quarta-feira, 17 de maio de 2017

Nó e gravidade

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E então... Aqui estou eu novamente 
Com esse mesmo nó na garganta 
E esse mesmo buraco na alma... Por mais clichê que pareça.

Não suporto entrar nesse estado... A última vez foi há quase sete anos 
E minha vida parou.
Não sei nem explicar o que estou sentindo 
Só sei que estou com uma dor de cabeça terrível 
E vontade de nunca mais abrir os olhos.

E sim, eu já esperava por isso
E sim, eu já estava preparada pra isso 
Mas mesmo assim, aqui estou eu, jogada no chão 
Parece que de repente a gravidade pesou em mim quatro vezes mais forte que o normal.
E eu não consigo comer, porque o nó na garganta não deixa a comida passar 
Não consigo me concentrar porque estou fora do ar... 
Estou completamente fora do ar
E não adianta deixar recados, pois ficarei fora do ar por bastante tempo. 

Não adianta tentar me fazer rir, pois será apenas uma ação mecânica 
Não há nada de bom saindo desse buraco que costumava ser preenchido 
Com o que... Nem eu lembro mais 
Então os próximos meses serão de ações meramente automáticas 
Cara na janela, corpo no chão, coração nublado. 

E então... Aqui estou eu novamente.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Densa

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Eu tenho um gênio ruim. 
Sou impaciente, falo quando deveria ficar calada, xingo feito homem que escarra. 
Não gosto, sei que não deveria
Mas sou filha de quem sou filha 
e seus mares deveriam estar de ressaca no dia em que nasci, porque eu tenho um gênio do cão 
Gênio que me faz gritar, que me faz querer correr, 
me faz querer arrancar as amarras com os dentes. 
Iemanjá, o que aconteceu no dia em que nasci? 
Acho que haviam trovões por todos os lados, Iansã também deveria estar presente, vocês duas e Nanã, porque eu sou assim, estranha mesmo.
Nasci com os cabelos rebeldes, não dormia na hora que deveria, enchi minha mãe de agonia, o que aconteceu? 

Sim, eu tenho um pouco de loucura em mim.
Quem não tem? 
Porque todos têm tanto medo de entrar em contato com suas partes mais obscuras? 
Eu sou um mar de ressaca
Tempestade mais negra que o céu já viu 
Sou vento que leva tudo embora 
Sou a lama naquela poça que está quase secando:
Densa.
Eu sinto demais 
E não me aguento calada.
Pois sim, eu não tenho controle, mesmo quando eu não quero, tudo escorre pelas minhas mãos 
feito água
Se eu não grito, minha pele mostra 
Se minha pele não mostra, meu olhar esclarece
E eu aguento por um tempo sim, aguento um pouco calada 
Até não aguentar mais.
O que aconteceu?

Eu tenho um gênio ruim. 
Sou meio selvagem, meio arredia, meio desconfiada. 
O que aconteceu?

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Ninhos




Sou uma pessoa de ninhos.

Sou de ninhos pra dormir, sou de ninhos pra pensar, sou de ninhos pra me relacionar, sou de ninhos pra morar.
Durmo enrolada, com a cabeça coberta, aninhada.
Penso sentada ao lado da janela do ônibus olhando o céu, me deixando levar pela música nos fones de ouvido, aninhada em meus pensamentos.
Tenho poucos amigos, estive em poucos relacionamentos significativos, é tudo bem reduzido pra caber no meu ninho.
E finalmente, eu moro num ninho. Não importa onde, não importa como ou quando, onde eu estiver morando será meu ninho.

Eu aprendi, da maneira mais realista possível que ninhos podem ser facilmente transportáveis, são os elementos externos, os complementos, esses sim são os difíceis de carregar. Eu sinto saudade de tantas pessoas, que nem posso começar a explicar. Mas de alguma maneira acho que a chuva que escuto cair aqui, eles escutam cair lá. As notícias, aquelas coisas que nos tornam o mesmo povo, isso tudo, de alguma forma, nos une.

