quarta-feira, 30 de março de 2016

Sopro

Me abrace forte uma última vez 
Jamais me deixe ir... 
Faça durar para sempre... 
Eu não quero mais viver de memórias 
É tempo de algo novo, 
Pois a vida é fraca como um sopro. 
Isso é o tempo virado do avesso 
E eu já não posso mais viver no mais ou menos. 

Me beije pela última vez 
Talvez te peça pra passar a noite 
Mas de manhã terei ido... 
Você não terá mais a chance de me abraçar quando sentir frio 
Terá apenas a lembrança da cama quente... 
Quero que fique pra você. 

Quando eu me for, não quero raiva, 
Nem promessas disfarçadas 
Da falência que fomos nós. 
Portanto, me dê a última olhada 
Segure minha mão uma última vez 
Pois a vida é fraca como um sopro 
Isso é o tempo virado do avesso 
E eu vivi assim por muito tempo. 

Me abrace forte uma última vez 
Tente me manter aqui 
Mas saiba 
Que é tempo de algo novo 
E eu já fui embora várias vezes... 
Mas dessa vez 
Eu simplesmente não existo mais aqui 
Deixo todas as lembranças pra você... 
Me abrace forte um última vez...

terça-feira, 29 de março de 2016

Aquela coisa de sempre e mais outra coisa

O tempo não me sente, 
Mas eu o sinto. 
Anos atrás, ouvi a mesma música 
Anos atrás achei que tudo acabaria
Eu ainda estou aqui... 
Nada mudou.

O tempo não me sente, 
Mas eu o sinto. 
Gostaria de não sentir... 
E de não perceber 
Que tudo permanece igual.
Às vezes só queria que 
Houvesse uma explosão 
Onde tudo seria obrigado a terminar
Para que eu pudesse então 
Construir do zero
Mais uma vez.

Pois meu vício em mudanças não passa 
E o tédio que a rotina me causa, perdura. 
E eu já não sei mais como aceitar 
Que haverão tempos de mais do mesmo 
Que haverão fases de estabilidade 
Mesmo que essa estabilidade não seja boa 
Ela virá para mim mesmo sem eu ter pedido 
Assim como o vento venta sob condições 
Que estão além do meu controle.

Eu quero me construir do zero 
Pois todo dia, quando sinto o tempo 
Tenho medo de ser tarde demais.
E esse é o desespero maior de mais uma madrugada igual
À tantas outras 
Que eu já não suporto mais 
Pois meu vício em mudanças não passa 
E o tédio que a rotina me causa, perdura.

O tempo não me sente, 
Mas eu o sinto.
Esse é o pior dos amores não correspondidos.
É como uma mulher que seduz lindamente 
Mas nunca chega perto o bastante
Para acontecer o beijo.
Talvez o tempo seja eu
Talvez eu não seja ninguém
Além de uma ansiosa perdida num inferno astral de madrugadas sem fim
E nada disso importe 
Assim como nada 
Do que eu controlo importa:
Quero apenas o que não tenho.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Votos de renovação



Vento de Outono...
Já posso te sentir. 
Ao meu redor, 
Na minha pele, 
Descabelando meu cabelo. 
Você já chegou.

Sei que você chegou, 
Pois as noites não estão mais tão quentes. 
Sinto pequenas brisas arrepiando minha nuca, 
E mesmo os vendavais que vem do mar, são tranquilos.  
Sinto paz... 
Finalmente consigo respirar.

Eu escrevo e reescrevo meus planos... 
Mil vezes 
Até finalmente rasgar e jogar fora, 
Pois a minha vida sempre foi um Rio de Janeiro 
De estações indefinidas. 

Hoje, 
Estou descalça 
No primeiro andar do prédio. 
Dançando perto das escadas 
Acompanhada dos ventos 
Do meu amado Outono.

Logo será maio, 
E haverá um novo número. 
Eu nunca fui boa com números, 
Mas sempre fui boa com esperança.
Aquela minha velha esperança renovada 
Pelo ventos de Outono. 

