terça-feira, 30 de outubro de 2012

360°


Esperança... O que somos sem esperança? Sem esperança eu seria apenas uma trabalhadora do povo escrevendo no estoque, durante o horário de almoço. Sem esperança eu diria que a minha vida se resumiria a isso aqui e que eu jamais faria alguma outra coisa. Eu diria que passaria o resto da vida ganhando esse salariozinho que só alimenta quem mora na favela, diria que passaria o resto da vida servindo mesas e fazendo todo o resto do trabalho escravo e que já estaria muito bom. Sem esperança, eu olharia para essas pessoas e não teria vontade nenhuma de ajudá-las de alguma forma em algum dia. Sem esperança, o que eu seria?
Acontece que eu sou uma trabalhadora do povo escrevendo no estoque na hora do almoço por tempo limitado, pois dou as mãos para a regra do "nada dura pra sempre". Graças à Deus, eu digo que isso aqui é só o início, apenas a forma que eu encontrei de fazer algo grandioso na minha vida um dia. Se eu tenho que trabalhar como um burro de carga pra fazer a faculdade, que seja; vou fazer rindo.
E acontece que eu vou ajudar essas pessoas em algum dia, nem que seja a última coisa que eu faça. Pobre não é bicho, é apenas alguém que não teve a oportunidade de tentar ter uma vida boa, ou não pôde aproveitar as oportunidades que apareceram. Agora eu entendo tanta coisa... Agora eu simplesmente entendo tudo aquilo que eu achava inadmissível. Acontece que agora a minha cabeça está mudando de uma forma que eu nunca achei ser possível. Acontece que eu tenho muita esperança. E muita mesmo.


domingo, 28 de outubro de 2012

Vitória


Há uma chama na minha alma
que me impulsiona para o caminho da vitória
Ela queima tão forte...
Ela me faz forte, me faz ter esperança e acreditar na sorte.

Quando essa cidade está apagada
eu me sinto em casa.
Quando as luzes da noite me guiam para a minha paz interior
eu sei que tudo isso sempre fará parte das minhas memórias...
Todas elas me impulsionando para a vitória.

É um longo caminho para a independência
e eu estou trabalhando duro nele.
Então sei que só pode dar certo, só pode dar em vitória.
A vida pode ser boa e te dar tudo o que você precisa
Ou ela pode te desafiar e te mostrar o que você tem que fazer para ter o que precisa.
Para mim foi aberto o caminho
mas tudo depende de mim se um dia eu realmente quiser ter meu próprio ninho.
Eu estou trabalhando duro, vivendo a minha trajetória
sei que tudo isso só pode dar em vitória.

A Lua é a minha verdadeira mãe...
Brilhando solitária, ela me ampara.
E com as primeiras luzes da manhã, ela não se apaga.
Simplesmente deixa que eu faça como pede a minha alma apaixonada.
Apaixonada pela vida, pela liberdade, pelo amor e pelos sonhos.
Tudo isso... São apenas novas memórias
E eu sei que tudo isso só pode resultar em vitória.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Futuras realidades



Eu gostaria que alguns sonhos que eu tenho enquanto durmo pudessem ser reais...
Eu gostaria de poder voar, perseguindo o pôr-do-sol que eu tanto amo, sem olhar pra trás.
Eu gostaria de poder transformar a minha vida em um filme ou achar uma foto que definisse tudo o que ela é.
Eu gostaria de poder visitar a época dos Vikings, a Grécia Antiga, os Antigos Egípcios, a Idade Medieval, a Média e a Moderna... Viver na Contemporânea às vezes estressa.
Eu gostaria de encontrar com a menina que eu era no passado e dizer a ela: "Você não faz ideia do rumo que a sua vida vai tomar! Prepare-se para uma vida de mudanças frequentes!"
Eu gostaria de poder respirar em baixo d'água... O silêncio que o fundo do mar me proporciona quando eu nado, me faz um bem muito maior do que qualquer terapia faria.
Eu gostaria de lembrar de tantas coisas que o meu cérebro fez questão de apagar... E também gostaria de esquecer das coisas que teimam em me perturbar...
Eu gostaria de arrumar minhas malas agora e começar a viajar... Conhecer todos os lugares que eu sempre sonhei ver...
Eu gostaria de morar perto de uma praia mansa e ensolarada, mas que tivesse neve no Inverno. 
Eu gostaria de ser beijada e abraçada sempre.
Eu gostaria que algumas pessoas não morassem tão longe de mim...
Eu gostaria que "tédio" não existisse.
Eu gostaria de dançar sem parar...
Eu gostaria que certos dias não passassem tão devagar.
Eu gostaria de ser dona de uma livraria e cliente VIP de um cinema.
Eu gostaria de amassar uvas com os pés... 
Eu gostaria de ir em pelo menos uns 100 shows até o fim da minha vida.
Eu gostaria de saber cozinhar mais coisas... Estou trabalhando nisso. 
Eu gostaria de visitar algum museu toda semana.
Eu gostaria que o meu cabelo mudasse com a mesma velocidade que eu mudo de opinião sobre ele.
Eu gostaria de mudar algumas coisas em mim.
Eu gostaria de diminuir um pouco a força do Sol... E de poder trazer a Lua mais para perto.
Eu gostaria de saber dirigir, e dirigir pra lugar nenhum toda vez que alguma situação chegasse no meu limite de estresse.
Eu gostaria que o som da chuva começasse pra abafar todos os outros sons toda vez que alguém começasse a falar uma merda.
Eu gostaria de ter minha discografia acoplada na minha cabeça em modo automático.
Eu gostaria que o mundo desse mais valor às Humanas e entendesse que quem é Exato demais perde a espontaneidade.

