sábado, 5 de dezembro de 2015

Adeus, tempo


Nessa primavera chuvosa 
Tenho tido mãos de falta de tempo. 
Sinto falta do meu esmalte vermelho, 
de sentir a maciez de antes. 
Sinto falta de ter tempo, 
Sinto falta de não sentir falta de ter tempo.

Nesse corrido momento da minha vida 
Em que meus dias são de muita chuva e ventania 
Pouco sono e muito texto 
Muita persistência e agonia 
Sinto falta de mim.
Já existe um certo tempo
Em que não tenho mais tempo de me olhar no espelho. 
Não tenho tempo de me maquiar para o meu prazer 
Não tenho tempo de usar uma folga pra ficar deitada sem fazer nada... 
Sobram-me poucos prazeres nesse tempo louco.

Mas esses poucos prazeres que me restam 
São momentos de muita gratidão
Nesses momentos consigo me sentir um pouco mais inteira novamente 
Consigo me sentir eu.
Ainda tenho o café 
Ainda tenho a música alta nos fones... Quando consigo ir sentada pra faculdade na janela do ônibus. 
Ainda tenho o vento da van quando estou indo pro trabalho. 
Tenho também conversas aleatórias com velhos senhores e senhoras 
Nos ônibus da vida.
Tenho minhas longas conversas por telefone com o meu pai, 
As fotos que minha mãe envia pra me dizer que tudo está bem,
Uma visita pros meus avós com histórias repetidas 
As lembranças da vida com os meus irmãos,
Os poucos amigos que faço toda questão de manter.
Tenho a sensação de ser útil, 
E a certeza de que hoje é sexta e amanhã poderei dormir até tarde. 
Será melhor, 
Mesmo que hoje não tenha sido melhor do que ontem.

E, com certeza, ainda tenho o grande prazer de conseguir escrever 
No meio desses meus tantos atrasos, correrias, desesperos, aflição, preocupação... 
Eu tenho a poesia pra me dar um momento de calma 
E pra me dar ânimo pra viver minha vida,
Que de vez em quando me parece tão fora de controle 
E tão distante do que eu já quis um dia.  
Eu tenho, tenho sim 
Tenho sorte da poesia não ter ido embora de mim
Nesse tempo em que tantas coisas e pessoas se despedem...
Ela continua fiel a mim.

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