Calor.
Há quanto tempo não
te vejo.
Há quanto tempo não
percebo
Que você havia me
dado uma trégua
Mas hoje
Você oficialmente
retornou.
E hoje, eu percebi
que certas coisas nunca mudarão
Hoje percebi que
certas coisas não desaparecerão
Exatamente como você
Que me incomoda por
me fazer sentir num deserto de imensidão.
Então hoje
Não vamos falar sobre
o futuro
Não vamos falar sobre
o passado
Não vamos falar sobre
o presente.
Pois isso aqui já é o
presente
Não precisamos falar,
estamos vivendo
Não precisamos
pensar, estamos escrevendo.
Então hoje, vamos
parar
Hoje, vamos calar
Hoje, vamos esquecer
Hoje, vamos nos
concentrar apenas em viver.
Eu tenho algumas
certezas
Eu tenho muitas
dúvidas
Eu tenho alguns
momentos de clareza
E tantos outros de
loucura...
Eu vou à lugares
desastrosos na minha cabeça
Continuo voltando
para os mesmos pensamentos
Continuo me culpando
pelos mesmos terminados momentos
Continuo me
perguntando se poderia ter sido diferente naquele tempo
Naquele fato
traumático
Há quatro anos, onde
eu colocava tudo o que eu tinha em uma pessoa
E tantas coisas
aconteceram em quatro meses
Inclusive a maior
tristeza que eu já senti na minha vida
Inclusive um
desespero, e depois, um estado de anestesia.
Mas isso é o passado
E hoje, não vamos
falar sobre o passado.
Eu tenho dois lugares
preferidos:
Meu passado e o meu
futuro imaginário
Já sei o que vai
acontecer antes de chegar lá
Já sei como vou ser
quando estiver lá
Sei nada sobre aqui,
mas sei sobre lá.
Viver aqui é difícil
Então eu sempre acabo
voltando a inventar
Faço tantas coisas
quando vou lá
Tem vezes que não sei
se vou conseguir parar
Tem vezes que não sei
se vou conseguir voltar.
Mas isso é o futuro
E hoje, não vamos
falar sobre o futuro.
Hoje cheguei em casa
com fome de banho de lavar o cabelo
Não é nem lavar o
cabelo, e sim molhar a cabeça
Na tentativa inútil
de inundá-la e anestesiá-la
Afogá-la um
pouquinho, silenciar um tempinho
Não queria nem futuro
e nem passado
E o presente é
incontrolável
Portanto, não queria
nada
Queria apenas
inundá-la
Queria silêncio,
queria paz, ou simplesmente nada mais
Mas isso já está lá
atrás
E o tempo corre, e
gira o mundo
E eu me pergunto
sobre o que acontecerá daqui a cinco minutos.
Hoje eu não quero
nada,
Mas quero tudo.
Tudo o que não tive
no meu passado
E tudo o que tenho
direito no meu futuro
O presente é só uma
ponte
Uma ponte que nunca
acaba
Pois há cinco minutos
eu pensava nesse momento,
E aquele tempo já é
passado
E esse aqui, presente
E agora, mais um
passado
E eu me pergunto o
que acontecerá nos próximos cinco minutos.
Tic tac.
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