segunda-feira, 28 de julho de 2014

A morte da perda


A morte da perda é uma coisa infernal 
Quando morre até mesmo a saudade daquilo que você perdeu, não existe mais nada 
Tudo aquilo desaparece, é como se nunca tivesse existido 
Todos nós estamos condenados ao esquecimento 
Vivemos esperando pela permissão de um dia finalmente conseguirmos voltar para o nosso lugar de origem: 
O grande buraco do inexistente. 

Eu não existia antes, você não existia depois 
Existimos agora, somente agora 
Não existimos ontem e não existiremos amanhã 
Somos todos insignificantes 
Tão fracos que somos capazes apenas de existir por um momento 
E no momento seguinte é como se nada tivesse tido nem mesmo a vontade de nascer 

A morte da perda é uma coisa infernal 
O vazio do esquecimento é uma coisa cruel, proporcional à grandeza de todas as coisas vividas que por um momento causaram sensações intensas, ao ponto de movimentar a alma 

O esquecimento é cruel 
A morte da perda é infernal 
O vazio é tão surreal, que chega a ser sobrenatural. 

sexta-feira, 25 de julho de 2014

O filme da perda de tempo

As pessoas perdem tanto tempo sem saber 
As pessoas perdem tempo 
As pessoas perdem tanto tempo com medo 
Tanto tempo sem saber o que fazer 
As pessoas sempre perdem muito tempo. 

Se isso fosse um filme 
Seria sobre a quantidade de tempo que as pessoas gastam 
Seria sobre deixar de fazer o que realmente importa 
Seria sobre preferir insistir no nada ao invés de arriscar uma coisa nova 
Seria sobre perder as oportunidades 
As pessoas perdem muito tempo.

Quanto tempo vai levar pra eu deixar pra trás o nada?
Quanto tempo vou levar pra digerir o fracasso de não ter conseguido transformar o nada em tudo?
Quanto tempo pra mim?
Quanto tempo até eu me abrir de novo apesar de tudo?

As pessoas perdem muito tempo 
As pessoas sempre perdem muito tempo 

Eu não quero mais perder tempo. 

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Deixe-me

Deixe-me voltar
Deixe-me rebobinar as palavras e tentar escrevê-las sem você nelas
Deixe-me fingir que nunca te conheci, deixe-me, deixe-me ir.
Eu não quero mais escrever sobre você
Essas palavras são minhas, você não tem o direito de estar aqui 
Deixe-me, deixe-me ir.

Meu coração está aberto 
Estou mandando essas energias, essas energias pro Universo 
Essas energias que dizem que eu desisto 
Não quero mais tentar, não quero mais insistir, não quero mais me acabar 
Estou mandando essas energias pro Universo 
Estou aberta pro novo, estou aberta pra alguma coisa que dê certo 

E eu sei que o Universo me ouve, ele sempre me ouve 
E é por isso que eu peço 
Deixe-me ir 
Deixe-me em paz pra esquecer, pra viver 
Eu não quero mais sofrer 

O mais difícil pra uma pessoa tão intensa e determinada como eu 
Foi aceitar que você nunca poderia ser meu 
Me doeu tanto, acabou comigo
Aceitar isso foi como ir contra a minha natureza
Pra uma pessoa determinada como eu, foi demais reconhecer 
Que nada adiantaria com você.

E uma vez que aceitei isso, o resto pode vir mais fácil 
Eu não posso querer você, eu não posso mais 
Eu posso apenas querer o que eu mereço 
Eu posso apenas querer ser feliz 
Eu posso apenas dizer
"Deixe-me!"
Consegui esse jeito.



segunda-feira, 14 de julho de 2014

Poderemos?

Será que algum dia poderemos nos encontrar? 
Eu durmo até meio dia, você vai pra cama meia noite 
Eu faço com carinho, você faz rapidinho 
Eu sou a estudante de Letras espontânea, você é o piloto que vive de razões instantâneas 

Será que algum dia poderemos nos encontrar?
Eu sonho acordada, você está sempre ligado 
Eu resolvo a minha vida, você está sempre com alguma dúvida escondida 
Eu quero saber, eu realmente me interesso por você 
Você nunca me deixa entrar pra tentar entender 

Será que algum dia poderemos nos encontrar?
Eu preciso ser amada, você não sabe se pode me dar isso 
E quando você segura a minha mão 
Eu não sei se é um gesto automático 
Ou se realmente vem do coração 

Será que algum dia poderemos nos encontrar?
Conseguiremos construir a ponte que liga os meus sentimentos aos seus?
Conseguiremos descobrir se você tem algum sentimento por mim?
Conseguiremos permanecer por quanto tempo assim?
Eu não quero amar sozinha, eu quero você, eu quero que você me acompanhe 
Será que você consegue, será que você me acolhe?
Você conseguirá me acolher no seu coração como eu acolhi você no meu?