Há coisas que continuarei tendo apenas nos ninhos da minha cabeça. Lembranças de perfumes, ou cheiros específicos, vozes repetindo palavras que eu costumava nem pensar sobre, pois escutava o tempo todo. E eu. Eu fazendo o melhor que podia, eu fracassando, eu surtando, eu sendo humana, pois eu era energia divina quando sabia amar, mas era uma humana tola quando não dava conta de todos os sentimentos ao mesmo tempo. Essas são as coisas das quais eu nunca vou esquecer.

Minha bagagem é enorme. Carrego todos os tipos de pessoas e coisas, além do meu ninho e eu mesma. Vou continuar sendo humana toda vez que me arriscar sem ter certeza de nada, vou continuar sendo humana toda vez que ousar sonhar, vou continuar sendo humana toda vez que quiser morrer, vou continuar sendo humana quando me sentir solitária e vou continuar sendo humana quando tiver meus dias bons, momentos felizes entre uma conversa e outra, ou entre um café e outro, .

Eu, dentro do meu ninho, que acomoda vários ninhos diferentes. Não é open house, não é escancarado, não é nada do que você imagina. É algo que eu tento entender todos os dias, pois apesar de fazer parte de mim, é sim muito confuso.

Humana de novo… Um dia eu chego lá.

domingo, 9 de abril de 2017

Minha pele não tem nada além de sensação

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Minha pele não tem nada além
de sensação.
Minhas roupas não dizem nada sobre mim,
meu cabelo de lado não é especial.
Eu sou o que sou
mesmo que ninguém saiba o que signifique
isso não faz com que eu deixe de ser.

E eu estou coberta
Coberta por solidão, arrependimento, raiva, loucura
Coberta por esperança, amor, tesão
Arrepios na minha pele toda vez que me lembro de outra pessoa, em outros tempos
Arrepios na minha alma quando volto a realidade e vejo como não tenho mais aquele toque.

No escuro da noite,
você pensa que eu faço coisas terríveis
Mas a verdade é que eu só deito e encaro o teto
Penso em tudo o que eu já tive de maravilhoso
E tenho absoluta certeza de que me falta adrenalina.
A caipirinha de ontem não resolveu
Verdade, eu acordei hoje com dor de cabeça,
como uma espécie de lembrança de uma das poucas vezes que me permiti “sair da linha”
Mas isso não foi nada perto do que eu preciso.

Minha pele não tem nada além de sensação
O vento, o sol, a chuva, a luz da lua
Tudo isso, essa pele sente
E os mais sufocantes sentimentos humanos que nem sei como começar a explicar.
Alguém que fui, coisas das quais não me orgulho, mas tantas outras que queria de volta, por medo de que hoje em dia eu não seja quem eu tanto quis ser
Ou que não me torne quem sempre quis no fim.

Sensação, toque, cheiro
Eu reconheço as lembranças pelo cheiro
Sou humana de uma maneira que não gostaria de ser
Uma espécie de música que não fez sucesso
Um pequeno brilho no completo escuro
Uma lágrima em meio a tanta felicidade
Sorriso e grito
Gratidão e mágoa
Eu sou todas as sensações do mundo.

sexta-feira, 24 de março de 2017

O tempo do meio

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(porque dias nublados me inspiram?) 
Eu luto para que a correria do cotidiano não me deixe esquecer 
Ou que os dias de inércia não me paralisem... 
Vejo as árvores velhas do centro da cidade
(e eu)
Vejo a mim.
Cansada como uma velha, 
Esperançosa como uma menina, 
Pois é a única coisa que me mantém tentando. 
(tentando o que?) 

O outono chegou essa semana, ainda bem.
Agora posso começar a respirar. 
(a afobação do verão me deixa desorientada), 
No outono posso realmente parar pra pensar. 
Até lembrei do sonho que tive 
(uma espécie de aviso pra mim mesma) 
Que eu vim parar aqui, e não tem volta 
Agora posso apenas continuar em frente 
Isso tudo é apenas o que é 
Eu e todo mundo tentando adaptação 
Às novidades que acontecem quando você não está no que foi e nem no que será.

As coisas ainda estão destorcidas 
Mas já estiveram piores. 
É a transição 
E eu não posso controlar 
A metamorfose do tempo que era para o que será.
Eu estou no meio
Olhando em volta, tentando entender 
Mas a cada segundo as coisas mudam 
Porque eu ainda não cheguei no tempo que será 
E o meio 
O meio é uma zona conturbada que te faz duvidar o tempo todo 
Uma espécie de teste pra saber 
Se estou pronta pra chegar no tempo que será.


