Não sinto falta de ter amigos. Apenas sinto falta de ter
pessoas ao meu redor, pois eu gosto de observá-las.
Gosto de fazer parte de suas pequenas vidas recheadas de
problemas - isso me ajuda a me afastar um pouco dos meus e entender que todos
sempre estão insatisfeitos, não importa se com coisas graves ou idiotas, pois
este é o ser humano, um eterno insatisfeito, sempre procurando algo mesmo sem
saber o que é. Acho que é isso que nos move e nos motiva a mudar e não
permanecer congelados.
Nunca tive amigos e agora, olhando pra trás, tenho certeza
disso. Eu sempre fui amiga de muitas pessoas, mas ser amigo não é a mesma coisa
que ter amigos. Sempre ouvi muitas pessoas, sempre dei muitos conselhos, sempre
molhei os ombros com lágrimas e sufoquei pessoas com abraços, mas nunca,
jamais, tive nada disso de volta da maneira que eu sempre dei. Não posso
reclamar, pois as pessoas são diferentes umas das outras, e de mim
principalmente. Se nem eu entendo muito bem a minha cabeça, imagina as outras
pessoas... E talvez essa seja a minha sina: ser amiga de muitos, mas não ter
nenhum amigo.
Desde criança sempre fui esse tipo de pessoa, que gosta de
ajudar e aconselhar as pessoas. Não que não quisesse que eles me ouvissem
também - sempre quis encontrar alguém que me desse a importância que eu dou pra
cada um deles, mas isso nunca aconteceu. E de certa forma, isso sempre foi meio
terapêutico pra mim, afinal, quem não se sente mais leve, mais em paz, quando
consegue ajudar alguém? Tem gente que não se importa, mas eu não consigo ver
alguém sofrendo e não tentar fazer algo pra ajudar. Talvez eu seja apenas
intrometida, ou talvez o mundo precise de mais pessoas que se importem com os
outros e que não fiquem o tempo todo concentrados em suas vidas monótonas.
Eu sou péssima em inventar histórias sobre pessoas, mas
escreveria inúmeros livros com as histórias dos outros, com toda certeza. A
ficção que sai de mim sempre é baseada em fatos, eu nunca escrevo algo
totalmente inventado. Posso melhorar, emoldurar, exagerar, dramatizar,
adicionar adjetivos fortes, mas a base é sempre real. E é disso que eu gosto:
dar vida exagerada à vidas extremamente paradas. Tiro todo mundo do coma com as
palavras, seja escrevendo, seja falando. Acho que isso é o que um amigo faz,
mesmo que não tenha em troca o mesmo. Posso não ter amigos, mas pelo menos
posso dizer que sou amiga de alguém. Poucos têm esse privilégio, a maioria
inveja os amigos secretamente e prega pequenas peças para que continue cada um
em seu devido lugar. Eu quero mais é que cada um seja grande à sua própria
maneira, porém da minha parte, cuido eu, não posso esperar por ninguém, só eu
posso fazer por mim.
Talvez eles sejam meus amigos apenas pelo fato de me
deixarem ser amiga deles, pois poucas coisas me deixam mais feliz do que ajudar
alguém. Posso não conseguir sempre, mas eu sempre tento ser útil pras pessoas.
E não é isso o que os amigos fazem? Proporcionam uns aos outros pequenos
momentos de felicidade e satisfação pessoal...?
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