segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Decepção

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"Eu tinha dito que iria propor tirar a palavra utopia do dicionário. Mas, enfim, não vou a tanto. Deixe ela lá estar, porque está quieta. O que eu queria dizer, é que há uma outra questão que tem de ser urgentemente revista. 

Tudo se discut
e neste mundo, menos uma única coisa: a democracia. Ela está aí, como se fosse uma espécie de santa no altar, de quem já não se espera milagres, mas que está aí como referência. E não se repara que a democracia em que vivemos é uma democracia sequestrada, condicionada, amputada.

O poder do cidadão, o poder de cada um de nós, limita-se, na esfera política, a tirar um governo de que não se gosta e a pôr outro de que talvez venha a se gostar. Nada mais. Mas as grandes decisões são tomadas em uma outra grande esfera e todos sabemos qual é. As grandes organizações financeiras internacionais, os FMIs, a Organização Mundial do Comércio, os bancos mundiais. Nenhum desses organismos é democrático. E, portanto, como falar em democracia se aqueles que efetivamente governam o mundo não são eleitos democraticamente pelo povo?

Quem é que escolhe os representantes dos países nessas organizações? Onde está então a democracia?"

[José Saramago, A democracia amputada]





Fiquei todos esses dias sem postar nada, porque simplesmente não tinha nada na minha cabeça que valesse à pena transferir para o papel e depois pra cá... Minha mente anda muito cheia de muitas coisas, e às vezes é tanta coisa ao mesmo tempo, que parecem cartas embaralhadas, das quais não sei a ordem. Eu sei que estão lá, mas a parte mais difícil é organizá-las.
Tive uns dias de felicidade extrema por ter conseguido algo que eu queria muito, mas toda essa felicidade foi interrompida hoje, quando toda a minha esperança por tempos melhores murchou bruscamente. Não falo da minha vida especificamente, falo da sociedade brasileira num modo geral. Todo ano de eleição, eu penso que talvez algo saia diferente, que talvez a sociedade alienada acorde de uma vez e enxergue a verdade estampada na cara desses bandidos de terno. Podem me chamar de exagerada, podem me chamar de rebelde e do que mais quiserem, porque a verdade é que as pessoas gostam muito de você quando se fala coisas bonitinhas para agradá-las e deixa de expressar certas opiniões por educação ou simplesmente por falta de coragem de dizer. Dizem tanto que é um país livre, mas quando você expressa a sua opinião real e verdadeira, o povo se choca, fica escandalizado, revoltado. Mas ninguém se revolta com a quantidade de idiotices que as novelas transmitem e o pior, só ligam pra novela e interpretam-na como se fosse a vida real. Estão todos muito preocupados com o que a Carminha vai fazer com a Nina, mas ninguém se preocupa em votar conscientemente nem mesmo uma vez sequer na vida.
Sou carioca da gema, mas me mudei pra um distrito de Maricá com 7 anos e vivi lá por 10 anos. Nesses 10 anos de moradia não vi aquela "cidade" ter nenhuma mudança significativa, ou pelo menos nenhuma mudança boa para ser elogiada. O lixo aumentou, os buracos aumentaram, junto com lama, poeira, e o tamanho dos matagais. A ausência de hospitais (públicos e particulares) ainda é uma realidade por lá e ausência de escolas públicas decentes continuam sendo uma realidade também, assim como no resto do Brasil inteiro. Não vou nem falar sobre saneamento básico, porque isso nunca existiu por lá: as pessoas ainda vivem de água de poço e fossas. Certas pessoas daquele lugar tentam amenizar os problemas óbvios falando sobre a natureza que existe e que se urbanizar demais vai estragar, mas qual é? Pessoas moram lá, pessoas de todas as classes sociais e que se passarem mal levariam uma hora para chegar ao hospital mais próximo, e sendo público, provavelmente pra morrer no corredor. Crianças e adolescentes que "estudam" na rede pública serão eternos carentes do saber e muito provavelmente profissionais debilitados, com exceção daqueles que procurarem se virar sozinhos, fazendo pesquisas por conta própria, o que é algo difícil, já que com tanta falta de professor, eles sentem-se desestimulados para os estudos. Se o lugar se resumisse apenas à sua natureza, não deveriam existir pessoas por lá então. Deveria ser uma área isolada, ou protegida e com proibição de moradia. Melhor do que esse povo vivendo assim.
