sábado, 24 de outubro de 2015

Vidro

O que eu sou hoje em dia?
Vidro.
Sou um vidro vagabundo que já caiu algumas vezes mas não quebrou
Tenho tantas rachaduras que nem sei como ainda não quebrei
Sou apenas vidro
Um copo de requeijão
Exposta numa prateleira a tudo e qualquer coisa
No meio de muita confusão e de algumas coisas boas
Talvez eu esteja louca.
Fase?
Não.
Não acho que algum dia tenha me sentido diferente, mas é que agora é bem mais pesado
Ser adulta é pior sacanagem que pode acontecer com alguém
E infelizmente aconteceu comigo...
Cedo demais.
Mas eu sou a culpada.
Sempre fui precoce, querendo sempre o que não tinha e quando finalmente alcançava, lamentava pelo que já tinha ido
Sou culpada por ser quem sou,
Exatamente como hoje em dia...
A verdade é que eu sempre fui de vidro
Dando a cara a tapa, me metendo em buracos mal iluminados e andando por caminhos desconhecidos
Com tudo o que já me aconteceu, não quebrei até agora
Me pergunto se eu finalmente quebrar um dia, o que causará isso.
Tenho medo,
Tenho insônia,
Tenho pesadelos.
Sou um vidro de requeijão num mercado lotado
Já fui revirada tantas vezes que meu rótulo está se tornando apagado
Não é possível enxergar meu prazo de validade
Não é possível negociar meu preço
Pois eu já estou no fundo da prateleira.
O que eu sou além disso?
Um vidro, apenas um vidro.
Ou talvez eu seja tão mais que isso que vivo numa atormentada mente
Escondida num corpo
Que já não suporta mais viver em contradição.
Quem eu sou então?
Rachaduras.
Marcas.
Superfície que não coincide com o conteúdo.

Vidro.

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