Na minha
mania de observar, percebi que algumas manias e características minhas são
hereditárias. Minha avó Rita tem mania de sentar e ficar olhando pros pés,
exatamente como eu; meu avô Éldio tem mania de reclamar loucamente quando está
revoltado com alguma coisa ou alguém, exatamente como eu; meu avô Lecy é
viciado em música, sendo capaz de passar um dia inteiro ouvindo, exatamente
como eu; minha avó Regina tem mania de escrever tudo o que ela acha importante
ser lembrado, mesmo que ela nunca mais vá ler o que escreveu, exatamente como
eu. Minha maneira rápida de andar vem da minha avó Rita e do meu pai, mas minha
pisada forte vem do meu avô Éldio; a minha teimosia vem da minha mãe e do meu
avô Éldio. Minha aparência é um misto estranho de portugueses, alemães, índios,
italianos, africanos e espanhóis que deu
mais ou menos certo (não sei como). Minha bunda exagerada vem da minha avó
Regina, minha sobrancelha falhada vem do meu avô Éldio, meu pai tem um sinal
entre o peito como eu, meus pés são muito parecidos com os da minha mãe, assim
como as costas largas, e meu nariz de batatinha tem origem antiga numa parte da
minha família por parte de pai, que pra mim começa pelo meu avô Lecy, mesmo que
a batata dele seja maior do que a minha.
Dentro de
todas essas características herdadas, eu me pergunto se alguém é realmente
capaz de ser original. Quer dizer, além de sermos "hereditários",
também somos em grande parte produtos do meio em que vivemos, então, será que
alguém tem alguma característica própria? É como se fôssemos uma massa de bolo
que foi assada em várias fôrmas diferentes. Será?
Ao mesmo
tempo em que eu enxergo tantas semelhanças, também não escapa de meus olhos que
eu consigo ser completamente diferente da minha família em muitos outros
aspectos e talvez seja por esse motivo que nenhum deles nunca entendeu a minha
cabeça muito bem. Eu sou confusa, há muito a ser dito sobre mim, pois a jornada
do autoconhecimento nunca acaba e por eu ter plena consciência disso e eles
não, ficamos com falta de assunto muitas vezes. Sempre fui uma menina precoce
na maioria das coisas, e essa é uma outra coisa da qual eles nunca gostaram...
Minha individualidade e vontade de ser independente desde criança, sempre
incomodou. Mas é assim que uma família deve ser, certo? Cada um unido pelas
semelhanças, e devidamente reconhecido como ser humano único por suas
diferenças. Se somos apenas reflexos, somos reflexos embaçados, pois é esse
embaçado que muitas vezes mostra a todos, como cada um de nós é único e
especial à sua própria maneira. Cada ser humano com seu livre arbítrio,
qualidades, defeitos e semelhanças conectados por um sentimento em comum: amor.
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