quarta-feira, 27 de junho de 2012

Pensamentos de uma coruja

 

Acho que eu nunca vou me acostumar com a minha vida estranha. Talvez ela seja sempre estranha, talvez melhore eventualmente, mas sempre vai ter um pouco de esquisitice ao redor dela. E dentro também.
Eu sou uma coruja. Eu não consigo dormir cedo e sempre fico até certa hora da madrugada com os olhos abertos e a mente cheia. É quase como se eu funcionasse melhor no escuro. Eu sou uma coruja. Vejo coisas que ninguém mais vê e às vezes as pessoas veem coisas que eu não vejo ou coisas que eu não quero ver. Mas eu sei que não adianta fingir que não se vê os problemas, porque eles veem você sempre. E estão sempre à sua espera, não importa quanto tempo de espera seja. Em alguma hora, você vai acabar voltando pra eles, até finalmente resolvê-los.
Eu estou chocada. Chocada com muitas coisas, com muita gente, com o mundo e até um pouco chocada comigo também. Tem momentos que eu me pego pensando "WHAT THE HELL?" E penso assim mesmo, em letras maiúsculas, gritos na minha cabeça que me atormentam e me deixam surda. E o problema é que ninguém ignora gritos, todos procuram saber de onde vem, mesmo que seja uma procura rápida e temporária. E ultimamente eu tenho ouvido muitos gritos, de todos os tipos, de todas as pessoas e até mesmo gritos do passado. Num primeiro momento, eu quis ir lá, mexer naquela antiguidade, senti uma necessidade de fazer isso. Mas, quando estava sozinha no silêncio da madrugada e consegui pensar melhor, percebi que não quero desenterrar um pó. Sim, um pó, porque já se decompôs há muito tempo, não faz sentido mexer num pó. E além do mais, eu tenho alergia à poeira.
Acabei por perceber que às vezes temos que tentar ignorar certas coisas, por mais difíceis que sejam. Temos que ouvir o grito, ficar a par da situação, registrar a informação e depois enterrá-la e não fazer absolutamente nada. Absolutamente nada. Eu sou a favor a ajudar as pessoas, sou uma pessoa que adora fazer isso, mas quando o problema é obscuro demais, prefiro ignorar o grito, porque não quero me enfiar numa encrenca que não é minha. Quer dizer, antes de tentar resolver os problemas dos outros, tenho que tentar resolver os meus, não é mesmo? Portanto, a partir de hoje, estou completamente surda. Só vou tirar os tampões dos meus ouvidos quando tiver resolvido tudo o que é meu. Até lá, a coruja aqui não ouve nenhum grito, por mais alto que seja.

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