quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Roda gigante do tripudiamento

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Cheguei do trabalho e não quero me olhar no espelho. 
Não quero acender as luzes, nem escutar a voz de ninguém, nem forçar um sorriso. 
Cheguei do trabalho e quero a opção de desaparecimento. 
Porque eu estou cansada.
Meus pés estão cansados
Descalços e cheios de calos 
Inchados e melancólicos 
De quando se cansavam apenas de brincar no chão de barro da rua que costumava ser minha.

Eu estou cansada
Esgotada
Não quero mais ter que pensar "E agora?"
Não quero mais ter que enlouquecer pelos mesmos assuntos estressantes que me esgotam 
E me matam um pouco mais a cada dia.
Não quero mais tentar tirar leite de pedra (que tiro dando meu próprio sangue) 
Não quero mais saber 
Não quero mais me forçar a acordar pra uma vida de sacrifício agora, para alegria do futuro
Eu quero ser feliz.
E eu quero AGORA.

Todos aqueles planos de morar fora
De ter uma vida admirável para meus netos 
De lembranças de loucura da juventude 
Tudo isso parece tão distante 
Pois eu, estou cada vez mais longe dos pés descalços no barro 
E de todos esses sonhos 
E mais próxima de uma morte súbita pela rotina 
E por essa sociedade que romantiza o esgotamento 
Do jovem
Do velho 
E de quem ainda nem nasceu.

Mas desistir não é uma opção 
É preciso morrer para dar lugar ao robô 
Que não precisa dormir, nem comer, nem viver 
Até que um dia, não restará nem mesmo a essência 
Do que costumávamos ser
E poderemos finalmente sorrir 
Por falta de consciência.

Cheguei do trabalho e não quero me olhar no espelho 
Porque estou cansada
Porque estou esgotada
Até de mim. 

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