sábado, 19 de dezembro de 2015

Lembranças de calor

Aqueles dias que eu não aguentava nem minha cama e dormia no chão 
Porque nada me refrescava mas o piso frio aliviava.
Aquelas tardes em que eu passava tanto tempo deitada no chão, pensando em nada 
Quase dormindo, ouvindo o barulho dos galhos das árvores indo e vindo 
Apenas um vento quente, que me obrigava a ficar no chão.  
Nem mesmo carros passavam.  

Lembro dos meus três anos e as fotos de fralda e talco
Minha mãe me deixando com pescoço de fantasma pra não dar brotoeja 
Eu indo e vindo, correndo e gritando 
Suando sem parar.

Lembro das brigas dos meus pais e de como tudo era caótico 
Aquelas noites de delegacia, aqueles dias de tribunal.
Meu avô voltando da padaria com um monte de coxinhas 
Eu pulando o muro pra ir pra casa dele,
Queimando os pés descalços quando alcançava o chão.

As tardes depois da escola,
Caminhos mais longos pra casa, apenas pelas sombras das árvores.
Eu indo e vindo,
Eu correndo,
Eu deitada,
Eu reclamando,
Eu pensando,
Eu ansiando,
Pelo futuro,
Querendo estar em dias que não aqueles.

E depois aqui, querendo voltar 
Pras minhas tardes de bacia de abacaxi 
Sentada no chão frio 
Na casa dos meus avós
Pensando num futuro completamente diferente 
Do que eu tinha naquela época.

Hoje tenho vontade de voltar 
Pra aqueles dias de calor fervente 
Infinitamente menos complicados do que esses. 
Talvez eu tenha nascido para cantar o passado 
E ansiar pelo futuro 
Em todas as épocas de calor fervente
Nos registros da minha vida. 

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