Eu gostaria de muitas coisas... Às vezes querer não é poder, ou é simplesmente correr atrás e esperar pra ver. Eu prefiro ser maratonista do que não tentar transformar o impossível em realidade.





Strawberry Swing - Coldplay


<3

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Você tem que me ler

É antropológico: mulher odeia ser mandada. São séculos e séculos de opressão. Não dê corda, que já cheira a forca. Vale, inclusive, para a masoquista. Gosta de firmeza, não que alguém diga o que ela deve ou não fazer. Não seja autoritário. O feminismo não é conversa de sapatão.
Que aconselhe, não emplaque uma ordem. Que ofereça um palpite, este é despretensioso como um assobio, é soprar uma melodia e permitir espaço para que ela complete a letra. Finja que está no chuveiro – menor o risco de se afogar. Fale cantado. Quem canta nunca será um ditador.
Posso estar plenamente equivocado, sou tão bonito quanto carro de eletricista, mas mulher aprecia é sentir saudade. Quando o homem desaparece e ela corre para procurá-lo. São coisas do cotidiano. Fui percebendo que a conversa com a minha namorada estragava sempre do mesmo jeito. Havia um método no erro. Uma insistência de minha parte. Uma frase morse que truncava o entendimento. Depois que pronunciava aquilo, nada mais funcionava. Da calmaria, ela migrava para um estado nervoso e impaciente. A transformação de sua atitude me baqueava: O que foi? Será que perdi algo? Retrocedia para caçar uma gafe. Cansei até captar o sinal. O homem ainda tenta melhorar sua imagem com o bombril na antena.
Eu dizia “você tem que” a cada início de diálogo. Impositivo, não agia por mal, era um hábito, buscava convencer com “você tem que”. Parecia que tinha a solução dos problemas do mundo. Persuasão é a sedução para quem não tem paciência. Meu caso; não cuidava da linguagem e depois estranhava o silêncio dela. “Você tem que” é um mandado de segurança. É atestar que ela não desfruta de condições de conduzir a própria vida. Virava um segundo pai, determinando suas atitudes. Fugia da cumplicidade, vinha com os mandamentos e as condicionais de comportamento para que merecesse a mesada.
O homem não botou na cabeça que a fragilidade da mulher não é dependência. Ela não precisa ser protegida, e sim respeitada. Existe uma diferença aguda no tratamento. Depois que ela fica braba não adianta remendar. Emerge um pânico das cavernas, o receio de ser puxada pelos cabelos e pelas palavras. Igual é chamá-la de louca no meio de uma discussão.
Quem não encheu o pulmão para desabafar “você está louca!”, com aquele grito catártico, que serve como elevador para todo o prédio? Eu confesso, mais de uma vez. É novamente afirmar que ela não tem domínio, que nem sabe o que está falando e menosprezar sua opinião. Pode até ser louca, mas não chame de louca, senão ela não vai recuperar o juízo. Na história do pensamento, quantas mulheres foram enviadas para o hospício devido a sua autonomia? Quantas receberam eletrochoque ou sofreram lobotomia em função da independência de estilo? Significa um joanete ancestral, um calo antiquíssimo, não pise.
Joana D’Arc não foi uma bruxa. Assim como vassoura não é para voar, é para varrer qualquer sujeira machista dentro de casa.
 
