A madrugada cabe em mim
Junto com todos os sonhos do mundo.
Mas eu sou grande demais pra ela
Sou barulhenta,
Confusa,
Caótica.
E ela não quer me acolher,
Embora arrombe minha porta sem nem me dar escolha.
Me invade e não me deixa em paz
Porque sabe que cabe em mim
A madrugada sempre age assim.
Eu peço-a um tempo: Me deixe dormir
Não quero passar outra noite olhando a rua pela janela da sala, ou do quarto
Não quero passar outra noite olhando pro teto
Vasculhando memórias que já nem fazem sentido
Mas ela não deixa, a madrugada não me deixa
Já passei tantas vidas de madruga
repetindo as mesmas músicas
Ouvindo meus hinos
Os que embalam minhas noites melancólicas
Gritando os alegres
torcendo para ter um dia seguinte melhor.
Quantas vidas de madrugadas mais serão necessárias
Para que meu sufoco seja sufocado?
Meus gritos já não têm voz
Minhas lembranças já não reconhecem-se mais
como meras lembranças.
De repente, tudo parece ter vida
Todos os meus demônios internos
De todas as vidas de madrugada
De todas as vidas de dias claros
De todos os momentos em que eu achei que fossem capazes de entrar na minha pele
E revirar meus pensamentos
De todas as vezes em que vivi vidas inteiras dentro de madrugadas.
Mas eu ainda estou aqui
(ainda há vida)
(...)
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