Game Over

Recebi a notícia.

Foi como um soco.

Chorei.

Me recuperei.

O soco foi no meu mundo 

Que há muito tempo estava perfeitamente em ordem.

Tremi. 

Precisava. 

Há muito tempo me sentia envenenada. 

Paralisada. 

E agora, pela primeira vez desde sei lá quando

Começo a sentir, finalmente, o veneno indo embora.

 

Pouco a pouco

Tudo começa a fazer sentido. 

E meu sorriso, até então perdido, começa a dar sinais de volta 

Recebi a notícia. 

Foi como um soco. 

Chorei

Mas agora estou rindo.

Depois que recebi a notícia, pensei 

"Deus, que dia!"

Que final.

"Quem diria!"

Mas na realidade, já esperava. 

Eu já sabia que o tempo estava pra mudar.

Últimos capítulos.

Minha tela já desligou, e eu tô descobrindo como sair de dentro dela.

Que vida. 

Vai melhorar.

Ta acabando.

Meu mundo tá dolorido de um roxo vivo 

De um soco que eu precisava levar.

Recebi a notícia. 

Chorei.

De alívio. 

Roda gigante do tripudiamento

Cheguei do trabalho e não quero me olhar no espelho. 

Não quero acender as luzes, nem escutar a voz de ninguém, nem forçar um sorriso. 

Cheguei do trabalho e quero a opção de desaparecimento. 

Porque eu estou cansada.

Meus pés estão cansados

Descalços e cheios de calos 

Inchados e melancólicos 

De quando se cansavam apenas de brincar no chão de barro da rua que costumava ser minha.

Eu estou cansada

Esgotada

Não quero mais ter que pensar "E agora?"

Não quero mais ter que enlouquecer pelos mesmos assuntos estressantes que me esgotam 

E me matam um pouco mais a cada dia.

Não quero mais tentar tirar leite de pedra (que tiro dando meu próprio sangue) 

Não quero mais saber 

Não quero mais me forçar a acordar pra uma vida de sacrifício agora, para alegria do futuro

Eu quero ser feliz.

E eu quero AGORA.

Todos aqueles planos de morar fora

De ter uma vida admirável para meus netos 

De lembranças de loucura da juventude 

Tudo isso parece tão distante 

Pois eu, estou cada vez mais longe dos pés descalços no barro 

E de todos esses sonhos 

E mais próxima de uma morte súbita pela rotina 

E por essa sociedade que romantiza o esgotamento 

Do jovem

Do velho 

E de quem ainda nem nasceu.

Mas desistir não é uma opção 

É preciso morrer para dar lugar ao robô 

Que não precisa dormir, nem comer, nem viver 

Até que um dia, não restará nem mesmo a essência 

Do que costumávamos ser

E poderemos finalmente sorrir 

Por falta de consciência.

Cheguei do trabalho e não quero me olhar no espelho 

Porque estou cansada

Porque estou esgotada

Até de mim. 

Tradução

Continuo escrevendo

E continuarei enquanto existirem ventanias dentro de mim

(e sempre existirão) 

Escrevo porque não consigo imaginar uma vida sem isso 

Escrevo pra memorizar minha rua, 

Minha voz, 

Minha cozinha, 

Minha imagem no espelho, 

A luz do meu quarto, 

Meu furacão interno.

Escrevo enquanto não vou embora 

E vou escrever quando for também. 

Escrevo porque a vida é curta e preciso me lembrar de tudo, eu quero lembrar de tudo... 

Das cicatrizes, dos sorrisos, do tempo perdido, do tempo encontrado.

Eu quero tudo e quero a mim desesperadamente. 

Escrevo porque é minha forma de cantar minha vida 

Escrevo porque ainda não descobri o que é a vida 

Escrevo pra descobrir quem sou

E pra onde vou 

Escrevo porque não devo explicações

Escrevo pois é só isso que me mantém em frente.