Fabrício Carpinejar

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Se uma árvore pudesse falar



Se eu pudesse ser um elemento da natureza, seria uma árvore, uma daquelas bem antigas, com mais de 100 anos... Imagina quantas pessoas passaram por ela e quantas histórias ela presenciou...!
Quanto sol ela já pegou, com quantas rajadas de vento já se abanou e com quantas gotas de chuva já se refrescou... Quantos Natais presenciou, quantos novos anos já passou... Sem nunca ter saído do lugar, ela tem uma sabedoria muito maior do que qualquer mero mortal que pode ir e vir quando bem entende.
Quantas pessoas já devem ter se recostado nela, para ler um livro, ou quantos casais já se recostaram nela para namorar, ou para escrever seus nomes no tronco dela... A verdade é que esses casais escrevem seus nomes nos troncos das árvores, porque sabem que muito provavelmente ela vai durar pra sempre, assim como esperam que seja seu amor. E no fim de tudo, todos nós acabamos na terra, a mesma terra que alimenta a árvore eterna...
Se as árvores pudessem falar, contariam tantas coisas, sobre os mais diversos assuntos, tantas histórias, falariam sobre todas as frágeis vidas humanas que passaram por ela, falaria para termos paciência, pois ela sempre teve, sempre prestou total atenção a todos que iam até ela, já que ela não pode ir até ninguém.
Falaria sobre os mais diversos monólogos e diálogos que escutou, falaria sobre como animais e humanos são mais parecidos do que imaginamos... Falaria que por maiores que sejam as reviravoltas em nossas vidas, o laço familiar é mais forte do que tudo e falaria que existem sempre aqueles amigos verdadeiros para nos lembrar disso.
Falaria para termos paciência e esperança... E falaria para lembrarmos com carinho dos queridos que já se encontram na terra, rodeados por suas raízes, mas para nunca desejarmos ir para a terra antes da hora, pois não existe nada mais magnífico do que o movimento da vida.
Falaria sobre o amor, e sobre as infinitas possibilidades que ele nos trás... Falaria que ele pode ser para uma vida inteira ou durar apenas alguns meses, mas mesmo assim terem a mesma intensidade ou talvez até mais. Falaria que o amor é um caminho desconhecido, mas que vale à pena conhecer. Falaria que ninguém jamais deveria passar a vida sem se apaixonar ou ter uma grande aventura. Se apaixonar pelo seu sonho, se apaixonar pela sua ideia, se apaixonar pela sua história, se apaixonar pela vida, se apaixonar pelo tempo... É a paixão que nos leva a fazer grandes coisas e mudar tudo aquilo que parecia perfeito aos olhos dos outros. A paixão não move árvores, mas deixa todas elas impressionadas com a sua força.

Ah... Se uma árvore pudesse falar...

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Os sons da noite

Eu gosto de ouvir os sons da noite
quando acordo assustada de madrugada e nem mesmo uma música me conforta.
Esses sons me dão paz,
pois quando os ouço sei que que existe vida lá fora mesmo que não pareça.
Quando os ouço, percebo que a sensação de deserto só existe nos momentos em que eu acordo sozinha de um pesadelo.

Apavora-me essa minha mente criativa.
Por sorte existem os sons da noite para me confortar.
Quando acordo abruptamente desse jeito
gosto de pensar sobre como é engraçado o fato de eu sempre acabar tendo inspiração por causa desses sonhos e pesadelos.
Gosto de tentar decifrá-los, ou simplesmente criar histórias estendidas para eles.

Não tenho medo do escuro
mas quando eu vejo os primeiros raios do amanhecer, sinto uma paz imensa.
Sinto essa paz porque sei que é mais um dia de possibilidades que se inicia.
Mais uma chance de fazer uma mudança
Mais uma chance de amar
Mais uma chance de viver.
E mesmo que no final do dia tenha dado tudo errado
sei que existem os sons da noite para me confortar
E eles nunca faltam para me consolar.



