Tantos anos depois,
Um estranho no ônibus usa o seu perfume
Automaticamente lembro do seu nome
E da maneira como você costumava me chamar
Pra me abraçar no meio da multidão...
Suas doces mentiras que eu adorava acreditar...
Minha pele, sua pele, nossa pele
Eu, você, seu perfume
E como eu morri mil mortes depois.
Superei, segui em frente, juntei meus cacos
Mas aqui estou eu
Perdida nas memórias de nós dois
Porque um estranho no ônibus está usando o seu perfume.
Anos atrás, e esse perfume ainda me faz mal.
Tanto tempo, tanta coisa antes do que eu sou agora, superada, melhorada, mudada
E esse perfume ainda me intoxica, mexe com minhas estruturas, me embrulha até o último pedaço do meu estômago.
Universo, o que você quer de mim, afinal?
Porque me tortura com minhas lembranças absurdas?
Essas lembranças que invadem minha pele, me deixam tonta, me jogam no chão...
Eu superei (acho que sim)
Mas se colocar na minha frente não vou saber reagir...
Não sei fingir indiferença a o que me afeta
Não sei lidar, não sei colocar isso no patamar do que não interessa.
Então por que?
Porque essas coisas continuam vindo
Ressurgindo do nada anos depois
Me procurando sem razão nenhuma
Me atormentando?
Não quero nada disso
Apenas pare os meus sentidos!
Você está tão longe agora
E eu fugi há muito tempo atrás.
Você nunca veio atrás
E eu sofri calada.
Vi você conseguir tudo o que queria
Me vi ser apenas mais uma na sua lista
Vi você feliz com aquela menina que você sempre quis
Você conseguiu a perfeição?
Não quero lembrar de nada disso
Você já está morto e enterrado
Então porque
Um perfume num estranho no ônibus
Desperta tudo isso
Acaba comigo
Faz você levantar do túmulo
Tantos anos depois?