domingo, 13 de setembro de 2015

Conto de invernico



Hoje eu vi um drogado. 
Ele me pediu dinheiro enquanto eu esperava pelo ônibus 

encolhida no meu guarda-chuva com meus sapatos encharcados...
Numa fria noite de sábado. 

E ele não tinha guarda-chuva. 
Tinha apenas a ilusão de que cinco reais o dariam a felicidade que um milhão não pode dar.
Felicidade momentânea.
Eu definitivamente não sei viver assim.


Ontem andei pelas ruas de paralelepípedo molhadas 
Com minhas botas já meio furadas 
Fazendo barulho no deserto da madrugada 
Andei encharcada 
Andei atordoada 
Assim como aquele drogado que me pediu dinheiro hoje
E que nem se importava em estar na chuva... 
Ontem eu também estava encharcada.

O meu caso era ainda pior 
Eu não tinha uma nota de cinco reais pra me iludir 
Não tinha um universo paralelo onde me perder 
Não tinha uma realidade da qual pudesse fugir.
Tinha apenas ruas de paralelepípedo encharcadas 
Botas furadas e pensamentos desgastados 
Tinha isso e apenas isso... 
Cabeça cheia de tantos exageros
E coração sobrecarregado de tantos sonhos.
Tinha isso e apenas isso.
Nenhuma felicidade momentânea. 

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