Em janeiro desse ano eu me mudei de lá, voltei pro Rio, mas minha mãe, irmãos e avós maternos ainda moram lá. A maior parte dos meus amigos ainda mora lá. Eu me preocupo com eles, me preocupo com a condição de vida que eles levam. Mês passado me mudei de novo, mas dessa vez pra Campinas - SP. Mas não importa para qual lugar me mude, sempre terei um eterno vínculo com o RJ, não dá pra simplesmente fazer evaporar do passado e de certa forma do presente, já que muitas das pessoas que eu amo ainda estão lá. Às vezes eu acho que seria melhor cortar esse vínculo, porque eu fico sabendo de cada coisa que me provoca um estresse profundo.
Um político que passou três anos fazendo porra nenhuma e no último ano de governo, passa na estrada principal um farelo que ele chama de asfalto, corta o mato, pinta parede de escola e faz uma ponte de 10 milhões, é reeleito como? O que esse povo tem na cabeça afinal? Passaram três anos reclamando do cara, falando mal, falando que o tirariam do governo nas próximas eleições, e aí reelegem o traste quando tem a chance de chutá-lo pra longe. Mais quatro anos de votos arrependidos, pra fazer o que depois? Colocar outro igual ou pior do que ele no lugar. Esse povo tem sérios problemas.
No Rio, aquele Eduardo Paes do inferno fez algumas obras obrigatórias de qualquer governo, principalmente porque lá serão sediados dois importantíssimos eventos internacionais, então a cidade tem que ter o mínimo de estrutura pra receber esse tipo de coisa e por causa dessas obras OBRIGATÓRIAS, o povo alienado, reelege esse babaca. Ô povo ignorante! Porque ele fez uma praça recreativa em Madureira, o povo vota nele. Mais pão e circo não tem como...
É por causa desse tipo de coisa que esse país não vai pra frente, continua nessa merda, desigualdade social cada vez maior, o abismo entre asfalto e favela cada vez maior! Eu fico me perguntando quando isso vai mudar... Talvez nunca. Eu fico ouvindo Capital Inicial e Legião Urbana, que são bandas que surgiram na época da ditadura, ouço as letras e eles parecem jovens tão motivados a fazer a diferença, a fazerem-se notados e incomodar mesmo esses bandidos de terno... Pessoas que sabiam o que é inflação, o que é corrupção, o que é democracia. Eu quase desejo ter vivido naquela época, entre essas pessoas tão conscientes da realidade e que lutavam para tentar mudar, ou pelo menos mostrar a realidade através da arte, que é o que essas bandas faziam. O que aconteceu com essas pessoas? Será que eu realmente faço parte de uma minoria em extinção?  Às vezes eu acho que faz parte dos planos secretos do governo fazer lobotomia geral nas maternidades para que depois que os bebês cresçam, eles continuem a roubar e enganar, assim como fizeram com os pais desses bebês, avós, etc. Assim o povo não reclama, não vê, não se revolta, não muda.
Como futura jornalista, eu desejo um dia conseguir fazer algo bom o suficiente para mudar alguma coisa, ou simplesmente exibir a realidade para o povo, acho que é assim que todo jornalista tem que ser. Não sei se vou conseguir fazer algo assim, mas torço pra que sim. Vou fazer de tudo pra conseguir. A verdade é que tem que existir esses seres sonhadores e que vão contra a aceitação da realidade, pra alguma coisa se mexer um pouquinho que seja de vez em quando. Ao longo da História, tivemos algumas dessas pessoas e eu espero conhecer alguém assim um dia ou fazer parte desse grupo. Porque vir ao mundo a passeio, é a mesma coisa que acordar e não sair da cama.


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