A verdade é que eu nunca esqueci nada daquilo, pois a intensidade com a qual eu vivi aqueles meses, eu nunca havia vivido em nenhum dos anos anteriores e nem nos futuros, e provavelmente nunca mais irei. Aqueles meses... Era como se eu estivesse ido parar no paraíso sem morrer. Era uma felicidade sem explicação, louca, era como se eu estivesse em êxtase, havia dias em que eu não conseguia parar de sorrir, mas internamente eu meio que me preparava para as lágrimas futuras... Eu sabia que seriam muitas. Sabe quando você vive algo, mas tem certeza de que não vai durar? Eu sabia desde o começo que entre a gente não duraria muito. Como pode alguém estar feliz como nunca e quebrada ao mesmo tempo? Eu fiquei assim naqueles meses que eu estive com ele, mas depois foi apenas a parte do quebrada... Eu era feliz e quebrada ao mesmo tempo, porque no fundo eu sabia que aquilo acabaria mais rápido do que eu queria aceitar. Desde o início nossa música foi "Broken Strings"... E eu sei que a forma que acabou foi a forma mais bonita que poderia ter acabado... Não houve cansaço, não houve limites, não houve brigas, não houve nada de diferente sobre o que eu já esperava que seria. E assim, sem desgaste, simplesmente arrebentamos. Meus pedaços voaram para todos os lados e mesmo que até hoje eu procure, muitos eu nunca mais verei. Porque eu nunca mais fui a mesma depois daquilo.
E mesmo
depois de todos esses anos sem vê-lo, mesmo depois de todos esses anos sem
saber nada sobre ele, mesmo depois de todos esses anos sem sentir nada por ele além de
mágoa, ele ainda me assombra. E os fantasmas das possibilidades do que poderia
ter se tornado aquilo me deixam acabada em alguns dias. Lamentar cansa, estar
afogada em lembranças cansa. Eu tenho uma bagagem muito grande, apesar de ser
muito jovem... E eu sei que foi por causa disso que ele foi embora antes mesmo
que houvesse desgaste. Ele teve medo de me dar segurança e depois me deixar pra
morrer. Então ele me deixou antes que eu pudesse acreditar que aquilo tudo era
realmente verdade; ele me deixou antes para que eu não me apegasse... Mas eu me
apeguei e morri mesmo assim. Porque eu nunca mais fui a mesma depois daquilo.
Todos os
dias eu tento pensar naquele tempo como um tempo feliz que existiu na minha
vida, mas quando paro pra pensar em tudo que sucedeu aquele tempo, eu só tenho
raiva e desespero. Existem dias em que eu quero sair do meu próprio corpo,
porque eu simplesmente não aguento a carga dessas lembranças... Era para eu ter
sido feliz, era para eu ter sido amada. O problema é que eu amo demais e
esqueço que as pessoas não são como eu. Por isso, elas vão embora, ou me
expulsam...
A verdade é
que eu sempre precisei de um homem, desde sempre. Mas garotos foram só o que
apareceram pra mim ao longo da minha vida e isso nunca foi suficiente. Eu quero mais,
eu sempre quis mais. Eu quero tanto que as pessoas não aguentam e vão embora.
Por isso eu aprendi a contar apenas comigo mesma, pois só eu posso confortar
essa guerra na minha cabeça, porque não existe mais ninguém que sinta isso.
Eu sempre
quis ser livre, mas sempre quis encontrar alguém que me aprisionasse. Eu sempre
quis ser aprisionada no amor, eu sempre quis garantias de que seria para
sempre. A liberdade é um privilégio, mas ela trás pra sua vida outros tipos de
escravidão... Você nunca acha que está bom o suficiente, você sempre sente que
falta alguma coisa. Eu caí na estrada poucas vezes, mas nas vezes em que eu caí
pude sentir o que é realmente ser sozinha. Eu sempre me senti sozinha, durante
toda a minha vida, mas quando se cai na estrada é outro tipo de solidão... É
liberdade misturada com medo, autossuficiência e vulnerabilidade. Sim, é uma
loucura mesmo.
Eu sou
problemática, mas tento sempre fazer o melhor por mim e pelas pessoas à minha
volta. Eu sempre serei uma pessoa esperançosa, pois é só isso o que me
sustenta. Deus, se eu morresse hoje, ainda haveria muita coisa pra contar sobre mim... Minha vida poderia se tornar uma obra de arte ou um drama barato, depende da perspectiva. Percebi hoje que eu não estou sozinha, pois as minhas lembranças
estão sempre comigo, agarradas, perturbando a minha cabeça, me irritando, me fazendo
chorar... É esse o preço que se paga por querer ser livre. Você vive com a alma
no futuro, mas a cabeça no passado, sempre voltando pro mesmo filme decorado e
revendo tudo de novo, cada detalhe, cada falha, cada sinal de que poderia ter
sido maravilhoso. Mas... Se a minha alma está no futuro e a minha cabeça no
passado... Onde eu estou de verdade?
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