quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Reflexos embaçados



Eu não tenho uma família grande como as daquelas pessoas que a avó teve mais de 10 filhos e por causa disso tem sei lá quantos mil tios e sei lá quantos milhões de primos, mas eu tenho os quatro avós vivos. Que tal isso? Meus avós paternos - Rita e Lecy; e meus avós maternos - Regina e Éldio. Todos eles com seus respectivos problemas de saúde, mas bem vivinhos.
Na minha mania de observar, percebi que algumas manias e características minhas são hereditárias. Minha avó Rita tem mania de sentar e ficar olhando pros pés, exatamente como eu; meu avô Éldio tem mania de reclamar loucamente quando está revoltado com alguma coisa ou alguém, exatamente como eu; meu avô Lecy é viciado em música, sendo capaz de passar um dia inteiro ouvindo, exatamente como eu; minha avó Regina tem mania de escrever tudo o que ela acha importante ser lembrado, mesmo que ela nunca mais vá ler o que escreveu, exatamente como eu. Minha maneira rápida de andar vem da minha avó Rita e do meu pai, mas minha pisada forte vem do meu avô Éldio; a minha teimosia vem da minha mãe e do meu avô Éldio. Minha aparência é um misto estranho de portugueses, alemães, índios, italianos, africanos e espanhóis  que deu mais ou menos certo (não sei como). Minha bunda exagerada vem da minha avó Regina, minha sobrancelha falhada vem do meu avô Éldio, meu pai tem um sinal entre o peito como eu, meus pés são muito parecidos com os da minha mãe, assim como as costas largas, e meu nariz de batatinha tem origem antiga numa parte da minha família por parte de pai, que pra mim começa pelo meu avô Lecy, mesmo que a batata dele seja maior do que a minha.
Dentro de todas essas características herdadas, eu me pergunto se alguém é realmente capaz de ser original. Quer dizer, além de sermos "hereditários", também somos em grande parte produtos do meio em que vivemos, então, será que alguém tem alguma característica própria? É como se fôssemos uma massa de bolo que foi assada em várias fôrmas diferentes. Será?
Ao mesmo tempo em que eu enxergo tantas semelhanças, também não escapa de meus olhos que eu consigo ser completamente diferente da minha família em muitos outros aspectos e talvez seja por esse motivo que nenhum deles nunca entendeu a minha cabeça muito bem. Eu sou confusa, há muito a ser dito sobre mim, pois a jornada do autoconhecimento nunca acaba e por eu ter plena consciência disso e eles não, ficamos com falta de assunto muitas vezes. Sempre fui uma menina precoce na maioria das coisas, e essa é uma outra coisa da qual eles nunca gostaram... Minha individualidade e vontade de ser independente desde criança, sempre incomodou. Mas é assim que uma família deve ser, certo? Cada um unido pelas semelhanças, e devidamente reconhecido como ser humano único por suas diferenças. Se somos apenas reflexos, somos reflexos embaçados, pois é esse embaçado que muitas vezes mostra a todos, como cada um de nós é único e especial à sua própria maneira. Cada ser humano com seu livre arbítrio, qualidades, defeitos e semelhanças conectados por um sentimento em comum: amor.

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