecido muito cedo
Desde muito mais nova que não faço outra coisa a não ser pensar 
E isso me consome...
Assim como a melancolia que a chuva me trás nesse domingo vazio.

Às vezes tenho dias como esse de olhar a chuva pela janela 
E não querer usar nem mesmo um dos guarda - chuvas que minha avó me deu, pra olhar de perto.
É uma pena que sou apenas capaz de olhar a chuva de longe 
Mas a mim olho perto demais.

Sim, um novembro chuvoso até agora.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Sobre a ansiedade de não ser mais ansiosa no futuro


Um dia, na minha hora final 
Quero olhar pra trás e sentir que tudo fez sentido 
Um dia, quero entender quem eu fui por completo e ter descoberto afinal, meu papel nessa vida.
Antes do meu dia final,
Espero descobrir se fui importante 
Ou se as pessoas lembrarão de mim apenas da maneira que suas doces idealizações permitirem, 
A sete palmos abaixo da realidade.

Um dia, gostaria de saber se alguém realmente me amou como sou, 
Se alguém me aceitou dessa maneira bilateral que minha mente opera: 
Com todas as minhas histerias e perdas de tempo 
Além de minhas mãos pesadamente carinhosas, meu corpo passional
E minhas crises de querer ficar só... 
Um dia.

Um dia, na minha hora final 
Quero ter orgulho de quem fui na hora inicial 
E que todas as minhas perturbações de espírito tenham enfim ficado pra uma vida bem distante. 
Quantas vidas somos capazes de viver dentro de apenas uma? 
Todos permanecem os mesmos da hora inicial até a final?
Se for assim, 
Não haverá ninguém pra amar essa maneira bilateral que minha mente opera
Pois há uma parte de mim que não faz o menor sentido 
E eu já não tento mais entender.
Pouco a pouco, as coisas revelam-se 
Pouco a pouco, vejo que no passado tinha muito mais certezas do que tenho agora.
E elas diminuem a cada dia...

Talvez a grande descoberta da hora final 
seja o não tentar.
Não tentar gastar litros de energia no que não é possível fazer sentido;
Não se permitir ter medo da loucura 
E aceitar de uma vez que a loucura existe em todos nós.
Estou em constante movimento 
E se todos estão sempre parados 
Como serei capaz de encontrar alguém?

Um dia, na minha hora final
Terei todas essas respostas 
Ou simplesmente não precisarei mais de resposta alguma.
Um dia...