quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Nós

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Não é possível ver nas cartas o necessário, 
Não é possível guiar-se pelos mapas 
De cada ano.
Não é.
Não há nada que explique isso.
Eu, única mulher de quatro filhos, a mais velha, 
"A destemida", é o que todos dizem.
Mas o que sou eu se não um mero esperma sortudo 
O que sou se não alguém cheia de medos tentando fazer o melhor que pode?
Sim, estou falando em voz alta
Meu pai não sabe, minha mãe não imagina
Mas eu sofro de medos inúmeros que muitas vezes me mantém acordada até o primeiro raio de sol.
E eu preciso escrever sobre essas coisas, já que não sou autorizada a falar 
Pois eu, única mulher de quatro filhos, a mais velha,
"A destemida", a primeira a ir embora e tomar sua vida para si 
Eu, não tenho autorização para ter fraquezas. 
Não há nada que explique isso.
Não há nada que explique... 
Eu,
Ou nós,
Ou nada. 
Nada. 
Mas essa sou eu,
Sou eu em carne viva, 
Sou eu crua,
Sou eu revelada.
Eu não sei exatamente quem sou
Mas vocês sim.
Vocês estavam lá comigo no início e no meio.
Passamos por coisas parecidas, 
Salvamos uns aos outros
Choramos e rimos de nossas próprias desventuras 
Que acontecimentos desse mundo de cão nos fizeram passar.
Acho que quando fui embora, vocês racharam um pouco,
Mas eu rachei por completo,
Eu desabei,
Desmoronei, 
Mas tive que aprender a me juntar de volta. 
A primeira vez foi a pior, 
Agora só sinto um gosto amargo na boca. 
Mas como café, tornou-se algo básico para continuar em frente.
Não, não tem explicação.
E eu não culpo ninguém por nada disso, não mais.
Tenho tentado esquecer o passado, pois só envenena meu presente e destrói meu futuro.
Mas vocês ainda se lembram, nós nos lembramos por mais que tentemos tanto varrer pra baixo do tapete.
Vocês sabem que não estou autorizada a falar sobre isso
Vocês sabem que não podemos falar sobre nada disso.
Mas eu ainda consigo escrever,
E é a única coisa que me mantém sã.
Lá se vai aquela vida...
Mas como dizer que se foi 
Se foi exatamente ela que me fez ser quem sou hoje? 
Não tem explicação pra nada disso
A dor vive de mim
Mas eu também vivo dela. 

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