sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Fios



Não consigo parar de pensar que cada coisa, até mesmo o nosso corpo tem uma maneira de encontrar seu equilíbrio. Um exemplo? Quando eu seco meu cabelo de manhã com o secador e depois vou pro trabalho, ele vai armando na rua, em pouco tempo estou uma mini poodle.  É a maneira dele dizer que eu estou trapaceando, que eu deveria esperar secar naturalmente, que eu deveria respeitar o tempo de cada coisa.
E eu tenho mesmo essa mania de atropelar as coisas. Sou impaciente, sou ansiosa, sou uma pessoa certa com alguns fios errados. O problema é que meus fios tem vida curta. Renascem sempre, mas tem vida curta, então querem viver o máximo que podem no pouco tempo que têm. É por isso que eu sou tão impaciente. Mas todos os dias alguém estoura todos os fios sem nem saber que fez isso. E o pior é que nem sempre os fios renascem, como os meus. Todos os dias pessoas certas nascem em lugares errados, e pessoas erradas nascem nos lugares certos. A vida não é justa. Eu me pergunto o que é mais difícil: Pessoas certas largarem todas as coisas erradas na tentativa de chegar a qualquer lugar que seja certo, ou as pessoas erradas remendarem seus fios e acabarem se tornando certas.  Ou será que as pessoas erradas não aguentam nada disso e resolvem enfim procurar por identificação num lugar errado? Eu não sei o que se passa na cabeça das pessoas, teria que fazer a contagem de fios pra saber. Mas ninguém pode fazer isso, pois cada um sabe apenas dos próprios fios, pois eles ficam num lugar inalcançável que quem não vive ali dentro, junto com eles, não pode entender. Os padrões são únicos e indecifráveis.
Eu já estive por um fio algumas vezes. Agora imagine ficar por um fio por dois anos? Tinha dias em que eu conseguia remendar alguns, mas nos outros, eles apenas voltavam a se arrebentar. E nesses dias em que todos voltavam a se arrebentar e restava apenas um, eu queria apenas ir embora e nunca mais voltar. Até que eu finalmente fui. E quando eu segui em frente, aquele último fio cansado finalmente pode arrebentar e morrer em paz. E aí nasceram novos fios em mim. Todos eles fortes e esperançosos, e assim permaneceram por quase um ano. Até que todos eles começaram a enfraquecer lenta e dolorosamente e eu enfraqueci junto. E  de repente, num dia qualquer de janeiro, todos eles recuperaram a cor e eu recuperei minha esperança. E agora estou aqui, com metade dos meus fios inteiros e fortes e a outra metade morta no chão. Quase um ano se passou desde que eles retomaram a fora, e agora aqui estão eles querendo morrer de novo. Eles tem seu próprio ciclo, e eu sou obrigada a respeitar. É a minha natureza, e não posso me obrigar a viver em guerra comigo mesma o tempo todo só pra agradar essas pessoas erradas nesse lugar errado. Pra falar a verdade, eu deveria ir embora. Pois com todos os meus fios errados, ainda sim, sou certa. E ser certa no lugar errado é uma coisa que me atormenta desde sempre. 
Aquela coisa dentro de você que te diz pra simplesmente largar tudo e ir, são os fios pedindo paz. Eles não querem morrer, então pedem para que você vá pra qualquer lugar capaz de salvá-los. Infelizmente a maioria das pessoas não respeita esses instintos, e então são infelizes. Eu tento o máximo que posso. Nem sempre é possível, mas eu realmente dou atenção. Quero que meus fios vivam bem no curto período das inúmeras vidas que eles têm. E quero viver bem também.

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