sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Talvez


O corpo é podre
E com o passar do tempo, vai continuar a apodrecer. 
E cada gota de cada café que eu já tomei na vida
Vai desaparecer. 
E mesmo o sangue que corre nas minhas veias 
Vermelho, como a vida, vai morrer. 
E o vento vai levar até mesmo as tantas palavras que eu já falei
Palavras que tantos transformaram em pretexto pra me chamar de rebelde. 
As minhas justificativas não estarão mais aqui
E até os acusadores encontrarão a morte.

Minhas mãos agarradas em uma caneta e em um papel
Minhas unhas pintadas de vermelho rebelde 
O risco de delineador preto nos meus olhos quase cor de café
Minha pele branca como a mais clara luz
Ou o dia mais sem cor possível
Minhas sardas claras e escuras 
Meus cabelos castanhos 
E até minhas ondas
E o emaranhado de sonhos e planos 
Tudo isso vai apodrecer.

Mas algo vai ficar
Talvez fiquem meus futuros filhos 
Talvez fiquem os cadernos que sempre foram minha maior obsessão 
Talvez fiquem todas as fotos sem razão
Talvez reste um fio de cabelo na minha escova rosa.
Talvez fique a minha gargalhada escandalosa 
Talvez fiquem meus dramas
Talvez fique meu perfume, ou meu All Star 
Talvez eu fique, talvez eu vá embora
Talvez as músicas que eu sempre amei passem a ecoar nas paredes de algum lugar que eu ainda não sei 
Talvez eu apodreça 
E o vento leve embora a fumaça das minhas cinzas 
Talvez. 
Talvez eu não morra, afinal. 
Talvez eu jamais tenha estado aqui. 
Talvez nem exista "aqui".
Talvez... 

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