terça-feira, 16 de outubro de 2012

Mais uma vez... Remexendo


A verdade é que eu nunca esqueci nada daquilo, pois a intensidade com a qual eu vivi aqueles meses, eu nunca havia vivido em nenhum dos anos anteriores e nem nos futuros, e provavelmente nunca mais irei. Aqueles meses... Era como se eu estivesse ido parar no paraíso sem morrer. Era uma felicidade sem explicação, louca, era como se eu estivesse em êxtase, havia dias em que eu não conseguia parar de sorrir, mas internamente eu meio que me preparava para as lágrimas futuras... Eu sabia que seriam muitas. Sabe quando você vive algo, mas tem certeza de que não vai durar? Eu sabia desde o começo que entre a gente não duraria muito. Como pode alguém estar feliz como nunca e quebrada ao mesmo tempo? Eu fiquei assim naqueles meses que eu estive com ele, mas depois foi apenas a parte do quebrada... Eu era feliz e quebrada ao mesmo tempo, porque no fundo eu sabia que aquilo acabaria mais rápido do que eu queria aceitar. Desde o início nossa música foi "Broken Strings"... E eu sei que a forma que acabou foi a forma mais bonita que poderia ter acabado... Não houve cansaço, não houve limites, não houve brigas, não houve nada de diferente sobre o que eu já esperava que seria. E assim, sem desgaste, simplesmente arrebentamos. Meus pedaços voaram para todos os lados e mesmo que até hoje eu procure, muitos eu nunca mais verei. Porque eu nunca mais fui a mesma depois daquilo.
E mesmo depois de todos esses anos sem vê-lo, mesmo depois de todos esses anos sem saber nada sobre ele, mesmo depois de todos esses anos sem sentir nada por ele além de mágoa, ele ainda me assombra. E os fantasmas das possibilidades do que poderia ter se tornado aquilo me deixam acabada em alguns dias. Lamentar cansa, estar afogada em lembranças cansa. Eu tenho uma bagagem muito grande, apesar de ser muito jovem... E eu sei que foi por causa disso que ele foi embora antes mesmo que houvesse desgaste. Ele teve medo de me dar segurança e depois me deixar pra morrer. Então ele me deixou antes que eu pudesse acreditar que aquilo tudo era realmente verdade; ele me deixou antes para que eu não me apegasse... Mas eu me apeguei e morri mesmo assim. Porque eu nunca mais fui a mesma depois daquilo.
Todos os dias eu tento pensar naquele tempo como um tempo feliz que existiu na minha vida, mas quando paro pra pensar em tudo que sucedeu aquele tempo, eu só tenho raiva e desespero. Existem dias em que eu quero sair do meu próprio corpo, porque eu simplesmente não aguento a carga dessas lembranças... Era para eu ter sido feliz, era para eu ter sido amada. O problema é que eu amo demais e esqueço que as pessoas não são como eu. Por isso, elas vão embora, ou me expulsam...
A verdade é que eu sempre precisei de um homem, desde sempre. Mas garotos foram só o que apareceram pra mim ao longo da minha vida e isso nunca foi suficiente. Eu quero mais, eu sempre quis mais. Eu quero tanto que as pessoas não aguentam e vão embora. Por isso eu aprendi a contar apenas comigo mesma, pois só eu posso confortar essa guerra na minha cabeça, porque não existe mais ninguém que sinta isso.
Eu sempre quis ser livre, mas sempre quis encontrar alguém que me aprisionasse. Eu sempre quis ser aprisionada no amor, eu sempre quis garantias de que seria para sempre. A liberdade é um privilégio, mas ela trás pra sua vida outros tipos de escravidão... Você nunca acha que está bom o suficiente, você sempre sente que falta alguma coisa. Eu caí na estrada poucas vezes, mas nas vezes em que eu caí pude sentir o que é realmente ser sozinha. Eu sempre me senti sozinha, durante toda a minha vida, mas quando se cai na estrada é outro tipo de solidão... É liberdade misturada com medo, autossuficiência e vulnerabilidade. Sim, é uma loucura mesmo.
Eu sou problemática, mas tento sempre fazer o melhor por mim e pelas pessoas à minha volta. Eu sempre serei uma pessoa esperançosa, pois é só isso o que me sustenta. Deus, se eu morresse hoje, ainda haveria muita coisa pra contar sobre mim... Minha vida poderia se tornar uma obra de arte ou um drama barato, depende da perspectiva. Percebi hoje que eu não estou sozinha, pois as minhas lembranças estão sempre comigo, agarradas, perturbando a minha cabeça, me irritando, me fazendo chorar... É esse o preço que se paga por querer ser livre. Você vive com a alma no futuro, mas a cabeça no passado, sempre voltando pro mesmo filme decorado e revendo tudo de novo, cada detalhe, cada falha, cada sinal de que poderia ter sido maravilhoso. Mas... Se a minha alma está no futuro e a minha cabeça no passado... Onde eu estou de verdade?

 

Monólogo de "Ride"

Foto: Eu estava no inverno de minha vida – e os homens que conheci pela estrada foram meu único verão. À noite caía no sono com visões de mim mesma dançando, rindo e chorando com eles. Três anos estando em uma turnê mundial sem fim e minhas memórias deles eram as únicas coisas que me sustentavam, e meus únicos momentos felizes de verdade. Eu era uma cantora, não muito popular, que uma vez teve sonhos de se tornar uma bela poeta – mas por uma infeliz série de eventos viu aqueles sonhos riscados e divididos como um milhão de estrelas no céu da noite, que desejei de novo e de novo – brilhantes e quebradas. Mas eu não me importava porque sabia que era necessário conseguir tudo que você sempre quis e então perder para saber o que liberdade realmente é.

Quando as pessoas que eu conhecia descobriram o que estive fazendo, como eu tinha vivido – me perguntaram o porquê. Mas não há utilidade em falar com pessoas que tem um lar. Eles sabem o que é procurar segurança em outras pessoas, já que lar é onde você descança sua cabeça.

Sempre fui uma garota incomum, minha mãe me disse que eu tinha uma alma de camaleão. Sem senso de moral apontando para o norte, sem personalidade fixa. Apenas uma indecisão interior tão extensa e tão ondulante quanto o oceano. E se eu disser que não planejei para que tudo fosse desse jeito, estaria mentindo – porque nasci para ser outra mulher. Pertenci a alguém – que pertenceu a todo mundo, quem não teve nada – que quis tudo com uma vontade por cada experiência e uma obsessão por liberdade que me aterrorizava a ponto de não poder sequer falar sobre – e me levou a um ponto de loucura onde tanto me deslumbrava quanto me deixava tonta.

Toda noite eu costumava rezar para que pudesse encontrar meu povo – e finalmente encontrei – na estrada aberta. Não tínhamos nada a perder, nada a ganhar, nada que desejávamos mais – exceto fazer de nossas vidas uma obra de arte.

VIVA RÁPIDO. MORRA JOVEM. SEJA SELVAGEM. E SE DIVIRTA

Eu acredito no país que a América costumava ser. Acredito na pessoa que quero me tornar, acredito na liberdade da Estrada aberta. E meu lema é o mesmo de sempre.
*Acredito na gentileza de estranhos. E quando estou em guerra comigo mesma – dirijo. Apenas dirijo.*

Quem é você? Você está em contato com todas as suas fantasias mais sombrias?
Você criou uma vida para si mesma onde é livre para experimentá-la?
Eu criei.
Sou maluca pra caralho. Mas sou livre.