(porque dias nublados me inspiram?)

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Lar?



Minhas roupas não têm cheiro de mim.
Não mais.
Eu conhecia o cheiro das minhas roupas, identificava como o mais perto do que seria "lar" para mim, eram lavadas com meu sabão líquido para roupas, a marca que eu gostava.
Agora minhas roupas cheiram a todos os lugares. Casas onde lavei, uma parte aqui, outra lá. Mas com certeza não cheiram mais a lar, ou a mim. 
Eu sei que mudanças são difíceis, mas não imaginava que essa em particular custaria meu cheiro nas minhas roupas. E eu tenho que dizer que são as pequenas coisas que se vão, que pesam em toda mudança. 
Não é o lugar, mas o caminho que eu fazia para chegar até ele. Não é o ventilador, mas o som que ele fazia no meu ouvido, numa posição específica da cama, que não existe mais. Não é a mesa, mas a maneira como ela se iluminava quando o sol batia no fim da tarde. A mudança em si não é difícil, difícil é se acostumar com as pequenas perdas, os pequenos cortes, pequenas coisas do cotidiano que talvez ninguém perceba, até não existirem mais.
E enquanto eu levanto as alças do meu vestido, sentada no ônibus, nesse fim de fevereiro infernal, voltando com minhas roupas lavadas dentro de um saco amarelo, eu me pergunto: Para onde estou voltando?
Depois das longas noites chorando a minha vida, buscando algum resquício de esperança, perdoando a minha mãe, me culpando por tudo e fazendo cortes na minha vida, essa pergunta continua ecoando pela loucura que é a casa bagunçada na minha cabeça: Pra onde estou voltando?

O fim do horário de verão traz os primeiros sinais do início real de 2017. Logo o carnaval passará, então será oficial... Para onde estarei voltando então?
Para onde estarei voltando todos os dias, quando sair das minhas 7 matérias da faculdade, onde será meu lar? Será esse lugar que todos dizem ser temporário, todos parecem falar de uma maneira específica para que eu não crie vínculos, para que não aja a associação com um lar? Pois, de novo, este ainda não é o meu lar. E após 5 mudanças em 5 anos, eu começo a me perguntar se lar é algo que realmente existe. 
Para onde voltarei então?
Eu apenas sinto saudade de estar em paz comigo mesma, pois ultimamente temos vivido em pé de guerra, eu e eu.
Ninguém melhor que nós mesmos para nos destruir. A pressão, a crítica, o julgamento, e tudo o que há de pior na falta de amor próprio, está, mais do que nunca, presente na minha vida.
Para onde estou voltando?

Espero um dia ter a resposta para as maiores perguntas que assombram a minha vida.
Existe lar? E se existe, onde fica?

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Sinos da Igreja

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Sinos da igreja 
Cores do fim de tarde, iluminando minha mesa
Raios de fim e de começo 
(O amor acaba, mas há esperança)
Brisa leve...
Pensamentos explodindo da minha cabeça em estado de enxaqueca 
Faz parte 
Vai passar.

A certeza de que o amor acaba 
A certeza de que outros começam 
As incertezas da vida  
Nada segue em linha reta 
Não andamos em asfalto liso 
Ninguém é tão ruim, ninguém é tão bom.

Mas ainda bem 
Existem os recomeços 
Existe o café do fim de uma tarde de fevereiro 
Nos raios do fim do dia 
No escuro do começo da noite 
Eu sobrevivo.
A vida continua e eu sigo em frente 
Andando descalça nessa terra esburacada 
Chamada vida.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Folhas secas

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É isso.
É isso o que nós somos... Poeira e folhas secas.
Somos as folhas que voam quando o motor dos ônibus dão a partida
Somos essas folhas e essa poeira que são vistas apenas porque causam incômodo
Estes somos nós.

Talvez eu não devesse falar por você...
Talvez. 
Mas eu falo, porque sou eu
É a minha vida também. 
Somos folhas caídas da mesma árvore 
De uma vida compartilhada que acaba no outono 
Estes somos nós.

