Eu não sou nada
Nasci numa das maiores periferias do mundo
Na favela mais nojenta que é o meu país
Que pensa que belezas naturais mascaram a lama que está na raiz
Eu não sou nada
Nasci brasileira, com o passaporte visado
Com grandes esperanças e muitos sonhos roubados
Não sou nada
Não me encaixo aqui, mas também não sou ninguém fora daqui
Sobrenomes europeus não significam nada
Quando na sua certidão está escrito
"Rio de Janeiro"
Quem é você? O que veio fazer aqui?
Pois eu, eu te digo
Não sei o que estou fazendo aqui, sei apenas que nasci no meio do nada
No meio do nada, vergonha no mapa, piada interna e externa
Não sou nada
Na nossa lama, a gente se encontra
Na ilusão de que tudo está bem, lutamos por um pouco mais de grana
Batons vermelhos não podem disfarçar a pobreza
De ter nascido num país sem identidade
Somos todos vira-latas
Apaixonados e alienados.
Somos brasileiros suados no eterno calor, em busca de algum amor.
Eu não sou nada.
Mas você também não é nada
E juntos vivemos como podemos
Vivendo pela ilusão de que tudo será melhor um dia.
É como viver dormindo
Um dia dou o fora daqui...