quinta-feira, 26 de junho de 2014

No meio do nada



Eu não sou nada 
Nasci numa das maiores periferias do mundo 
Na favela mais nojenta que é o meu país
Que pensa que belezas naturais mascaram a lama que está na raiz
Eu não sou nada 

Nasci brasileira, com o passaporte visado 
Com grandes esperanças e muitos sonhos roubados 
Não sou nada 
Não me encaixo aqui, mas também não sou ninguém fora daqui 
Sobrenomes europeus não significam nada 
Quando na sua certidão está escrito 
"Rio de Janeiro" 

Quem é você? O que veio fazer aqui? 
Pois eu, eu te digo 
Não sei o que estou fazendo aqui, sei apenas que nasci no meio do nada
No meio do nada, vergonha no mapa, piada interna e externa 
Não sou nada 

Na nossa lama, a gente se encontra 
Na ilusão de que tudo está bem, lutamos por um pouco mais de grana
Batons vermelhos não podem disfarçar a pobreza 
De ter nascido num país sem identidade 
Somos todos vira-latas
Apaixonados e alienados. 

Somos brasileiros suados no eterno calor, em busca de algum amor. 
Eu não sou nada.
Mas você também não é nada
E juntos vivemos como podemos 
Vivendo pela ilusão de que tudo será melhor um dia. 
É como viver dormindo 
Um dia dou o fora daqui...

3 comentários:

  1. Ciao Carolina! As always I love your writing. As suas palavras trazem esperanca e toque nossas vidas. Bravo, Caro. I'm sorry that it has been a while since I've visited.

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  2. And excuse me if u accidentally sent a message twice. I'm using my iphone

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