Não se engane achando que nada acontecerá porque é verão
O sol quente queima as folhas e as deixa sem forças 
Estes somos nós.
Nada dura pra sempre, segurança é ilusão 
E mais uma vez, estou no outono da minha vida 
Em processo de renovação
Morta... Voltarei a vida quando estiver pronta.
Mais forte, sem você
Porque morremos nesse outono 
Pra retornar em verões de hemisférios diferentes

Agora, sou folha seca 
Mas logo serei flor novamente.  

domingo, 22 de janeiro de 2017

Desventuras em série

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Não, ninguém vai parar esse trem.
Há mais de duas décadas ele corre na mais alta velocidade, desgovernado.
Vai de acordo com a direção do vento:
Sendo um elemento da natureza, jamais a contraria. 
E essa é sua natureza
É correr e descobrir e redescobrir 
O que todos pensavam que não existia 
Ou que havia acabado.
 
Esse trem vai, vai, vai...
Tem gente que embarca no caminho e vai embora depois 
Às vezes ele corre pelas noites sozinho até encontrar alguém novamente 
Às vezes ele finge que não viu ninguém, porque não quer parar 
Esse trem está mudando constantemente 
Me lembra a vida
Essa vida que não podemos controlar 
Assim como não controlamos um arrepio na nuca durante um solo de guitarra 
Ou um beijo. 

Não, não dá pra controlar a natureza 
Não há início nem fim
Há apenas o que há 
E tantas outras coisas desconhecidas 
Como essa série de desventuras 
Chamada vida.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Terça-feira de maio

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Quantos anos já passaram desde que eu nasci naquela terça-feira de maio? Às vezes parecem séculos.
Os outdoors nas ruas desejam boa sorte e comemoram a chegada de 2017, como se a vida tivesse mudado magicamente entre 23:59 e 00:00.

Não.

Mas com certeza a vida mudou radicalmente inúmeras vezes desde aquela terça-feira de maio.
Antigamente as casas eram cheias de paredes e portas. As pessoas tinham muito a esconder, porque cada coisinha fora da “moral e bons costumes” era condenável. As pessoas queriam distância e privacidade em seus casamentos infelizes e enjaulados, as pessoas queriam a sensação de separação, mesmo que fosse só uma ideia criada por uma parede, uma “pequena morte” talvez.
Hoje em dia, quando se compra uma casa antiga cheia de paredes desnecessárias, a maioria das pessoas quer demolir tudo. Porque hoje em dia existe o conceito de ambiente aberto, para que assim haja uma visão completa da casa sem necessariamente ter que ficar do lado dos outros. É uma solidão envergonhada de admitir que é solitária, é a necessidade extrema de estar com o outro, nem que seja apenas para ter uma visão com uma distância de dois metros.
Eu quero comprar uma casa com um ótimo ambiente aberto, mas quero uma parede grossa, uma porta grossa, uma fechadura forte no meu quarto. Não quero invasores, não quero revelações, tampouco manter segredos, do que preciso mesmo é da noção de compartilhado e privado que as pessoas parecem ter deixado de entender.
Eu fui uma vez parte da minha mãe, um terceiro braço, o coração do lado de fora, os dois mundos eram praticamente apenas um e não existia qualquer tipo de separação. Era um programa do Animal Planet.
Sim, muita coisa mudou desde aquela terça-feira de maio.
Cresci com a noção de que sou minha e apenas minha, e o que qualquer pessoa enxerga na superfície não revela nem metade do quebra-cabeça que eu sou, e nunca revelará. Bom pra elas, e um trabalho eterno pra mim, pois quem pode dizer que se conhece completamente e que não falta nada, e que nada mais o surpreende, não é da Terra. Ou pelo menos não da minha realidade.
Quem eu sou, quem eu fui, quem eu irei morrer um dia, são verdades minhas, são casas antigas cheias de paredes e portas desnecessárias querendo ser espaços abertos e grandes, querendo se livrar dos pequenos cômodos entupidos do que não importa mais.
Mas a vida é a vida, e ela não acontece do jeito que queremos.
Tenho certeza que naquela terça-feira de maio eu planejei coisas completamente diferentes das que hoje compõe minha realidade.
E se um dia fui 10 de maio de 1994, às 18:48 da noite, hoje em dia sou apenas uma terça-feira de maio.