Aqueles dias que eu não aguentava nem minha cama e dormia no chão
Porque nada me refrescava mas o piso frio aliviava.
Aquelas tardes em que eu passava tanto tempo deitada no chão, pensando em nada
Quase dormindo, ouvindo o barulho dos galhos das árvores indo e vindo
Apenas um vento quente, que me obrigava a ficar no chão.
Nem mesmo carros passavam.
Lembro dos meus três anos e as fotos de fralda e talco
Minha mãe me deixando com pescoço de fantasma pra não dar brotoeja
Eu indo e vindo, correndo e gritando
Suando sem parar.
Lembro das brigas dos meus pais e de como tudo era caótico
Aquelas noites de delegacia, aqueles dias de tribunal.
Meu avô voltando da padaria com um monte de coxinhas
Eu pulando o muro pra ir pra casa dele,
Queimando os pés descalços quando alcançava o chão.
As tardes depois da escola,
Caminhos mais longos pra casa, apenas pelas sombras das árvores.
Eu indo e vindo,
Eu correndo,
Eu deitada,
Eu reclamando,
Eu pensando,
Eu ansiando,
Pelo futuro,
Querendo estar em dias que não aqueles.
E depois aqui, querendo voltar
Pras minhas tardes de bacia de abacaxi
Sentada no chão frio
Na casa dos meus avós
Pensando num futuro completamente diferente
Do que eu tinha naquela época.
Hoje tenho vontade de voltar
Pra aqueles dias de calor fervente
Infinitamente menos complicados do que esses.
Talvez eu tenha nascido para cantar o passado
E ansiar pelo futuro
Em todas as épocas de calor fervente
Nos registros da minha vida.
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