domingo, 6 de setembro de 2015

Aqui está



A poesia vive dentro de mim quando eu olho nos olhos dele e gargalho da risada dela. E como cada momento como esse é único na minha vida e eu sei que este tempo nunca mais existirá igual. Sinto-me melancólica por isso, sinto saudade de coisas que ainda nem terminei de viver. E por causa disso, a poesia não está morta.A poesia não está morta - ela vive dentro de mim. Quando eu acordo e enxergo dois mundos diferentes, com características vívidas e detalhadas - ela vive dentro de mim.
A ansiedade que habita em mim é sempre imprevisível. Hora transforma-se em gritos - e há momentos em que não tenho voz suficiente para gritar toda gritaria que existe em mim - hora transforma-se em poesia, pois tenho consideração extrema por ela, por essa mulher tão fascinante que juntando tantas palavras diferentes no mesmo formato torna-se a salvação de minha pobre garganta que já não aguenta mais gritar. Não posso deixar a poesia morrer.
A poesia não está morta, e sendo uma mulher como é, torna-se um pesadelo de conflitos dentro de mim - não posso viver sem ela e quero me livrar dela.
E mesmo meus pés gelados nesse final de inverno sabem que ela nunca estará morta: É só questão de saber olhar o mundo com olhos que só ela pode entender. A poesia não está morta.
As lembranças do Monza do meu pai cheirando a cigarro e Halls, tocando blues no último volume e um aperto estranho no coração, de uma época mais estranha ainda, só existem porque eu sempre fiz questão de cuidar muito bem da poesia que existe dentro de mim.
E nesses domingos em que por um acaso cruel chego mais cedo no trabalho e desço da realidade para tomar um café com o meu cara, a poesia existe. Existe no olhar que o homem da outra mesa direciona a mim, existe na risada de um bebê, existe no relógio que roda rápido, existe na coleção de louças antigas da cafeteria, existe na minha mochila rasgada e no cabelo do meu cara precisando cortar, e no e na minha careta, numa tentativa de fazê-lo rir. Existe, existe, existe.
A saudade que me trás uma foto antiga de quando meu irmão era bebê e eu passava todo tempo que era capaz de passar com ele - 15 horas do meu dia - me dá uma surra, quase caio em lágrimas nesse instante e o que me segura é a poesia, que não está morta e que é uma doce agonia na minha vida.
Quando estou na minha cama e tenho esses sonhos que não parecem ser meus e me vejo numa Lua de duas cabeças, alta como uma bananeira, nadando numa piscina de café, eu posso afirmar que isso tudo é mais do que suficientemente poético para a poesia existir, principalmente quando sonho com lábios no escuro - a poesia não está morta.
E eu sei que mesmo quando já não estiver mais aqui e não restar nada além do meu sangue transferido para contar história, mesmo assim, eu sei que a poesia nunca estará morta. 
A poesia não está morta.  

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