E se me sinto assim,
É porque sei que você já chegou. 

terça-feira, 15 de março de 2016

O bêbado e o crente



Igreja bem ao lado de um boteco.
Dois tipos de pessoas, mesmo propósito:
Frequentar lugares que lhes proporcionem consolo para as tantas adversidades do cotidiano.
Nos dois lugares existem pessoas que não querem enxergar a realidade
Nos dois lugares há a tentativa de fuga.
O bêbado se embriaga pra aguentar continuar vivendo apesar de toda merda que acontece com ele;
O crente reza para achar algum propósito em toda merda que acontece com ele.
Dois sonhadores,
Dois iludidos.
Dois infelizes,
Dois perdidos.
Ambos querem chegar ao paraíso: O crente reza pra que possa entrar no paraíso quando morrer
O bêbado bebe pra que possa encontrar um pouco desse paraíso enquanto vivo
Pois tem consciência de que depois de morto
Há apenas terra.
Já o crente muitas vezes esquece
Que a terra é inevitável e acontecerá para todos
Inclusive pra quem paga o dízimo
E pra quem recolhe.
Um dia estarão lado a lado, mais uma vez
Bêbado e crente
Debaixo da terra inevitável
Sendo tomados por vermes. 
Não muito diferente do que tiveram em vida 
Pois num boteco ou numa igreja 
Nessa vida somos revirados por todos os tipos de vermes 
Às vezes somos os próprios vermes em nossas vidas 
Às vezes outras pessoas são
Acelerando o processo de morrer 
Todos os dias 
Até o grande final em que somos jogados para servir de comida 
De mais vermes malditos.
É a vida. 
É a morte.
Que diferença faz?

A madrugada cabe em mim

A madrugada cabe em mim
Junto com todos os sonhos do mundo.
Mas eu sou grande demais pra ela 
Sou barulhenta,
Confusa,
Caótica.
E ela não quer me acolher,
Embora arrombe minha porta sem nem me dar escolha.
Me invade e não me deixa em paz
Porque sabe que cabe em mim
A madrugada sempre age assim.

Eu peço-a um tempo: Me deixe dormir 
Não quero passar outra noite olhando a rua pela janela da sala, ou do quarto 
Não quero passar outra noite olhando pro teto
Vasculhando memórias que já nem fazem sentido 
Mas ela não deixa, a madrugada não me deixa
Já passei tantas vidas de madruga 
repetindo as mesmas músicas 
Ouvindo meus hinos 
Os que embalam minhas noites melancólicas 
Gritando os alegres 
torcendo para ter um dia seguinte melhor.

Quantas vidas de madrugadas mais serão necessárias 
Para que meu sufoco seja sufocado?
Meus gritos já não têm voz
Minhas lembranças já não reconhecem-se mais 
como meras lembranças.
 
De repente, tudo parece ter vida 
Todos os meus demônios internos 
De todas as vidas de madrugada 
De todas as vidas de dias claros 
De todos os momentos em que eu achei que fossem capazes de entrar na minha pele 
E revirar meus pensamentos 
De todas as vezes em que vivi vidas inteiras dentro de madrugadas.

Mas eu ainda estou aqui 
(ainda há vida)
(...)

domingo, 6 de março de 2016

Em momentos como esse

Em momentos como esse,
Só o que preciso fazer é 
Chorar, 
(minhas lamentações que só as paredes podem entender)
Escrever, 
(quando eu já chorei o suficiente e restam apenas palavras)
Beber 
(quando já não restam nem lágrimas e nem palavras
quando restam apenas lembranças repetindo-se sem parar na minha cabeça, como uma espécie de tortura)


Em momentos como esse 
Pensa-se que o dia amanhecerá chuvoso 
(mas o mundo não para porque estou magoada)
Não.
Eu ainda tenho que trabalhar,
Comer,
Me vestir,
Lavar a louça,
Fazer café,
Tomar banho,
Passar maquiagem,
Ainda tenho que fingir 
Que não estou chorando no último assento do ônibus.


Em momentos como esse,
É difícil admitir 

A facilidade com a qual nos tornamos clichê
Desde que começamos, até aqui
E assim seremos até o fim
Onde nós dois chegaremos um dia

(pois o ser humano sempre é mais clichê do que pensa).