- Lana Del Rey
Eu estava no inverno de minha vida – e os homens que conheci pela estrada foram meu único verão. À noite caía no sono com visões de mim mesma dançando, rindo e chorando com eles. Três anos estando em uma turnê mundial sem fim e minhas memór
ias deles eram as únicas coisas que me sustentavam, e meus únicos momentos felizes de verdade. Eu era uma cantora, não muito popular, que uma vez teve sonhos de se tornar uma bela poeta – mas por uma infeliz série de eventos viu aqueles sonhos riscados e divididos como um milhão de estrelas no céu da noite, que desejei de novo e de novo – brilhantes e quebradas. Mas eu não me importava porque sabia que era necessário conseguir tudo que você sempre quis e então perder para saber o que liberdade realmente é.

Quando as pessoas que eu conhecia descobriram o que estive fazendo, como eu tinha vivido – me perguntaram o porquê. Mas não há utilidade em falar com pessoas que tem um lar. Eles sabem o que é procurar segurança em outras pessoas, já que lar é onde você descança sua cabeça.

Sempre fui uma garota incomum, minha mãe me disse que eu tinha uma alma de camaleão. Sem senso de moral apontando para o norte, sem personalidade fixa. Apenas uma indecisão interior tão extensa e tão ondulante quanto o oceano. E se eu disser que não planejei para que tudo fosse desse jeito, estaria mentindo – porque nasci para ser outra mulher. Pertenci a alguém – que pertenceu a todo mundo, quem não teve nada – que quis tudo com uma vontade por cada experiência e uma obsessão por liberdade que me aterrorizava a ponto de não poder sequer falar sobre – e me levou a um ponto de loucura onde tanto me deslumbrava quanto me deixava tonta.

Toda noite eu costumava rezar para que pudesse encontrar meu povo – e finalmente encontrei – na estrada aberta. Não tínhamos nada a perder, nada a ganhar, nada que desejávamos mais – exceto fazer de nossas vidas uma obra de arte.

VIVA RÁPIDO. MORRA JOVEM. SEJA SELVAGEM. E SE DIVIRTA

Eu acredito no país que a América costumava ser. Acredito na pessoa que quero me tornar, acredito na liberdade da Estrada aberta. E meu lema é o mesmo de sempre.
*Acredito na gentileza de estranhos. E quando estou em guerra comigo mesma – dirijo. Apenas dirijo.*

Quem é você? Você está em contato com todas as suas fantasias mais sombrias?
Você criou uma vida para si mesma onde é livre para experimentá-la?
Eu criei.
Sou maluca pra caralho. Mas sou livre.

- Lana Del Rey

domingo, 14 de outubro de 2012

Vermelho




Felicidade pra mim é estar feliz por nada num domingo nublado à tarde. É poder fazer o que eu tenho vontade, é poder decidir a minha vida, é poder arriscar algo, é poder buscar a liberdade.
Felicidade pra mim é sonhar. Porque os sonhos são o que nos movem a fazer tudo na vida, são os sonhos que nos inspiram a não desistir de buscar o ideal que queremos para nós. É a imaginação a grande responsável pelos grandes feitos.
Felicidade pra mim é dormir até mais tarde num dia de chuva ou ver um filme aconchegada a alguém num dia frio. Felicidade pra mim é encontrar uma lareira quando o ar está gelado ao ponto de fazer o seu nariz doer quando respira. Acho que essa é a sensação de ver um filme aconchegada a alguém num dia frio.
Felicidade pra mim é ser quem eu sou e almejar ser quem eu quero ser sem perder a minha essência. Afinal, o básico é o grande responsável por todos os detalhes futuros.
Felicidade pra mim é ser um ponto vermelho no meio de um monte de pontos cinzas. Porque tudo o que é fora do padrão desperta interesse e curiosidade, e é dessa forma que surgem grandes histórias.
Felicidade pra mim é me apaixonar quantas vezes forem precisas até encontrar alguém que transforme essa paixão em amor. Até que eu encontre alguém que me desperte esse amor que adicionará algo a minha vida do qual eu sentia falta há muito tempo, mas não sabia o que era. Amar é uma felicidade por si só.
Felicidade pra mim é superar todas as dificuldades e barreiras impostas pelas pessoas e pelo destino e conseguir chegar onde quiser. Mas nunca, nunca chegar lá e esquecer dos lugares por onde passou, porque foram esses lugares que nos impulsionaram a continuar sempre em frente. Pra quê serviria a vida se não pudéssemos nos metamorfosear quantas vezes fossem precisas?
Felicidade pra mim é pensar sobre quantas coisas boas estão acontecendo e colocar isso tudo no papel ouvindo Michael Bublé. Acho que só pelo fato dele e sua voz serem tão bonitos minha felicidade aumenta em alguns por cento. E por algum motivo, um sorriso aparece no meu rosto quando penso nisso.
Felicidade pra mim é valorizar as origens, mas não o suficiente para ficar aprisionado a elas. É o famoso "amor livre".
Felicidade pra mim é ter esse espaço aqui pra fazer com ele o que eu quiser.
Felicidade pra mim é vestir vermelho, a cor da vida, a cor do movimento em nossos corpos, a cor do último resquício de pô-do-sol, a cor de bochechas coradas, a cor de unhas poderosas, a cor de lábios sedutores, a cor de alguns cabelos hipnotizantes. Vermelho é nada mais do que o privilégio da palavra "vida", vermelho é paixão e amor, vermelho é tudo e um pouco mais. É a cor da felicidade que eu sinto quando penso em  tudo o que está por vir.
"The Best Is Yet To Come".