Será que algum dia poderemos nos encontrar?


domingo, 6 de julho de 2014

Há muito tempo aprendi a ser assim



Há muito tempo aprendi a viver sozinha, encontrar felicidade nas poucas coisas que provaram-se reais, fazer de mim minha própria casa 
Há muito tempo aprendi a ser assim
Aprendi que amar loucamente a família não necessariamente significa viver com eles todos os dias, não necessariamente significa que você não possa fazer suas escolhas individuais e que não possa ter vida.
Há muito tempo aprendi a ser assim.
Aprendi inclusive que além da família, você terá alguns poucos amigos verdadeiros, e talvez não tenha nenhum amor verdadeiro como todos dizem que existe.
Aprendi que alma gêmea pode ser um irmão ou mesmo um amigo, aprendi que escutar os problemas dos outros é a melhor terapia que existe pra esquecer os seus
Pois admita 
Somos todos muito egocêntricos.

E café continua sendo um excelente combustível e a minha bebida de lembranças 
Uma das poucas coisas que aprendi há muito tempo e que permanece até hoje como uma de minhas verdades absolutas 
Falando nisso, sou obrigada a perguntar:
Existe alguma verdade? Existe alguma coisa absoluta? 
Tudo tem sua margem de erro, tudo tem sua exceção, seu imprevisto, sua mudança de última hora... Tudo é adaptação 
Há muito tempo aprendi a ser assim 
Há muito tempo aprendi que seria sempre essa velha com cara de criança 
E talvez seja melhor ser assim do que uma enferrujada por fora e alienada por dentro 
Pois eu não enferrujo 
Eu paraliso, paro de vez em quando pra definir os próximos passos ou digerir os novos acontecimentos 
Eu paro sim, eu penso sim 
Na verdade penso até mais do que deveria, há muito tempo aprendi a ser assim.

E eu sei que os dias não passam de ilusão e que tudo é passageiro... 
Mas eu acredito sim que dentro de cada passagem, que dentro de cada ilusão, há alguma absoluta verdade. E são essas pequenas absolutas verdades que nos perseguem e nos fazem duvidar, nos fazem querer descobrir até que ponto as mentiras não passam de apenas verdades disfarçadas... 
Há muito tempo aprendi a ser assim.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Urgências

A vida é feita de urgências 
Urgência de tomar um banho após uma longa caminhada 
Urgência de beijar a boca da pessoa que vaga pelas suas noites e te mantém acordada 
Urgência de realizar planos 
Urgência de mudança 
Urgência de colocar um casaco num dia gelado.

A vida é feita de urgências 
E todas essas urgências são o combustível para o movimento da vida 
Ninguém vive apenas de planos no papel 
Ninguém vive apenas de esperança 
Ninguém vive apenas de paciência 
É preciso movimento, é preciso urgência 

A vida é feita de urgências 
Urgências que necessitam sempre de pronto atendimento 
Urgências loucas, que consomem, que perturbam, que gritam para serem ouvidas o mais rápido possível.
Outro dia eu tive uma urgência de voltar no tempo... 
Quando meu pai buscava eu e meus irmãos na casa da minha mãe com o blues alto no carro 
Clapton, Buddy Guy e B.B. King eram nossas companhias 
E mesmo que houvessem intrusos no meio 
Aquele era um momento nosso 
Uma urgência particular 

E eu tive essa urgência, essa urgência de voltar 
Nós três, blues, meu pai cantando alto e mais nada 
Nós quatro na estrada 
Eu tive essa urgência de voltar, assim como tenho tantas outras urgências 
Minha vida gira em torno da minha família
Eu quase nem lembro de mim 
Conservar os bons momentos na memória, ah...
Isso é urgência pra mim.

Existem urgências momentâneas, existem urgências permanentes 
De qualquer forma, a vida é feita de urgências 
E temos que viver como se tudo fosse sempre uma urgência
A vida é feita de urgências.