quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Trem

O trem dá sinais de que vai partir. Vai começar, ele está acelerando lentamente até atingir uma velocidade contínua. E ele continua. E continua. E continua. Continua seguindo para o lugar de destino, mas quem é que sabe se ele realmente vai conseguir nos levar a esse lugar de destino? E se algo acontecer durante o trajeto? E se algo acontecer com os trilhos da estação, ou com a sinalização, ou com qualquer outra coisa? E se ele pegar fogo? E se...?

Tudo pode acontecer, mas cedo ou tarde chegamos ao nosso destino, seja lá qual for ele. Pode ser uma pessoa, pode ser uma descoberta, pode ser o fim de uma grande trajetória. Pode ser qualquer coisa, desde que essa coisa chegue. E quando ela chegar, é o fim, não resta mais nada, é o fim da viagem, é o fim das expectativas, o fim dos planos e ideias. É o fim de um motivo  para viver. Mas será que realmente existe fim? Toda vez que chegamos ao fim, automaticamente iniciamos uma nova trajetória para um novo fim. Então o fim não existe verdadeiramente. É apenas uma porta que se fecha para uma próxima ser aberta.

Quem pega o trem na estação tem uma ideia do que vai acontecer. Sabe pra onde o trem vai, sabe como vai, sabe que vai começar a viagem lentamente e a um certo momento atingir uma velocidade que pode até dar medo. Ou simplesmente causar adrenalina, mas uma adrenalina que faz sorrir pela euforia que esta provoca. Quem pega o trem na estação sabe de tudo isso, mas e quem pega o trem já em movimento? Ou na próxima estação? Quem pega algo com meio caminho andado, ou um quarto do caminho andado, ou mais da metade do caminho andado não sabe onde está pisando, não sabe onde está se metendo, não sabe de nada. Quem pega algo que já tem história só tem tempo de fazer um breve reconhecimento do local e torcer para que dê tudo certo. Quem pega algo em movimento só tem tempo de lutar pra conseguir subir a bordo, torcer pra não cair e rezar para que seja conforme o esperado. Quem pega um trem em movimento só pode desejar que lá dentro ainda haja um lugar. Um lugar que fique entre pessoas não tão sofridas, ou não tão perdidas, ou não tão sem esperança, ou não tão velhas. Quem pega um trem em movimento quer alguém para compartilhar ideias, quer alguém para construir junto com ela. Porém, quem pega um trem em movimento sabe que isso raramente acontece. Quem se mete em local já ocupado só pode se moldar aos costumes e regras. Quem se mete em local já ocupado só pode torcer para não ser rejeitado. Quem se mete em local já ocupado tem que se preparar para todas as surpresas que vão acontecer pelo caminho. Quem se mete em local movimentado, tem que dar graças a Deus se tiver um lugar, mesmo que seja apertado. 

Há pessoas que se transformam para dar certo no meio de um trem cheio e já em movimento, mas há pessoas que tentam se adaptar sem se auto negar. Essas pessoas geralmente descem na próxima estação, mas em raras vezes conseguem esvaziar todo um vagão. Pode ser por ter ganhado confiança e admiração, ou pode ser por fuga coletiva, ou expulsão. 

Mas quem pode saber o que acontecerá num trem em movimento? Quem pode saber se é boa ideia entrar num lugar já ocupado, quem pode saber se não é precipitado? Ninguém pode saber, mas para ter as respostas, é preciso entrar e ver o que pode acontecer. Se não der certo, a próxima estação estará sempre disponível para descer. E nela você pode pegar um próximo trem ou simplesmente sair da estação e ver o que há de bom. 
O fim não existe, porque ele não tem fim.

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