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Estranhos

É estranho sonhar com você depois de tanto tempo sem te ver,
sem saber sobre você.
É estranho que eu saiba todas essas coisas através de outras pessoas 
E mais estranho ainda é ficar sabendo de coisas que eu nunca imaginei que aconteceriam com você.
Também é estranho entender que você não é quem eu pensava conhecer.
Ou talvez você tenha sido um dia... 
Mas esse dia está tão longe quanto tudo aquilo que nós já vivemos.
O vento levou, o sol queimou, a água afogou, a terra enterrou.
Não sobrou nada além de lembranças conturbadas.
Então porque é que eu sonhei com você essa noite?

Acho melhor você não começar com essa história de me assombrar.
Eu já tenho muita coisa pra pensar,
não preciso de você pra me atormentar.
Por favor, mantenha distância
Por favor, não traga de volta todo aquele drama.
Eu não quero mais viver entre as sombras das minhas lembranças,
eu não quero mais ter aquela esperança de criança.

Eu cansei de me encaixar nas estatísticas
Cansei de fazer o que todos querem que eu faça
Cansei de agir como se tudo fosse dar certo
Se eu seguisse por passos retos.
Eu sou torta, você é torto
Todos somos apenas alunos desse mundo louco.
É muito mais cômodo fazer do jeito que eles querem
mas a verdade é que eu já cansei de viver nesse cômodo
Quero mais é me perder no trânsito.

Desejo tudo de bom pra você
e pro seu bebê.
Desejo que a sua vida tenha um brilho tão forte que ninguém consiga ver
Pois quanto mais as pessoas veem, mais o brilho se apaga.
Mas desejo mais pra mim,
desejo todo o brilho, mas também desejo ficar longe de você.
Como foi estranho ter sonhado com você
Também seria estranho, depois de tanto tempo, te ver.

Seguimos por nossos caminhos separados e tão diferentes
E eu sigo sorrindo.
Agradeço pela minha vida ter tomado esse rumo.
Sigo vivendo-a contente
Sigo em frente.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Decepção

image




"Eu tinha dito que iria propor tirar a palavra utopia do dicionário. Mas, enfim, não vou a tanto. Deixe ela lá estar, porque está quieta. O que eu queria dizer, é que há uma outra questão que tem de ser urgentemente revista. 

Tudo se discut
e neste mundo, menos uma única coisa: a democracia. Ela está aí, como se fosse uma espécie de santa no altar, de quem já não se espera milagres, mas que está aí como referência. E não se repara que a democracia em que vivemos é uma democracia sequestrada, condicionada, amputada.

O poder do cidadão, o poder de cada um de nós, limita-se, na esfera política, a tirar um governo de que não se gosta e a pôr outro de que talvez venha a se gostar. Nada mais. Mas as grandes decisões são tomadas em uma outra grande esfera e todos sabemos qual é. As grandes organizações financeiras internacionais, os FMIs, a Organização Mundial do Comércio, os bancos mundiais. Nenhum desses organismos é democrático. E, portanto, como falar em democracia se aqueles que efetivamente governam o mundo não são eleitos democraticamente pelo povo?

Quem é que escolhe os representantes dos países nessas organizações? Onde está então a democracia?"

[José Saramago, A democracia amputada]





