terça-feira, 17 de abril de 2012

Deserto




Um copo d'água. Era o que ela queria naquele momento. Era do que ela precisava. Mas ninguém apareceu para lhe oferecer um. Saiu daquela casa e mal pode conter as lágrimas na calçada. Chorava desesperadamente, descontroladamente e sem nenhum motivo aparente. O motivo? Todos. E é claro, ela precisava. Precisava desse momento para se despir do que há muito tempo planejava se livrar. E mesmo precisando desse tempo para ela, ainda queria um copo d'água. E se alguém chegasse com um não iria se incomodar. Mas ninguém apareceu para lhe oferecer um.
Não procurava um local específico para chorar, queria apenas chorar e não dava importância para o lugar. Andava pela rua chorando, seguindo o caminho, se sustentando no seu plano. Mesmo que não tivesse certeza se aquele era o caminho certo, sabia que pelo menos era um caminho. Por mais que estivesse certa do que queria, ainda sim, não conseguia parar de chorar. E assim o fez, por três ruas.
Quando achava que as lágrimas haviam cessado, novas nasciam, mostrando-lhe que sua mágoa e tristeza eram muito maiores do que lhe pareciam. Quando os soluços começaram, sentiu-se obrigada a parar. Sentou-se um pouco, apoiou a cabeça nas mãos, e mesmo que não quisesse que ninguém a visse daquela forma, ainda sim, queria um copo d'água. Mas ninguém apareceu para lhe oferecer um.
Nunca havia visto rua mais deserta de gente, era como se o mundo tivesse lhe dado privacidade para sofrer, se desesperar o quanto pudesse, sem ninguém por perto para julgar. 
Passou por um boi pequeno de chifres longos, imaginando que este devesse ser um touro. Mas mesmo ela estando de vermelho, ele não pareceu reparar. Era como se fosse o espetáculo de seu desespero para si mesma, e ninguém ousou atrapalhar. Invisível no deserto.
Subiu e desceu uma ladeira e nessa hora, sufocou um grito - a verdade é que queria que alguém aparecesse para tomar seu peso e lhe dar um copo d'água. Sentia-se cada vez mais agoniada, mas jamais parava. Não deve existir determinação maior do que essa, não deve existir decisão mais forte. Quando o mundo parecia desmoronar, ela não ousava parar. Era como se estivesse em um filme mudo. E assim foi. Andou devagar, mas andou. E quando pensou que nunca iria chegar, chegou. As lágrimas se extinguiram sozinhas, pois não havia ninguém para cessá-las. Ela queria desesperadamente um copo d'água, mas ninguém apareceu para lhe oferecer um. Se virou sozinha e continuou em sua única companhia. Se conformou, mas não aceitou. Resolveu manter as aparências de estar bem, quando chegou no lugar de gente desconhecida. E assim faria, até que chegasse ao seu destino. Não iria desistir, mesmo que a solidão lhe ferisse inteiramente.
A pior coisa é quando se precisa de alguém, mas ninguém vem. Nem mesmo para lhe dar um copo d'água.

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