Fiquei todos esses dias sem postar nada, porque simplesmente não tinha nada na minha cabeça que valesse à pena transferir para o papel e depois pra cá... Minha mente anda muito cheia de muitas coisas, e às vezes é tanta coisa ao mesmo tempo, que parecem cartas embaralhadas, das quais não sei a ordem. Eu sei que estão lá, mas a parte mais difícil é organizá-las.
Tive uns dias de felicidade extrema por ter conseguido algo que eu queria muito, mas toda essa felicidade foi interrompida hoje, quando toda a minha esperança por tempos melhores murchou bruscamente. Não falo da minha vida especificamente, falo da sociedade brasileira num modo geral. Todo ano de eleição, eu penso que talvez algo saia diferente, que talvez a sociedade alienada acorde de uma vez e enxergue a verdade estampada na cara desses bandidos de terno. Podem me chamar de exagerada, podem me chamar de rebelde e do que mais quiserem, porque a verdade é que as pessoas gostam muito de você quando se fala coisas bonitinhas para agradá-las e deixa de expressar certas opiniões por educação ou simplesmente por falta de coragem de dizer. Dizem tanto que é um país livre, mas quando você expressa a sua opinião real e verdadeira, o povo se choca, fica escandalizado, revoltado. Mas ninguém se revolta com a quantidade de idiotices que as novelas transmitem e o pior, só ligam pra novela e interpretam-na como se fosse a vida real. Estão todos muito preocupados com o que a Carminha vai fazer com a Nina, mas ninguém se preocupa em votar conscientemente nem mesmo uma vez sequer na vida.
Sou carioca da gema, mas me mudei pra um distrito de Maricá com 7 anos e vivi lá por 10 anos. Nesses 10 anos de moradia não vi aquela "cidade" ter nenhuma mudança significativa, ou pelo menos nenhuma mudança boa para ser elogiada. O lixo aumentou, os buracos aumentaram, junto com lama, poeira, e o tamanho dos matagais. A ausência de hospitais (públicos e particulares) ainda é uma realidade por lá e ausência de escolas públicas decentes continuam sendo uma realidade também, assim como no resto do Brasil inteiro. Não vou nem falar sobre saneamento básico, porque isso nunca existiu por lá: as pessoas ainda vivem de água de poço e fossas. Certas pessoas daquele lugar tentam amenizar os problemas óbvios falando sobre a natureza que existe e que se urbanizar demais vai estragar, mas qual é? Pessoas moram lá, pessoas de todas as classes sociais e que se passarem mal levariam uma hora para chegar ao hospital mais próximo, e sendo público, provavelmente pra morrer no corredor. Crianças e adolescentes que "estudam" na rede pública serão eternos carentes do saber e muito provavelmente profissionais debilitados, com exceção daqueles que procurarem se virar sozinhos, fazendo pesquisas por conta própria, o que é algo difícil, já que com tanta falta de professor, eles sentem-se desestimulados para os estudos. Se o lugar se resumisse apenas à sua natureza, não deveriam existir pessoas por lá então. Deveria ser uma área isolada, ou protegida e com proibição de moradia. Melhor do que esse povo vivendo assim.
Em janeiro desse ano eu me mudei de lá, voltei pro Rio, mas minha mãe, irmãos e avós maternos ainda moram lá. A maior parte dos meus amigos ainda mora lá. Eu me preocupo com eles, me preocupo com a condição de vida que eles levam. Mês passado me mudei de novo, mas dessa vez pra Campinas - SP. Mas não importa para qual lugar me mude, sempre terei um eterno vínculo com o RJ, não dá pra simplesmente fazer evaporar do passado e de certa forma do presente, já que muitas das pessoas que eu amo ainda estão lá. Às vezes eu acho que seria melhor cortar esse vínculo, porque eu fico sabendo de cada coisa que me provoca um estresse profundo.
Um político que passou três anos fazendo porra nenhuma e no último ano de governo, passa na estrada principal um farelo que ele chama de asfalto, corta o mato, pinta parede de escola e faz uma ponte de 10 milhões, é reeleito como? O que esse povo tem na cabeça afinal? Passaram três anos reclamando do cara, falando mal, falando que o tirariam do governo nas próximas eleições, e aí reelegem o traste quando tem a chance de chutá-lo pra longe. Mais quatro anos de votos arrependidos, pra fazer o que depois? Colocar outro igual ou pior do que ele no lugar. Esse povo tem sérios problemas.
No Rio, aquele Eduardo Paes do inferno fez algumas obras obrigatórias de qualquer governo, principalmente porque lá serão sediados dois importantíssimos eventos internacionais, então a cidade tem que ter o mínimo de estrutura pra receber esse tipo de coisa e por causa dessas obras OBRIGATÓRIAS, o povo alienado, reelege esse babaca. Ô povo ignorante! Porque ele fez uma praça recreativa em Madureira, o povo vota nele. Mais pão e circo não tem como...
É por causa desse tipo de coisa que esse país não vai pra frente, continua nessa merda, desigualdade social cada vez maior, o abismo entre asfalto e favela cada vez maior! Eu fico me perguntando quando isso vai mudar... Talvez nunca. Eu fico ouvindo Capital Inicial e Legião Urbana, que são bandas que surgiram na época da ditadura, ouço as letras e eles parecem jovens tão motivados a fazer a diferença, a fazerem-se notados e incomodar mesmo esses bandidos de terno... Pessoas que sabiam o que é inflação, o que é corrupção, o que é democracia. Eu quase desejo ter vivido naquela época, entre essas pessoas tão conscientes da realidade e que lutavam para tentar mudar, ou pelo menos mostrar a realidade através da arte, que é o que essas bandas faziam. O que aconteceu com essas pessoas? Será que eu realmente faço parte de uma minoria em extinção?  Às vezes eu acho que faz parte dos planos secretos do governo fazer lobotomia geral nas maternidades para que depois que os bebês cresçam, eles continuem a roubar e enganar, assim como fizeram com os pais desses bebês, avós, etc. Assim o povo não reclama, não vê, não se revolta, não muda.
Como futura jornalista, eu desejo um dia conseguir fazer algo bom o suficiente para mudar alguma coisa, ou simplesmente exibir a realidade para o povo, acho que é assim que todo jornalista tem que ser. Não sei se vou conseguir fazer algo assim, mas torço pra que sim. Vou fazer de tudo pra conseguir. A verdade é que tem que existir esses seres sonhadores e que vão contra a aceitação da realidade, pra alguma coisa se mexer um pouquinho que seja de vez em quando. Ao longo da História, tivemos algumas dessas pessoas e eu espero conhecer alguém assim um dia ou fazer parte desse grupo. Porque vir ao mundo a passeio, é a mesma coisa que acordar e não sair da cama.


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Meu dia perfeito de primavera


Depois de um tempo achando que nada mais aconteceria
e que eu não iria ter um retorno de nada do que eu já havia feito,
de repente eu enxerguei melhor e encontrei a promessa de uma nova vida.
As coisas voaram por todos os lados, inclusive a minha voz e expressão séria conservada no meu rosto há muito tempo.
Eu comecei a acreditar que o vento finalmente estava soprando a meu favor.
E pela primeira vez em muito tempo, eu realmente senti de corpo e alma
algo que quase já não existia mais entre meus sentimentos: esperança.

De repente, eu me permiti a acreditar que estava no caminho certo
E eu finalmente entendi que Deus escreve certo por linhas tortas.
Eu estava sozinha, mas me senti preenchida.
E de repente, outras pessoas apareceram e eu percebi que elas estavam tão felizes quanto eu.
Talvez eu encontre amor num lugar sem esperança, afinal.
Talvez eu seja uma louca racional
Ou talvez meus passos tortos tenham-me feito tropeçar no buraco certo.

E agora eu me sinto feliz,
Como Cecília Meireles e sua janela mágica, e Tom Jobim com as suas "Águas de Março".
Pois a intensidade da  felicidade que eu sinto, só eu consigo ver.
A felicidade que eu sinto não é necessária entender.
A felicidade que eu sinto é um vento refrescante de esperança diante de um ar abafado desestimulante.
E esse vento é a única coisa da qual eu preciso.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Pessoas e Conquistas

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Nunca tive paciência para livros de autoajuda, agrada-me muito mais ajudar aos outros. Talvez eu tenha sido uma psicóloga em outra encarnação, ou algo do tipo, o fato é que eu gosto de analisar as pessoas e concluir coisas que tornam minha convivência com elas muito mais fácil, principalmente com meus complicados familiares. Já chorei, esbravejei, reclamei (e ainda reclamo muito), praguejei, gritei, sofri em silêncio e me decepcionei secretamente, mas eu acredito que muitas pessoas podem ter sentido todas essas coisas em relação a mim. Com o tempo eu aprendi a ignorar certas coisas, porque se não fizesse isso quem iria sofrer seria eu, e eu estou cansada de drama. Assim como eu nunca tive paciência pra novela mexicana...
O ser humano é muito complicado e irritante, muito irritante. Mas também é fascinante. Eu fico meio chocada quando uma pessoa diz que prefere a companhia dos animais à das pessoas, porque sinceramente, uma pessoa que diz isso perdeu completamente a esperança na vida e em si mesma, já que ela também é um ser humano. Eu adoro animais, principalmente os gatos, mas eu nunca vou preferir um deles à companhia de um racional. É mais do que isso, eu gosto das pessoas, eu gosto dos sentimentos delas, eu gosto da inteligência e do aprendizado que proporcionamos uns aos outros todos os dias. Talvez eu seja uma sonhadora, como o meu pai já disse pra mim, ou talvez eu seja apenas alguém que com todas as coisas que já passou, com todos os giros de 360° que já deu na vida, sendo tão nova, aprendeu a enxergar a vida dessa forma. Talvez como uma autodefesa, ou talvez simplesmente porque a maturidade chega para todos, em diferentes idades, sobre variadas coisas... Ninguém nunca para de amadurecer... Seria o mesmo que parar de viver.
Eu estou aprendendo a apreciar as minhas conquistas e apreciá-las sozinha, a meu modo, não me importando muito com julgamentos maldosos e amargurados. Claro que apreciar conquistas coletivamente é mil vezes melhor, ter o apoio das pessoas que você ama e ver a sua própria alegria refletiva nos olhos delas, mas em muitas vezes na vida as suas conquistas não serão reconhecidas como conquistas por ninguém, nem mesmo por quem você ama. Antes dessas pessoas serem seus amados, elas são simplesmente pessoas, que tem suas próprias concepções e opiniões, e elas não vão concordar com você. E o que importa? Continua sendo uma conquista se assim você sente, se assim você se pega pensando naquilo olhando pro teto e sorrindo... Às vezes, uma lembrança pode significar muito mais do que palavras de apoio. A sensação de que você conseguiu algo que queria muito e conseguiu... Isso não tem preço.
Ame muito a todos, mas ame principalmente a você mesmo. Faça o que você tem vontade, viva a sua vida e sorria sempre para aqueles que nunca acreditaram que você alcançaria seu objetivo. Existe coisa mais gratificante? A hora é agora e só você pode fazer com que essa hora seja realmente incrível.

A arte de ser feliz




Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto.

Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, p
ara que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.

Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Ás vezes, um galo canta.
Às vezes, um avião passa.

Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

- Cecília Meireles